Para falar sobre masculinidade tóxica, antes é tudo é preciso parar para pensar: você sabe dizer o que significa ser homem?
Essa é uma daquelas perguntas simples que não necessariamente têm respostas tão básicas assim. Até porque, a gente sabe que nos últimos anos, “ser homem” vem ganhando novos significados. Mas, então, quais são eles, o que é essa nova masculinidade que surge de tudo isso, quem é esse homem, onde ele vive, do que se alimenta? Hoje, no Zenklub.
Brincadeiras à parte, porque o papo é bem sério e importante, a gente resolveu botar em prática o que o jovem melhor sabe fazer hoje em dia: perguntar à internet. E não é que a gente achou bastante coisa legal? No YouTube, vários caras estão jogando a real do que é ser homem – e a gente vai compartilhar alguns dos vídeos mais legais com vocês.
Nesses vídeos, a gente pôde entender bem como a masculinidade, assim como a feminilidade para as mulheres, é a maneira como sociedade nos ensina a performar certas características que são entendidas como “de homem”. E é sobre essa performance do ser homem, que está mudando, que a gente vai falar abaixo. Vem com o zen.
Primeiro: o que não é mais ser homem
Em um vídeo do Quebrando o Tabu, o fotógrafo Pio Figueiroa fala como, para ele, ser homem é muito vendido no sentido de:
Ser macho, ser líder, ser pioneiro, não adoecer, não ter medo.
Como se não seguir essas características diminuísse a masculinidade de alguém ou como se mulheres e pessoas não-binárias não pudessem reunir parte dessas características também, como liderança, coragem e pioneirismo. Tipo… quê?
Mas é assim que muitas pessoas ainda pensam. E não é para menos.
Desde pequeno, todo mundo aprende sobre esse ser homem, sobre essa masculinidade. Como Christian Dunker fala, no mesmo vídeo, o homem, que já está ficando ultrapassado, tem que constantemente reforçar:
Eu não sofro, eu não me queixo, eu não mostro fragilidade, eu não apresento vulnerabilidade, não vou falar sobre pontos fracos, coisas que eu não consigo entender em mim.
Pouco a pouco, vão construindo o que se chama de “masculinidade frágil” ou “masculinidade tóxica”, que faz mal para todas as pessoas, homens inclusos. E, calma, a gente sabe que o termo “masculinidade tóxica” não é o mais bonito de todos, mas ele representa uma verdade, que a gente precisa conversar sobre – assim como tantos outros homens estão conversando.
Continua com a gente que tem mais vídeo que encontramos no YouTube com homens falando sobre ser ou não ser “machão”.
A famigerada masculinidade tóxica
Tem um vídeo muito bom do Spartakus que se chama “Como a masculinidade é tóxica?” que ajuda muito a entender de onde vem toda essa ~toxicidade~. Ele fala o seguinte:
Masculinidade é um conjunto de características que a sociedade valoriza em um homem. Ou seja, para um homem ter valor na sociedade, ele tem que provar sua masculinidade a todo momento. Em resumo, ter masculinidade é ser forte. E ser forte não é algo ruim. Mas a forma como a gente ensina aos homens a mostrarem essa força é o problema. A gente ensina aos homens que ser homem é ser agressivo.
E assim, a masculinidade tóxica se manifesta de diversas maneiras
Ele ainda explica que toda hora vemos exemplos, de brinquedos a filmes, de uma masculinidade pouco positiva e, teoricamente, aspiracional. Existe uma pressão para ser durão, se impor sobre mulheres e, também, sobre toda e qualquer outra pessoa:
Outra forma do cara mostrar que é forte é dominando homens. E você domina homens impressionando eles, mostrando que você é mais macho que eles, derrotando eles. Outra forma de você mostrar que é forte é você não demonstrar fraquezas. Ou seja, não demonstrar emoções. A gente aprende desde pequeno que homem não chora, porque chorar é mostrar fraqueza.
Em outras palavras, esse tipo de masculinidade coloca homens uns contra os outros, fazendo com que um tente constantemente se provar para o outro, sem poder se abrir. E aí, a coisa vai ficando complicada:
Se a gente não fala dos nossos sentimentos, a gente não tem saúde mental. Afinal, terapia é isso: nada mais é do que você sentar numa cadeira e falar dos seus problemas, sobre o que você está sentindo, colocar pra fora o que te angustia.
Sem essa possibilidade de compartilhar angústias como maneira de autocuidado e cuidado com o próximo, não é incomum ver homens que desenvolvem depressão. Mas com quem esse homem vai poder falar sobre sua tristeza, solidão e falta de vontade? Nesse contexto, geralmente com ninguém. E a coisa vai progredindo, levando a comportamentos ainda mais agressivos e até a ideação suicida.
Por algum motivo, procurar ajuda e se abrir são vistos como traços femininos. E, para o homem que tem que constantemente provar sua masculinidade torta, ser mulher é quase um crime, que aparece de várias maneiras, como o Spartakus também aborda no seu vídeo:
Se aproximar do feminino é também gostar de “coisas de mulher”: vai desde usar roupa rosa, até gostar de teatro, gostar de dança, gostar de arte.
Mesmo dentro da comunidade gay, os homens mais “machos” são mais valorizados, enquanto os afeminados são marginalizados. Ao mesmo tempo em que homens negros veem uma pressão ainda maior de se provarem homens, já que também lidam com o racismo que os diminui em contextos sócio-politico-culturais.
Enfim, para resumir, a drag Rita Von Hunty fala no seu vídeo sobre o tema que:
Masculinidade tóxica, ou frágil, é aquela que se recusa a se olhar no espelho e perceber o seus defeitos”, tendo que ficar mostrando pra todo mundo virilidade e violência, até porque “um homem de verdade não leva desaforo pra casa, fala grosso, se impõe, não é diminuído.
Exemplos reais de masculinidade tóxica
Tem um vídeo com o Baco Exu do Blues que só fez a gente admirar ainda mais o cara, que compartilhou com todo mundo suas vivências como homem nesse mundo doido:
Eu não conseguia sair, eu não conseguia viver, eu não consegui trabalhar, eu não conseguia falar pra ninguém que isso tava acontecendo comigo. Eu não conseguia falar com ninguém, porque era um dos sintomas da parada; mas, sim, pelo fato de eu ter vergonha de falar pras pessoas que eu não era forte o suficiente pra tá lidando com uma coisa que era maior do que eu.
O vídeo já começa com o tapa na cara que é esse desabafo. Quantos homens já não se sentiram e ainda se sentem assim? E ele ainda fala o seguinte:
Essa parada do homem, de você ser o homem ou ‘o cara’, engloba uma série de fatores que vai te machucando por dentro. Que aí você fica triste e não pode falar que você tá triste.
E aí vai parecendo que tudo conspira pra te colocar pra baixo, mexendo na base do que seria ser homem:
Se não vou tão bem no sexo, [eu penso] “O que é que tá acontecendo comigo? Tô estragado.” Vvocê é levado a acreditar que [a masculinidade] é algo bom a sua vida inteira. E, só depois que você vai tomando a noção do que te rodeia, você vê o quanto isso vai te privando de ser você mesmo e acaba que você perde a sua identidade e você vira o que as pessoas estão querendo que você seja.
Tá, pera, a gente vai repetir aqui, porque esse momento é importante demais para entender porque essa masculinidade tão tóxica também é ruim para os homens:
SÓ DEPOIS QUE VOCÊ VAI TOMANDO A NOÇÃO DO QUE TE RODEIA QUE VOCÊ VÊ O QUANTO ISSO VAI TE PRIVANDO DE SER VOCÊ MESMO, E ACABA QUE VOCÊ PERDE A SUA IDENTIDADE E VOCÊ VIRA O QUE AS PESSOAS ESTÃO QUERENDO QUE VOCÊ SEJA
O fim da masculinidade tóxica como abertura para si mesmo
Quebrar com a masculinidade tóxica, então, também é um exercício de #autoconhecimento e #autodescoberta.
E no MASCULINIDADE: Os homens estão doentes, do canal Manual do Homem Moderno, a gente encontra vários outros exemplos reais que mostram como a masculinidade impede que os homens vivam quem eles realmente são.
No vídeo, ele passa pelos seguintes temas:
- Sexo: “O homem não pode recusar sexo. Cobra-se do homem dele ser uma máquina viril. Um cara que não pode brochar, um cara que tem que estar sempre pronto pra ação.”
- Solidão: uma pesquisa aponta que 1 em cada 4 homens acima de 24 anos afirma ser solitário e só 3 em cada 10 homens falam de medos com amigos.
- Sentimentos: “A gente tem aí uma geração de pessoas que não sabem lidar com seus próprios sentimentos, que não sabem expressar isso de jeito nenhum. Não sabem lidar com tristeza, com rejeição, com luto.”.
- Relacionamento: “O principal tipo de mensagem que a gente recebe aqui no Manual é de pessoas que terminaram o namoro e não têm com quem falar. E você entra no Instagram do cara e vê que está cercado de pessoas. Ele só não pode falar porque não se sente confortável.”.
- Vícios: por não saberem conversar, os homens acham que “droga e álcool vão resolver todos os problemas. E aí eles se tornam um problema também.”.
- Carreira: “O homem acha que vai se impor pela profissão. E, ao encontrar uma mulher mais bem sucedida que ele, ele não consegue lidar com esse fato” e pode até se sentir “menos homem” por ver uma pessoa que ama ganhar mais do que ele.
- Dor: “Para ele provar que é homem, ele tem que esquecer que tem dor [física], esquecer que tem sofrimento, esquecer que passa mal, esquecer que dói… A gente esquece que é um ser humano.”.
- Abuso: Homens demoram mais tempo para relatar abuso ou estupro e, muitas vezes, as pessoas nem acreditam que realmente aconteceram.
- Saúde mental: “Existe uma palavra que se chama inteligência emocional, que é a nossa capacidade de lidar com nossos sentimentos. Saber lidar com seus sentimentos é necessário.”, o que não necessariamente significa, como ele pontua, sair chorando, mas entender que se pode chorar e entender como conviver com os sentimentos que levam, por exemplo, à tristeza.
Então, é hora de falar sobre ela…
#SaúdeMental e masculinidade tóxica
Tem uma entrevista bem ~da hora~ do Youtuber Julio Victor com o jornalista André Trigueiro, que fala bastante sobre saúde mental. Um ponto bem principal que a gente destaca para vocês é: procure ajuda quando necessário. Se a pressão da masculinidade estiver te fazendo mal, não tenha medo de se cuidar com o apoio de amigos, familiares e, também, especialistas.
Isso porque, como a gente descobriu nesse vídeo, 80% dos suicídios consumados são de homens. O que é um reflexo de ser “educado para ser macho alfa, para ser pegador, para ser alguém que, de preferência, tenha a capacidade de resolver seus problemas ‘como um homem faz’. Tem um ‘jeito masculino’ de se fazer as coisas, então, se no diálogo não der certo, parte pra porrada, fala grosso, bate firme na mesa. Tem a cor certa, a brincadeira certa…
Tem a necessidade de entender o que está por trás da frase ‘homem não chora’. Isso é uma fantasia. O homem chora e tem sensibilidade.”. E deve chorar para não acumular negatividade e para lidar com violência que surge contra si mesmo. Aqui, a dica é bem clara:
Não menospreze o poder do desabafo. Uma pessoa que sofre solitariamente, que não tem a oportunidade de falar sobre o que lhe incomoda, reportar a dor que transporta dentro do peito… Essa pessoa não raro desencadeia uma doença. A gente precisa de uma válvula de escape. E a gente precisa conversar com outras pessoas sobre problemas, porque quando a gente tem a chance de desabafar, esses problemas já não parecem como até há pouco nos pareciam.
Mas, e aí??? Afinal, existe um “novo homem”?
Okay, a gente começou esse texto pensando no que é o homem; e a gente entendeu que existe um jeito já ultrapassado, e muuuito nocivo, de dizer quem é e como deve agir esse homem. A gente também já entendeu que a masculinidade existe nessa maneira bem tóxica, que não faz bem pra ninguém. Mas, e aí: como é ser homem e como é ser masculino nesses novos tempos?
Tem vídeo bom discutindo isso também. Um deles é o Masculinidades contemporâneas: homens possíveis, que já começa com uma fala forte do Guilherme Valadares, editor-chefe do Papo de Homem:
Eu não gosto da expressão ‘novo homem’. Porque parece que a gente tá tirando uma caixinha do que é o suposto homem antiquado, ruim, machista, etc., e passando pra uma nova caixinha, de, agora,um homem que tem que ser sensível, forte na medida, seguro sexualmente, brocha de vez em quando, faz trabalho artesanal, romântico, mas nem tanto, viaja o mundo, cheio de interesses, se veste bem…
Vamos lembrar uma coisa que falamos lá em cima: o rolê é do autoconhecimento. A sua masculinidade tem que ser vivida do jeito que você é, do jeito que te faz confortável, podendo te deixar bem, inclusive, para ter traços supostamente reconhecidos socialmente como femininos. Uma nova masculinidade que não te diz o que fazer, mas que te mostra que tem certas coisas que devem ser evitadas a qualquer custo, a fim de permitir uma vida mais positiva, completa e saudável para você e a todos a sua volta.
E a cultura pop já está quebrando com a masculinidade tóxica
Outro vídeo é o A Saudável Masculinidade, de Brooklyn Nine-Nine. Se você não conhece, Brooklyn Nine-Nine é uma série de comédia que se passa numa delegacia em Nova York. Além de hi-lá-ria, a série também subverte muito bem o papel de homens e mulheres, de uma maneira natural e super construtiva.
Por exemplo, o personagem do Peralta sabe valorizar sua parceira sem que ele se sinta diminuído. Jeffords tem uma aparência durona, mas ele se abre, é emotivo e vaidoso. O Captain Holt quebra o estereótipo de homens negros e gays que performam signos considerados como masculinos socialmente para se firmarem frente a outras pessoas. Por fim, Boyle cozinha e oferece apoio emocional aos filhos. Resumindo: é uma série com homens que constroem relações genuínas com mulheres e entre si; que sabem demonstrar afeto, dar e receber apoio emocional e viver suas vontades e potencialidades.
Taí! Parece que, mesmo em meio a tantos machões sem propósito da cultura pop, a gente já consegue encontrar exemplos muito bons, que nos ajudam a responder as maiores perguntas sobre o que é ser homem hoje em dia. E que a gente consiga criar, também, exemplos em nossas próprias vidas para inspirar uma sociedade mais saudável e homens mais felizes.
Ah! E não se esquece (sim, a gente vai falar mais uma vez): não tenha medo de pedir ajuda! Não tenha medo de se cuidar! Ajuda profissional não te diminui em absolutamente nenhuma instância. Beleza?
E, precisando, só chamar! Vai no app do Zenklub e agenda uma sessão com um especialista que vai saber te guiar no seu desenvolvimento pessoal, no seu processo de autoconhecimento, na sua busca por mais inteligência emocional e, também, com a masculinidade tóxica.
Crédito da foto de abertura: Matheus Ferrero