Orientação sexual e identidade de gênero. Esses são dois conceitos diferentes, mas que muitas pessoas ainda têm dificuldade de diferenciar. Na verdade, cada um está associado à experiência, vivência, sexualidade e identificação dos indivíduos, porém de maneiras distintas.

Compreender os termos é essencial para respeitar a diversidade de todos os indivíduos, quebrar alguns preconceitos que ainda permeiam nossa sociedade e promover mais autoconhecimento e amor próprio para aquelas pessoas que ainda estão se descobrindo.

O que é a sexualidade humana?

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a sexualidade é expressada na forma de sentir, nos movimentos das pessoas e como estas tocam e são tocadas. Ou seja, trata-se da atração física e afetiva que sentimos por outras pessoas, com quem temos relações sexuais.

No entanto, é importante enfatizar que a orientação sexual também pode ser definida no caso de pessoas que não têm relações sexuais, como as assexuadas. Outra questão importante a ser ressaltada é que a sexualidade humana não é uma escolha, portanto o termo opção sexual é incorreto. 

A explicação provém do fato de que ninguém “opta” ou “escolhe”, conscientemente, por sua orientação sexual. Assim como o heterossexual não escolheu essa forma de desejo, o homossexual, bissexual, entre outros, também não o fez.

Esta é uma parte integral da personalidade dos indivíduos, construída ao longo de toda a vida, através das relações com o outro. Seu desenvolvimento depende de necessidades básicas, como desejo de contato, intimidade, expressão emocional, prazer, carinho e amor. Saiba mais sobre todas as sexualidades:

Orientação sexual

Confira abaixo todos os tipos de sexualidade:

  • Heterossexual

Uma pessoa heterossexual se sente atraída sexual, emocional ou afetivamente por pessoas do gênero oposto ao seu. Normalmente, os indivíduos não precisam ter experiências sexuais com pessoas do outro sexo para se identificar como tal.

  • Homossexual

Uma pessoa homossexual se sente atraída sexual, emocional ou afetivamente por pessoas do mesmo sexo (ou gênero). O termo homossexual pode se referir a mulheres homossexuais (lésbicas) ou homens homossexuais (gays).

  • Bissexual

Uma pessoa bissexual pode se sentir atraída por pessoas de ambos os gêneros feminino e masculino de maneira emocional, afetiva ou sexual. Diferentemente do que muitos imaginam, essa atração se manifesta de formas diferentes em cada pessoa. 

Enquanto para alguns indivíduos, pode haver uma preferência maior por um gênero, para outros essa atração pode ser equivalente ou fluida.

  • Assexual

Os assexuais são as pessoas que não sentem atração sexual, seja pelo sexo oposto ou pelo mesmo sexo — o que não significa que não possam desenvolver sentimentos amorosos e afetivos por outras pessoas.

É uma orientação sexual que rejeita a noção de dois gêneros, o que significa que podem desenvolver atração física, amor e desejo sexual por outras pessoas independentemente de sua identidade de gênero ou sexo biológico.

Como é a sexualidade nas diversas fases da vida?

As fases da sexualidade, junto ao desenvolvimento psicossexual, é o tema abordado em “Três ensaios sobre a Teoria da Sexualidade”, uma obra lançada em 1905, por Sigmund Freud. 

Segundo ele, a sexualidade é uma “força motriz que impulsiona para o desenvolvimento da perversão e da neurose”. Confira mais sobre isso:

Infância

  • Nascimento até doze meses

A primeira etapa, denominada como fase oral, ocorre desde o nascimento aos doze meses de vida. Neste momento, a zona de erotização é a boca, as atividades prazerosas são em torno da alimentação (sucção). 

Quando o bebê aprende a associar a presença da mãe à satisfação da pulsão da fome, a mãe vem a ser um objeto à parte, ou seja, o bebê começa a diferenciar entre si próprio e os outros.

  • De 1 a 3 anos

Neste período, ocorre a fase anal, onde o prazer está no ânus. O principal foco está no controle da bexiga e evacuações. Ao desenvolver esse controle, a criança passa a ter um sentimento de realização e independência.

Nessa fase a criança tem que aprender a lidar com a frustração do desejo de satisfazer as suas necessidades, de forma imediata.

  • De 3 a 5 anos

Na fase fálica, a libido tem foco nos órgãos genitais. Nela, as crianças também começam a descobrir as diferenças entre o masculino e o feminino. O prazer e o desprazer estão centrados na região genital.

Durante os anos da segunda infância, quando a maior parte dos jovens prefere passar o tempo com membros do seu próprio sexo, as crianças são indiferentes ou hostis aos membros do outro sexo. 

Mais tarde, como resultado das mudanças provocadas pela puberdade, os jovens passam a desenvolver a atração.

  • De 5 anos até a puberdade

O período de relativa calma na evolução sexual é chamado de fase de latência. Nela, os interesses da libido são suprimidos.

Adolescência

Na fase genital que tem início na puberdade, o indivíduo desenvolve a capacidade de obter satisfação sexual com um parceiro.

O marco principal da puberdade para os homens é a primeira ejaculação, que ocorre em média aos 13 anos. Para as mulheres, é o início da menstruação, que ocorre em média entre 12 e 13 anos.

Fase adulta

Segundo os autores Nelson Vitiello e Isméri Conceição, a fase adulta é o período do apogeu da sexualidade do indivíduo, que já se encontra suficientemente maduro e seguro para estabelecer sólidos vínculos afetivos e usufruir de relações sexuais mais prazerosas. 

Além disso, a maturação, que chega em diferentes épocas para diferentes pessoas, é atingida mais frequentemente durante a fase de “adulto jovem” (até os 30 anos) ou no final dela.

A partir dos 60 anos

Apesar de ser considerada um tabu, a sexualidade continua latente na terceira idade, apenas com algumas mudanças. De acordo com os autores mencionados acima, os homens, por exemplo, apresentam episódios mais espaçados de desejo, podendo sofrer de impotência sexual, com ereções mais demoradas e menos firmes. 

As mulheres, após a menopausa, apresentam lubrificação vaginal menos intensa e de mais demorado aparecimento, evento que pode ser corrigido com o uso de lubrificantes locais. Os orgasmos, embora mais curtos, têm a mesma intensidade daqueles experimentados pelas mulheres mais jovens.

O que é educação sexual?

A educação sexual é um meio de ensinar e esclarecer questões relacionadas ao sexo, sem preconceito e tabus. Segundo a psicóloga Solange Secco, a importância da educação sexual consiste em preparar os adolescentes de forma segura. 

“Favorece a capacidade de cuidado com o próprio corpo, sendo uma das formas de prevenir e enfrentar abusos sexuais, contração de doenças sexualmente transmissíveis, ou gravidez precoce e indesejada”, afirma.

“O diálogo sobre a sexualidade com crianças e adolescentes envolve o esclarecimento sobre abusos sexuais, autocuidado, consentimento, bem como sobre a vida sexual; o aparelho reprodutivo, doenças sexualmente transmissíveis, métodos contraceptivos, ou seja, conteúdos que possibilite às crianças e adolescentes compreender de forma clara seu próprio corpo e os possíveis riscos associados ao mesmo”, explica.

Solange alerta que é necessário considerar as fases de desenvolvimento em que as crianças e adolescentes se encontram, e qual a sua capacidade de compreensão para o tema. 

“Por exemplo, a infância é uma fase onde é importante ensinar à criança os limites que devem existir com o próprio corpo e o lúdico pode ser uma eficaz ferramenta para esclarecer essa temática. Já na adolescência, onde a sexualidade está aflorada, é importante ter um diálogo sobre a vida sexual, que sane todas as dúvidas que possam surgir em torno do tema”, disse.

Identidade de gênero

A sigla LGBTQIA+ não engloba somente a orientação sexual, mas também a identidade de gênero das pessoas. Trata-se do sentimento que todo ser humano tem sobre si, sua percepção de ser homem ou mulher no mundo. É uma experiência interna e individual, que pode ou não corresponder àquela atribuída ao seu sexo biológico.

A identidade de gênero pode envolver, por livre escolha, modificação da aparência ou função corporal (por meios médicos, cirúrgicos e outros) e outras expressões de gênero, como a forma de se vestir. 

  • Cisgênero

O termo cis é utilizado para descrever pessoas que se identificam, em todos os aspectos, com o gênero que lhe foi atribuído ao nascer. Ou seja, indica o indivíduo cuja identidade ou expressão está em conformidade com a categoria de gênero que lhe foi atribuído (homem ou mulher).

  • Transgênero

Já o termo trans (ou transgênero) é usado para pessoas cuja identidade de gênero, expressão ou comportamento de gênero não se conformam com o que lhes foi atribuído ao nascer. E isso nada tem a ver com a orientação sexual da pessoa.

Dentro dos transgêneros, estão inclusos os transexuais e as travestis.

  • Transexual

Diz respeito ao homem ou mulher que se identifica com o gênero oposto. Para se adequarem ao gênero com o qual se identificam, essas pessoas fazem tratamentos hormonais para alcançar a aparência desejada, modificar a voz e, com autorização psiquiátrica, realizar a cirurgia de redesignação sexual e outras intervenções cirúrgicas que forem necessárias.

  • Travesti

A travesti nasce em um corpo masculino e identifica-se com a figura feminina. Muitas travestis não passam por cirurgias de redesignação sexual, mas algumas optam por colocar implantes nos seios. Elas adotam o visual feminino em seu cotidiano.

Muitas pessoas confundem drag queens com travestis. As travestis levam a identidade feminina para a vida pessoal. Já as drag queens são personagens, uma expressão artística de homens que se montam (expressão usada para a transformação com vestimenta, maquiagem e acessórios) para atuar, cantar ou desfilar.

  • Outras identidades: Não-binário, Queer e Intersexual

A pessoa não-binária não adota rótulos de gênero. Ela pode apresentar características masculinas, femininas ou as duas, mas não se denomina “homem” ou “mulher”. 

Já o ser humano que se identifica como queer também não se vê sendo 100% homem ou 100% mulher, mas sim como um terceiro gênero, fluido, com características masculinas e femininas. Além disso, não vêem sua orientação sexual definida como hetero ou homossexual.

Por fim, a intersexualidade descreve as pessoas que podem nascer com genitais correspondentes a um sexo, mas ter o sistema reprodutivo e os hormônios do outro. Ou podem apresentar uma anatomia sexual que não é nem masculina nem feminina — o que leva alguns intersexos a fazer a cirurgia de redesignação sexual.

No passado, essas pessoas eram chamadas erroneamente de hemafroditas, termo que não é mais socialmente aceito.

Disfunções sexuais: como a terapia pode ajudar

As disfunções sexuais podem surgir por fatores biológicos, hormonais, sociais ou psicológicos e causam perturbações na qualidade de vida sexual do indivíduo ou do casal.

Alguns fatores psíquicos que podem afetar a sexualidade são: 

  • Preconceitos
  • Ansiedade
  • Depressão
  • Estresse do casal ou individual
  • Falta de comunicação eficaz
  • Falta de conhecimento sobre o próprio corpo
  • Trauma de alguma relação sexual passada
  • Falta de educação sexual

No caso dos homens, alguns problemas comuns são ejaculação precoce e disfunção erétil. Já as mulheres podem desenvolver o vaginismo (dor na hora da relação sexual) e a dispareunia (dor intensa na relação sexual, logo após o ato).

Nessa fase, a terapia sexual pode ser útil para ajudar tanto os casais como um dos parceiros a entenderem mais sobre a própria sexualidade, prazer e dificuldades com a libido.

Já a terapia cognitivo-comportamental também pode colaborar. Através do atendimento de casal ou individual, o psicólogo pode auxiliar na identificação da dificuldade enfrentada e no estabelecimento, em conjunto com o paciente, de estratégias para lidar com o problema.

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Referências:

VITIELLO, Nelson e CONCEIÇÃO, Isméri Seixas Cheque. Manifestações da Sexualidade

nas Diferentes Fases da Vida. Disponível em: https://www.rbsh.org.br/revista_sbrash/article/view/843

COSTA, Elis Regina da e OLIVEIRA, Kênia Eliane de. A Sexualidade Segundo a Teoria Psicanalítica Freudiana e o Papel dos Pais Neste Processo. Disponível em: https://www.revistas.ufg.br/rir/article/view/20332

ANJOS, Gabriele dos. Identidade sexual e identidade de gênero: subversões e permanências. Disponível em: https://www.scielo.br/j/soc/a/GLXn5cWf64fBJNRxdv7X5kK/?lang=pt&format=pdf