O processo de autoconhecimento na sexualidade pode parecer desafiador e muitas pessoas não entendem a origem de seus desejos. Devido a diversos tabus, muitos indivíduos não se sentem confortáveis nas relações sexuais.

Uma forma de se aprofundar nessa jornada, conhecer o próprio corpo e atingir o prazer é entender seus fetiches sexuais. Confira tudo que você precisa saber sobre isso:

O que é fetiche?

O fetiche sexual consiste na excitação, prazer, ou até orgasmos por meio de uma fantasia sexual, objeto material ou uma parte do corpo. Cada indivíduo pode se sentir atraído por um determinado local, objeto, estilo, postura, comportamento, vestimenta ou até características físicas.

Muitas pessoas se perguntam o que significa fetiche. A palavra tem origem francesa, do termo fétiche, e pode significar um objeto enfeitiçado. No sexo, o fetiche é sempre uma forma de se libertar dos padrões e todos são válido, desde que não sejam ilegais ou não acabem afetando negativamente outras pessoas.

Quando é saudável incluir fetiches nas relações sexuais?

É comum que os fetiches sexuais sejam mais aplicados, na prática, entre casais que possuam um relacionamento fechado e estão buscando inovar, seja na posição sexual ou até para apimentar a transa.

Porém, essa experiência pode ser aplicada também durante o sexo casual ou um sexo sem compromisso. Isso porque em toda relação, seja no sexo vaginal ou masturbação, por exemplo, é essencial que um busque entender os desejos do outro, ainda que não partilhem dos mesmos.

O fetiche pode ser incluído nas relações desde que seja sempre consciente e consensual, respeitando o prazer e limites do parceiro ou parceira. Ou seja, desde que não faça mal à outra pessoa, não provoque sofrimento, não gere conflito.

Vale muito a pena que cada um traga para a relação conteúdos relacionados ao seu fetiche, como uma forma de iniciar uma conversa descontraída, para se educarem para os desejos do outro. Isso pode ser feito através de vídeos, textos ou filmes.

Tipos de fetiche: conheça os mais comuns

Uma pesquisa realizada pelo site Vivalocal mapeou uma lista de fetiches com os mais procurados pelos brasileiros no Google durante o ano de 2020. Confira:

BDSM

Sigla para Bondage, Disciplina, Dominação, Submissão, Sadismo e Masoquismo, o BDSM é um fetiche que se baseia numa relação de hierarquia e obediência. Algumas pessoas gostam de dominar, prendendo o(a) parceiro(a) com algemas, usando vendas nos olhos e provocando seus sentidos.

Já outros preferem ser dominados. Nesta prática, a dor também circula entre o prazer (com tapas, chicotadas suaves, puxadas no cabelo, uso de cera de vela derretida, entre outros). Existem, ainda, pessoas que gostam de receber punições durante o sexo, ao modo dos serviços de uma dominatrix (profissional que castiga homens).

Nesta prática, é necessária muita confiança e não tem nada a ver com violência, estupro ou atentado ao pudor. Ao contrário, para ser realizado, são estabelecidas diversas regras (limites, palavras de segurança) para que seja prazeroso para todos.

Cuckold

Há pessoas que se sentem excitadas não só em serem traídas, mas em assistir seus parceiros transando com outras pessoas. Trata-se de uma vertente masoquista.

A experiência pode acontecer de diferentes maneiras. O indivíduo pode gostar de ver o ato acontecendo (o que é comum em casas de swing, por exemplo), acompanhar remotamente (por meio de ligações, vídeos e mensagens) ou simplesmente saber o que e como aconteceu.

Fantasias

Se vestir de bombeiros, policiais, enfermeiras, colegiais… são muitas as fantasias sexuais que estão inseridas no imaginário erótico das pessoas mundo afora. Para além de uma brincadeira para esquentar a relação, as fantasias são levadas a sério por muitos fetichistas.

Swing

O swing, que significa troca entre casais, é um dos fetiches mais conhecidos, inclusive em relacionamentos abertos. A procura é tanta que alguns sites e grupos em redes sociais existem apenas para reunir seus praticantes.

Látex/Couro

Esse fetiche está relacionado a quem sente prazer sexual quando seus parceiros usam látex, borracha, vinil ou outros materiais brilhantes e apertados. Para outros, simplesmente o cheiro ou a sensação do látex é suficiente para excitação.

Esse desejo muitas vezes envolve vestir-se com o material, observar parceiros vestidos com ele ou fantasias sobre indivíduos que usam látex próximo à pele, como mergulhadores e trabalhadores vestindo roupas de proteção industrial.

Fetiche por pés

Outro fetiche muito comum é a podolatria, que consiste na adoração e atração por pés. O indivíduo que tem esse desejo costuma responder eroticamente aos pés da mesma forma que ocorre com nádegas ou seios, para alguns.

O uso dessa parte do corpo para estimular a genitália costuma ser extremamente prazeroso para quem tem esse fetiche, mas nem todo mundo é receptivo à ideia de ter seus pés como alvo de desejo. Por isso, falar sobre o assunto de forma tranquila e leve é essencial para entender até onde o seu parceiro ou parceira se sente confortável para explorar a ideia.

O psicólogo do Zenklub, Sulivam Vicente Pereira Lima lista ainda outros fetiches:

Altocalcifilia

O prazer aqui se concentra em ver alguém de salto, principalmente quando isso se dá na relação sexual. Não apenas usar o salto, mas o outro deve pisar no fetichista, fazendo com que esse sinta prazer na dor.

Menage a trois

O sexo a três é um desejo comum e se trata do desejo de adicionar mais alguém ao ato sexual. Tanto a mulher como o homem podem manifestar esse desejo em ter mais de um parceiro ao mesmo tempo. Casos específicos se encontram quando a mulher ou homem deseja ver seu cônjuge transando com outra pessoa.

Oculofilia

É o desejo em lamber o olho do parceiro quando estão a sós.

Fornilha

Aqui o indivíduo finge que é parte da mobília, assumindo o papel de um móvel nas relações. Muitos acabam incorporando a mobília em si, como ser uma tábua de passar roupa, por exemplo.

Por que o fetiche ainda pode ser um tabu?

Segundo o psicólogo, o fetiche ainda é considerado um tabu para muitas pessoas devido ao modelo tradicional familiar que a sociedade construiu ao longo dos anos.

“O indivíduo nasce e constitui outras famílias diante de princípios éticos e valores religiosos, onde o sexo deve ser feito após o casamento e de forma menos invasiva. Quando se levanta a questão da obtenção de prazer através de outras formas, esse modelo familiar vê isso de forma pecaminosa, um ato criminoso”, afirma.

Quando um fetiche pode ser prejudicial?

Um fetiche não é um distúrbio, mas pode atingir esse nível se causar sofrimento intenso e duradouro. Em certos casos, o fetiche se torna tão extremo que se caracteriza como uma parafilia, uma patologia de natureza sexual.

Quando o fetiche é um distúrbio, ele parece fora de controle. Alguém pode desaparecer do trabalho ou de casa para praticar seu fetiche em segredo. Esse fascínio também pode impedi-los de fazer seu trabalho.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), para a prática sexual ser saudável, ela deve preservar o bem-estar biopsicossocial do ser humano. Ou seja, os comportamentos sexuais fetichistas só devem ser considerados patológicos quando afetam negativamente a vida do indivíduo e daqueles que se relacionam com ele.

Quer entender melhor um fetiche sexual?

Se o seu fetiche pode estar afetando sua vida social e sexual, é necessário um tratamento que inclua psicoterapia com um sexólogo, psicólogo ou psiquiatra. Além disso, caso você queira entender melhor sua sexualidade e seu desejo, a ajuda de um profissional pode ser muito benéfica.

O Zenklub é uma plataforma que reúne mais de quatro mil especialistas em saúde mental para te ajudar.

Referências:

MELLO, Carlos Antônio Andrade. Um olhar sobre o fetichismo. Disponível em: http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-73952007000100010

CAMPOS, Denise Teles Freire. Fetichismo e subjetividade feminina. Disponível em: https://www.scielo.br/j/rlpf/a/5nhhXzQgCzMK8tSK9XKXNHc/?format=pdf&lang=pt