Transtornos alimentares: qual é a definição, causas, tipos, ajuda e tratamentos
Para esse post sobre transtornos alimentares, entrevistamos um dos nossos especialistas e reunimos as principais informações que você precisa saber sobre esse tema.
No primeiro mês do ano, levantamos a bandeira do Janeiro Branco, o mês da saúde emocional. Mas saber se cuidar é uma prática que devemos cultivar no ano inteiro! Afinal, com saúde física e mental podemos viver a nossa melhor versão e, assim, encontrarmos uma vida mais feliz!
Períodos como o verão fazem crescer a pressão estética por um “corpo padrão” ou um “corpo fitness”. Por conta disso, esses meses de festa são especialmente sensíveis para aqueles que sofrem de transtornos alimentares, pois eles passam a se ver com corpos inapropriados.
Com o recente desabafo corajoso de Taylor Swift sobre sua própria luta para se aceitar e superar seu distúrbio, esse debate cresceu e ganhou mais visibilidade. Então, entramos em contato com Heloise Mazzia, psicóloga clínica e especialista do Zenklub, que nos respondeu e orientou sobre o assunto.
O que são transtornos alimentares?
Segundo Heloise, são doenças psiquiátricas que, além de prejudicar a saúde e alimentação, afetam a maneira como a pessoa se vê. Sendo assim, está ligado a um transtorno de imagem.
E ainda completa:
A pessoa passa a ter pensamentos e emoções sobre sua alimentação e sobre a forma como vê seu corpo, afetando o seu dia a dia, e, também, suas relações sociais.
Por vezes, os transtornos alimentares literalmente mudam a forma como a pessoa se vê, ou seja, causam alucinações visuais (passa-se a observar algo que não condiz com a realidade como, por exemplo, um físico magro se torna acima do peso) acerca do próprio corpo.
O que é importante reforçar sobre os transtornos alimentares é que a pessoa entra em um duelo contra o próprio corpo, o que gera uma espécie de confusão e dilema interior. Tudo isso, é claro, gera grande angústia.
Nem todo transtorno alimentar é, por sua vez, de caráter restritivo evitativo. Em alguns casos, a condição tem como principal sintoma a compulsão alimentar e o que se nomeia “binge” (episódios em que se ingere grandes quantias de alimentos altamente calóricos de uma só vez).
O que causa os transtornos alimentares?
Não existe somente uma causa para o surgimento de uma doença psiquiátrica. Então, quando abordamos esses distúrbios, falamos de: fatores que predispõem, desencadeiam e mantêm o transtorno.
O que são fatores que predispõem os transtornos alimentares?
Esses são os fatores que indicam pessoas que têm uma chance maior de desenvolver a doença. Vale lembrar que isso não é uma regra. Por exemplo, Heloise destaca os seguintes que podem caracterizar pessoas com maior tendência:
- Ser do sexo feminino
- Problemas familiares
- Educação muito rígida
- Familiares com transtorno alimentar
- Outras doenças já diagnosticadas, como por exemplo depressão e transtorno de personalidade
- Baixa autoestima
- Autocrítica
- Influência da pressão estética e padrões de beleza
Quais fatores desencadeiam os transtornos alimentares?
A adolescência é um período sensível e que, por isso, pode motivar transtornos alimentares. Isso acontece por conta das mudanças que os jovens passam.
Sendo assim, Heloise comenta que esses transtornos partem de uma insatisfação com o próprio corpo, já que nessa fase os adolescentes buscam se adequar aos padrões de beleza. Assim, os jovens iniciam novos hábitos com dietas restritivas, que facilmente saem do controle podendo ser o gatilho para um transtorno alimentar.
Além disso, existem também os gatilhos psicológicos que geram transtornos alimentares, como por exemplo:
- Separação dos pais
- Abuso sexual infantil
- Bullying
- Perdas familiares
- Problemas escolares
Quais fatores podem ser responsáveis por manter os transtornos alimentares?
Segundo a Sociedade Brasileira de Diabetes, os fatores relacionados com o surgimento dos transtornos alimentares envolvem 3 grandes áreas, as quais podem estar concomitantes ou separadas. São elas:
Funções hormonais irregulares
Os hormônios regulam, dentre outras funções, a sensação de fome e saciedade do organismo.
Em casos de transtornos alimentares é possível que hormônios como a grelina e leptina, responsáveis por regular a ingestão calórica, estejam alterados.
Assim, é preciso recorrer a um endocrinologista para realizar o tratamento adequado para cada um dos tipos de transtorno alimentar.
Fatores psicológicos
Do ponto de vista psicológico, a doença traz uma sensação de controle sobre o próprio corpo que reflete uma baixa autoestima. Daí surge a necessidade do paciente de tentar, mesmo que usando maneiras extremas e não saudáveis, controlar o peso.
Já os ditos fatores ambientais estão relacionados à vivências familiares, meio social e determinadas carreiras nas quais há intensa valorização da imagem e do corpo. Exemplos incluem profissionais das seguintes áreas:
- Remo;
- Mergulho;
- Balé;
- Ginástica;
- Luta livre;
- Corrida de longa distância.
Qual é a diferença entre anorexia e bulimia?
Sobre anorexia e bulimia, primeiramente é preciso entender que ambos os transtornos têm como característica o distúrbio de imagem. Essa é uma condição que faz com que a recuperação seja ainda mais difícil.
Por outro lado, há diferenças importantes entre esses dois transtornos alimentares no que diz respeito ao padrão da alimentação. Para entender melhor vamos definir cada uma delas:
Anorexia
Frequentemente associada a mulheres muito magras, a anorexia pode, sim, levar a condições extremas de desnutrição que podem suscitar problemas de saúde potencialmente fatais.
Mas essa doença não é restrita somente a pessoas do gênero feminino e nem necessariamente leva a uma ultra magreza. Heloise explica que esse transtorno é definido por comportamentos, e não por traços físicos.
Sendo assim, essa doença é descrita por uma vontade de diminuir o peso com restrições alimentares, como jejuns longos. Isso pode causar desnutrição e piora preocupante na saúde.
Bulimia
A bulimia ficou associada à indução do vômito, que, de fato, é uma característica da bulimia. No entanto, a doença se dá, principalmente, com momentos de compulsão alimentar intercalados com métodos compensatórios e purgativos. Ou seja, a pessoa tem episódios em que se alimenta de forma compulsiva, ingerimento muitas calorias de uma só vez. Na sequência, é tomada por um sentimento intenso de culpa, o que a leva a práticas ditas purgativas como, por exemplo:
- Indução de vômitos;
- Uso de laxativos;
- Prática de jejuns mais prolongados.
Para saber mais, confira nosso post completo sobre bulimia nervosa.
Atenção
Tanto a bulimia como a anorexia são problemas sérios de saúde que podem até mesmo levar ao óbito.
Por isso, é necessário reconhecer os sintomas de tais transtornos alimentares para então buscar ajuda especializada.
Você quer saber mais sobre esses dois distúrbios? Acesse o post Anorexia e Bulimia: o que é, como identificar e como tratar? e leia o texto na íntegra.
Quais são outros distúrbios alimentares menos falados na mídia?
Heloise destaca também alguns outros transtornos que não são falados com tanta frequência, vejamos quais são eles em detalhes:
Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica (TCAP)
Consiste em um transtorno alimentar cujo principal sinal é o consumo de um grande volume de alimento em pouco tempo, o que leva a pessoa a ganhar peso rapidamente.
Tal manifestação também é conhecida como “binge”. Não à toa, em inglês, o TCAP é denominado binge eating.
Agora, diferente da bulimia nervosa, que tem comportamentos purgativos, o TCAP não está necessariamente associado com vômitos, uso de laxantes ou práticas de jejuns após os episódios de binge.
Vigorexia
É a compulsão em praticar exercícios físicos, sobretudo musculação.
Isso, ao contrário do propósito da atividade física, prejudica a saúde de quem pratica.
Afinal, o corpo entra em um estado de grande estimulação (aceleração do metabolismo), fazendo muitas vezes com que se perca peso sacrificando a própria saúde.
Ortorexia
Comer de uma maneira saudável é algo desejável, uma vez que melhora a saúde como um todo.
No entanto, quando a prática de comer saudável se torna uma obsessão, isso pode ser um problema. E essa condição tem nome: ortorexia.
Trata-se de um transtorno alimentar em que a pessoa não consegue se alimentar fora de casa, pois coloca a si mesma inúmeras restrições alimentares que mais prejudicam que ajudam em sua saúde.
Transtorno Alimentar Restritivo Evitativo (TARE)
É um transtorno alimentar que começa, na maioria das vezes, já na vida infantil. Inicialmente, os familiares podem acreditar que a criança está simplesmente sendo seletiva com os alimentos, escolhendo aqueles que mais lhe atraem.
No entanto, com o tempo tal restrição tende a se agravar a ponto de se perder grande quantia de peso por causa disso.
O TARE, diferente da anorexia nervosa, não apresenta evidente distorção corporal. Além disso, a condição não envolve de maneira tão expressiva a preocupação excessiva com a estética corporal.
Transtorno PICA
O termo “pica” vem da palavra em latim para o pássaro pica pica, uma vez que tal ave reúne alimentos pouco usuais para oferecer e à nutrição da sua prole.
Acontece que tais alimentos não são nada nutritivos, pois não são comestíveis. No transtorno alimentar PICA, também conhecido como Picacismo ou Alotriofagia, tem o hábito de ingerir substâncias como:
- Terra;
- Barro;
- Cabelo;
- Alimentos crus;
- Cinzas de cigarro;
- Fezes de animais.
Ruminação
É um transtorno alimentar cuja principal característica, como diz o próprio nome, é a regurgitação e posterior mastigação do bolo alimentar que já tinha sido engolido.
Tal condição não só está ligada a alguns outros problemas de saúde, entre eles:
- Gastroesofágicos como, por exemplo, o refluxo;
- Pneumonia por aspiração (quando o bolo alimentar cai na traqueia e atinge os pulmões, causando infecção).
Crianças e adolescentes podem ter transtornos alimentares também?
Sim, alguns transtornos alimentares começam nas crianças e perduram até a vida adulta.
Como vimos, o TARE tende a iniciar nas crianças, assim como o transtorno PICA pode iniciar nessa faixa etária.
Além disso, é importante ressaltar que os estímulos alimentares oferecidos às crianças faz com que elas tenham mais ou menos predisposição a desenvolver transtornos no futuro.
Por isso, buscar sempre ensinar as crianças a se alimentarem de forma nutritiva, bem como incentivar a amamentação, são fatores protetivos para os transtornos alimentares na vida adulta.
Como oferecer ajuda?
Mas então, o que uma pessoa pode fazer quando suspeita que um amigo ou familiar tem algum dos transtornos alimentares?
Nem sempre é um momento fácil, pois o primeiro passo é reconhecer a necessidade de ajuda. Por ser um transtorno psicológico é fundamental que se busque a ajuda de um profissional.
Nesse sentido, os amigos e família precisam estar dispostos a ouvir de forma aberta e amorosa. Além disso, é também muito importante apoiar e os deixar à vontade, recomendando a ajuda de um médico.
Qual é o tratamento para transtornos alimentares?
O tratamento é feito com um trabalho em equipe de profissionais como psicólogos, psiquiatras e nutricionistas. Os médicos, especializados em transtornos alimentares, devem trabalhar o paciente e sua família para, que assim, cheguem à raiz do problema.
Por isso, reforçamos a importância de se procurar uma rede de apoio, tanto de amigos e familiares, como de pessoas que já passaram por condições similares. Como forma de inspiração, acesse: Eu venci a anorexia e a bulimia.
Além disso, é importante lembrar que transtornos alimentares colocam o indivíduo num quadro clínico que inspira cuidados. Não há um consumo correto de nutrientes e sais minerais, podendo acarretar problemas sérios de saúde e, até mesmo, levar à morte.
Transtornos alimentares podem gerar internação?
Hoje em dia, há 2 principais tipos de internação:
- Voluntário;
- Compulsório.
Todos eles ocorrem visando a melhora da saúde do paciente.
No entanto, nos casos de transtornos alimentares, pode ser que o estado de saúde do paciente esteja tão grave que internar não seja uma questão de opção, mas a única forma de restabelecer a saúde.
Em alguns casos, a pessoa possui uma visão distorcida do próprio transtorno, o que faz com que ela se negue a procurar ajuda.
Assim, se for recomendado por um especialista, a pessoa poderá ser internada de forma compulsória a fim de realizar o tratamento adequado e intensivo para o transtorno alimentar.
Conclusão
Os transtornos alimentares possuem vários tipos e sintomas.
Vale destacar que há tratamento para cada um deles e o quanto antes forem tomadas as medidas terapêuticas maiores as chances de sucesso.
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Ah! E não se esquece: havendo qualquer suspeita sobre transtornos alimentares, não hesite em procurar ajuda. Comece conversando com alguém próximo e, assim que possível, busque ajuda de um especialista.
Referências
https://diabetes.org.br/conceito-e-tipos-mais-frequentes-de-transtornos-alimentares/
https://saude.abril.com.br/alimentacao/principais-tipos-transtorno-alimentar/
https://www.scielo.br/j/rbp/a/P6XZkzr5nTjmdVBTYyJVZPD/ https://www.tuasaude.com/principais-transtornos-alimentares/
Rui Brandão é médico, com experiência em Portugal, Brasil e Estados Unidos da América, e mestre em Administração pela FGV em São Paulo. Hoje é CEO & Co-fundador do Zenklub, plataforma de saúde emocional e desenvolvimento pessoal que oferece conteúdos, profissionais e ferramentas especializadas para mais de 1.5 milhões de pessoas no Brasil.
Tenho um sobrinho que teve internação compulsória, na adolescência. Felizmente, está trabalhando e cursou Faculdade. O momento da refeição requer tranquilidade e assuntos amenos, se houver conversa! O que as pessoas não se atem é que junto as “garfadas” que são levadas a boca, vão as emoções vividas na refeição! Por muitos anos a minha Fobia Social foi tratada como “estorvo” para a família não almoçar em Restaurante. Uma geriatra ficou “perplexa” quando presenciou que eu almoçava uns dois pastéis de forno com suco! Felizmente minha mãe chegou a ler sobre o tema e disse que não imaginava que eu sofria tanto! Depois de 30 anos de Fobia Social, pude começar a almoçar mesmo! Valorizemos essas conquistas, que para a grande maioria das pessoas é atividade trivial, mas para quem tem depressão, fobia social e transtorno alimentar, sabe que a máxima: “viver um dia de cada vez” se aplicará sempre a cada um desses pacientes “em recuperação contínua”!