A esquizofrenia é um dos transtornos mentais mais conhecidos e hoje afeta 1% da população mundial. A primeira vista esse dado pode parecer pequeno, mas o que realmente importa é que precisamos entender sobre esse tipo de transtorno mental para que possamos nos informar e, principalmente, entender como recorrer a uma ajuda de um especialista em caso de necessidade.
Nesse artigo vamos entender o que é esquizofrenia, como ocorre, quais os principais sintomas, os tipos e como acontece o tratamento.
O que é esquizofrenia?
A esquizofrenia é um transtorno mental grave que interfere intensamente no modo como a pessoa pensa, sente e se comporta socialmente. Essa desestruturação psíquica, apresentam sintomas como alucinações, delírios, dificuldades no raciocínio e alterações no comportamento como indiferença afetiva e isolamento social.
Em outras palavras, a pessoa com esse tipo de transtorno psiquiátrico tem perda de noção da realidade e dificuldades de entender a diferença entre o imaginário e o que é real. Por isso, a principal característica dessa condição é a perda do contato com a realidade, ouvindo e vendo coisas que, na verdade, não existem para mais ninguém.
É bom saber, que a esquizofrenia não é extremamente perigosa e nada tem a ver com dupla personalidade, além disso, com o diagnóstico garantido é possível ser tratada e apresenta resultados graduais que transformam a vida dessa pessoa em algo dentro da normalidade.
Dados históricos e atuais
A esquizofrenia foi descoberta e conhecida como demência precoce, pelo então psiquiatra alemão, no século XIX, Emil Kraepelin. Já no século XX, ela passou a ser então conhecida como esquizofrenia, graças ao psiquiatra suíço Eugen Bleuler, que após estudos sobre o caso, acreditou que a antiga nomenclatura era inadequada para a doença mental.
Hoje, muitos estudos foram feitos e segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), a doença atinge homens e mulheres a partir do começo da vida adulta, mas mais especificamente até o começo dos 20 anos em homens, e entre os 20 e 30 anos entre as mulheres. Além disso, a esquizofrenia é considerada a terceira causa entre doenças que implicam na perda da qualidade de vida entre pessoas de 15 a 44 anos de idade.
O perigo dessa incidência nessa faixa etária mais jovem é que a doença é facilmente confundida com crises existenciais, egoísmo e revolta contra as normas e sistemas impostos, o que dificulta ainda mais o diagnóstico e o sucesso do tratamento.
Tipos de esquizofrenia
Hoje se fala em 6 tipos diferentes de esquizofrenia, conheça:
Esquizofrenia simples: apresenta transtornos de personalidade levando ao isolamento, dispersão e a indiferença de afeto. Nesses casos é comum que haja mais sintomas negativos do que positivos e, por isso, tende a ser um tipo com evolução mais rápida;
Esquizofrenia paranoica ou esquizofrenia paranoide: é caracterizada pela fala confusa e a falta de emoção, e pode apresentar com grande frequência quadros de alucinação, perseguição e delírios;
Esquizofrenia hebefrênica ou esquizofrenia desorganizada: é percebido um comportamento mais infantil, respostas emocionais inadequadas e pensamentos sem sentido;
Esquizofrenia catatônica: é o tipo mais raro e se caracteriza por um quadro de apatia, que pode levar o esquizofrênico a ficar por horas em uma mesma posição ou ter seus movimentos e fala reduzidos;
Esquizofrenia residual: é mais comum em pessoas com histórico de doença mental, e podem manifestar alterações no comportamento, nas emoções e na interação social, mas não com a mesma frequência dos outros tipos;
Esquizofrenia indiferenciada: apresenta características dos outros tipos mas não se encaixa inteiramente em nenhum deles, podendo demonstrar qualquer uma das ações acima.
Causas da esquizofrenia e os fatores de risco
Assim como muitas outras doenças mentais, as causas específicas da esquizofrenia ainda são incertas. Porém, pesquisas feitas ao longo dos anos concluíram que a genética quanto os fatores ambientais têm, cada um, 50% de responsabilidade no surgimento da esquizofrenia.
Na genética, o que se sabe é que a esquizofrenia está relacionada a alterações bioquímicas no cérebro e que a hereditariedade é um fator de alerta: parentes de primeiro grau de um esquizofrênico têm maior chance de desenvolver a doença do que as pessoas em geral.
Já as maneiras de como o ambiente pode provocar o aparecimento dessa doença mental são um pouco mais delicadas de se analisar. Mesmo assim, estudos relacionando os períodos de desenvolvimento cerebral de uma pessoa à esquizofrenia, conseguiram determinar alguns fatores ambientais de risco:
Período Pré-Natal:
- Viroses na mãe, principalmente, no segundo trimestre de gravidez;
- Acontecimento de alto impacto na vida emocional da mãe;
- Gravidez indesejada;
- Desnutrição materna;
- Depressão durante a gravidez.
Período Neonatal:
- Complicações na gravidez ou na hora do parto;
- Crescimento ou desenvolvimento anormal do feto;
- Falta de interação entre mãe e filho;
- Perdas emocionais precocemente.
Primeira Infância:
- Infecções no sistema nervoso como meningite, encefalite ou sarampo.
- Traumas fortes, como abuso físico e sexual;
- Experiência psicológicas negativas.
Adolescência
- Uso de algumas drogas que podem provocar pequenas alterações no cérebro, como maconha e LSD.
Quais os principais sintomas de pessoas com esquizofrenia?
Separamos alguns comportamentos distintos que podem ajudar você a identificar em alguém o aparecimento da esquizofrenia, mas vale lembrar que em cada pessoa esses sintomas podem ser mais intensos ou não:
- Ver ou ouvir coisas que não existem;
- Sentimento constante de estar sendo vigiado;
- Sentir profunda indiferença diante de situações importantes;
- Queda drástica de desempenho nos estudos ou trabalho;
- Mudanças visíveis na higiene pessoal e na aparência;
- Isolamento social;
- Respostas irracionais, como medo ou raiva da família e amigos;
- Dificuldade de dormir, insônia e de se concentrar;
- Interesse extremo por ocultismos ou religião;
- Comportamentos que parecem estranhos e inapropriados em situações sociais.
Agora que listamos alguns sinais para identificar o surgimento da esquizofrenia, vamos explicar um pouco os principais grupos de sintomas que interferem no dia a dia dos esquizofrênicos. Eles são divididos em sintomas positivos, sintomas negativos e sintomas cognitivos:
Sintomas positivos da esquizofrenia
São os comportamentos que não vemos em pessoas saudáveis e que fazem o esquizofrênico apresentar perda de noção e de aspectos da realidade:
- Alucinações: É tudo o que o esquizofrênico vê, ouve e sente que não existe, apesar de parecer muito real. A alucinação mais comum é a de ouvir vozes, sendo que muitas pessoas esquizofrênicas conversam e fazem atividades com essas vozes;
- Delírios: É uma crença convicta do esquizofrênico mas que não é compartilhada por outros pessoas. Muitas pessoas com essa doença têm a certeza de que são alvos de alguma perseguição ou espionagem;
- Pensamentos desordenados: Por causa das alucinações e delírios, muitos esquizofrênicos têm dificuldades em organizar seus pensamentos e ações, o que também interfere na comunicação com as pessoas;
- Distúrbios do movimento: pessoas com esquizofrenia podem apresentar movimentos desordenados ou agitados de repente e sem motivo aparente.
Sintomas negativos da esquizofrenia
São sintomas da fase crônica da doença e podem ser exemplificados pela falta de emoções e comportamentais considerados “normais”:
- Não expressar afeto: Não significa que o esquizofrênico não tenha sentimentos e sim que tem dificuldades para demonstrar a empatia, ou seja, entender emoções que o outro está sentindo;
- Perda de prazer na vida cotidiana: Mesmo que alguma atividade tenha dado, no passado, muito prazer à pessoa, a esquizofrenia reduz drasticamente essa sensação;
- Dificuldade em iniciar e manter atividades: Não é preguiça, mas para o esquizofrênico começar qualquer atividade torna-se extremamente desafiador. Muitos acabam escolhem atividades passivas, por não exigir grande esforço ou raciocínio;
- Compreensão e fala: Pensamentos e a comunicação podem perder uma lógica quando ditas pelo esquizofrênico. Nesses casos, para quem convive, é muito importante a tentativa de compreensão, para demonstrar apoio e acolhimento.
Sintomas cognitivos da esquizofrenia
São alterações no aprendizado, concentração e memória. Os principais aspectos são:
- Dificuldade de concentração: esquizofrênicos costumam ser mais distraídos que outras pessoas. Por não conseguirem focar 100% nas atividades, também têm dificuldades de compreensão;
- Problemas com a memória: muitas pessoas com esse transtorno esquecem coisas que lhe foram ditas há pouco tempo, por causa da necessidade de repetição, o aprendizado também pode ser afetado;
- Dificuldade de tomar decisões: pela dificuldade de raciocínio e incompreensão daquilo que lhe está sendo dito, o esquizofrênico costuma expressar poucas ou quase nenhuma decisão e, principalmente, de forma imatura.
Sintomas neurológicos da esquizofrenia
Alguns sinais de cunho neural podem ser observados:
- Tiques faciais;
- Movimentos mais desajeitados ou estabanados;
- Movimentos bruscos e descoordenados;
- Piscar dos olhos mais frequentes;
- Desorientação espacial.
Sintomas comportamentais da esquizofrenia
Alguns sintomas podem ser recorrentes em quadros de esquizofrenia, são eles:
- Suicídio: acontece na fase aguda e na crônica. É preciso estar atento a recorrência de reclamação por parte do esquizofrênico em relação às vozes e sintomas da doença. Cerca de 50% dos casos dessa doença cerebral crônica apresentam essa situação;
- Agressividade: é um pouco mais raro, mas acontecem surtos com ataques de fúria e reações impulsivas;
- Repetições: por serem reativos a mudanças, é comum apresentarem manias e hábitos repetitivos, de higiene e alimentação, por exemplo, muito semelhantes a pessoas com Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC);
- Atividades solitárias: conversas solitárias e risos imotivados, são comuns e acontecem de forma involuntária e automática por conta das vozes que o esquizofrênico escuta.
Esquizofrenia na adolescência
Como comentamos aqui, em caso de pessoas jovens, em especial adolescentes, fica mais difícil perceber o que é uma atitude comum para a idade e o que é sintoma de esquizofrenia.
Atitudes como problemas para dormir, irritabilidade, oscilações de humor, queda de desempenho na escola, afastamento de colegas e familiares e falta de motivação estão entre os principais sintomas.
A esquizofrenia tem cura?
Como mencionamos no começo, as causas ainda são incertas, mas com um tratamento adequado a partir do diagnóstico, essa doença mental pode ser bem controlada, permitindo que pessoas que sofrem desse transtorno levem uma vida produtiva e satisfatória.
Diagnóstico
Ainda não há exames que são capazes de captar e diagnosticar a esquizofrenia, mas psicólogos e psiquiatras podem fazer essa confirmação a partir da observação comportamental. Exames clínicos como de sangue e estudo de imagens, irão contribuir apenas para descartar outros tipos de doenças.
Entre os critérios que contribuem para a definição da doença, estão:
- Apresentação dos sintomas por 6 meses ou mais;
- Presença de pelo menos 2 sintomas típicos como a alucinação, delírios, fala desorganizada e sintomas comportamentais por pelo menos 4 semanas;
- Deficiência considerável em atividades produtivas e rotineiras, como as profissionais, domésticas ou escolares.
Como tratar os sintomas da esquizofrenia?
O tratamento da esquizofrenia é baseado em um conjunto de ações para amenizar os sintomas dessa doença, incluindo medicamentos, acompanhamento com um psiquiatra e um psicólogo em terapia:
Uso de antipsicóticos
Os antipsicóticos devem ser tomados apenas sob orientação médica. Eles ajudam a reduzir os desequilíbrios bioquímicos que causam a esquizofrenia e diminuem a probabilidade de recaída. Há dois grupos de medicamentos antipsicóticos:
- Antipsicóticos típicos (convencionais): controlam os sintomas “positivos” da doença, como alucinações, delírios e outras confusões mentais;
- Antipsicóticos atípicos (“de nova geração”): tratam tanto os sintomas positivos da esquizofrenia quanto os negativos.
Esses medicamentos podem apresentar efeitos colaterais como boca seca, sonolência, vertigens, constipação e visão borrada. Por isso, mais uma vez, esse tratamento só deverá ser feito com acompanhamento médico.
Acompanhamento psicológico
Fazer terapia é extremamente importante para o tratamento da esquizofrenia. O acompanhamento com um psicólogo ajuda o esquizofrênico a enfrentar os desafios cotidianos da doença e a buscar ativamente seus objetivos de vida, como ir para a faculdade ou trabalho. Algumas formas de terapia que podem ser muito benéficas no tratamento:
- Terapia individual: esse acompanhamento pode ajudar a pessoa esquizofrênica a normalizar seus pensamentos e a aprender a lidar com o estresse;
- Treinar habilidades sociais: é um acompanhamento para ajudar o esquizofrênico a melhor sua comunicação e interações sociais;
- Terapia familiar: essa é direcionada à família da pessoa que sofre de esquizofrenia. É muito importante para educar e apoiar os familiares sobre a doença.
Hospitalização
É bom ter conhecimento também, que em momentos de crise ou em casos da doença em graus severos, pode haver a necessidade de internação. Tenha sempre por perto o contato do psicólogo ou psiquiatra que acompanha o caso, para que a ajuda e a decisão de uma internação seja mais assertiva.
Terapia eletroconvulsiva
Assim como o cuidado com a medicação deve ser uma orientação médica, a terapia eletroconvulsiva também. Ela é indicada para casos em que não há resposta da medicação tradicional e se trata de mudanças na atividade elétrica do cérebro a partir da passagem de correntes elétricas.
Ajudando a si mesmo
Se você é uma pessoa com esquizofrenia, aqui estão algumas iniciativas que podem te ajudar a conviver melhor com os sintomas da doença:
- Controle o estresse: Como o estresse pode ser um gatilho para a psicose, tente mantê-lo sob controle;
- Durma bastante: Muitos esquizofrênicos têm problemas com sono, principalmente por causa do uso de medicamentos.
- Praticar exercícios físicos e evitar cafeína podem te ajudar com essa dificuldade;
- Evite álcool e drogas: Usar essas substâncias em excesso podem piorar seus sintomas e interferir na ação dos remédios;
- Mantenha relações sociais: Conservar contato com seus amigos e familiares é muito importante para o seu tratamento. Considere também participar de grupos de apoio especializados.
Como posso ajudar um esquizofrênico?
Essa questão é muito importante para pessoas, amigos ou familiares, que convivem com uma pessoa esquizofrênica. Isso porque tudo fica muito confuso para quem está por perto também, e a informação e algumas atitudes podem ser o seu principal aliado na hora de ajudar:
- Seja paciente e respeitoso: para o esquizofrênico, as alucinações parecem realmente ser parte da realidade. Converse calmamente com ele para explicar que você vê as coisas de um jeito diferente;
- Preste atenção em possíveis gatilhos: existem muitas coisas que podem provocar o aparecimento ou piora dos sintomas. Se você percebe um consumo excessivo de álcool, drogas e outros vícios, por exemplo, fique alerta e ajude a evitar esse hábito;
- Ajude-o a tomar os medicamentos: muitas pessoas com esquizofrenia perguntam sobre a necessidade dos remédios que tomam. Incentive seu amigo ou familiar a utilizá-los da maneira correta;
- Não há formas de prevenir a esquizofrenia: mas quanto mais rápido e cedo o diagnóstico da doença, melhor e mais eficiente será o tratamento e controle dos sintomas;
- Busque apoio psicológico: não é porque você não tem a doença que você não precisa de ajuda emocional. Nesse caso a terapia pode lhe ajudar a criar ferramentas e caminhos para lidar com as situações que afetam diretamente a sua vida.
Psicologia online
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