Antes de sair tomando um coquetel de remédios na tentativa de curar os sintomas da síndrome do pânico, é preciso entender este problema. Este síndrome é caracterizado por crises de pânico que causam palpitações, sudorese, falta de ar, sensação de catástrofe iminente, entre outros sintomas. Os ataques de pânico são repentinos e acontecem sem motivo aparente, a qualquer momento e são avassaladores, além de prejudicar a rotina de quem sofre do mal.

Conhecida também como Transtorno do Pânico ou “Doença do Pânico”, comumente se desenvolve em pessoas com mais de 30 anos e é diagnosticado em aproximadamente 10% dos indivíduos encaminhados para consultas de saúde mental e até 60% nos consultórios de cardiologia. A seguir, um relato de ataque de pânico:

“Estava deitado tentando dormir e me vem uma forte vontade de vomitar, uma tontura, as mãos começam a suar frio, meu coração dispara. Tento controlar a respiração, mas quanto mais me observo respirar mais acelera o meu coração. A frequência cardíaca está muito alta. Não consigo controlar. Perco o controle dos meus próprios pensamentos. Ligo direto para SAMU. Sei que deve ser um ataque de pânico, pois já senti isso muitas vezes, mas e se não for e eu estiver morrendo? Tendo um ataque cardíaco? Mais uma vez chego ao hospital, faço exames. Procuro respostas. Não tenho nada físico. O médico diz ser ansiedade, emocional. De onde vem isso? Como posso controlar isso? Quero parar de sentir meu corpo morrendo toda semana. É uma angustia aterrorizadora”.

Convidamos o psicólogo Massashi Saito e a psicóloga Lidiane Pontes para explicar como os ataques acontecem e como tratar a síndrome do pânico:

O que é a síndrome do pânico?

Lidiane Pontes – a síndrome do pânico é considerada um “medo do medo”, “medo intenso”, “medo das sensações” ou, ainda, medo dos estímulos corporais internos. Faria alguma diferença para você saber que sua ansiedade não precisa ser sempre a “vilã” da história?

Essa emoção tem uma natureza de resposta adaptativa, funcional e é importante para a sua sobrevivência. Além disso, a ansiedade é uma resposta evolucionária para a qual o organismo está preparado. Inclusive, gostaria de esclarecer que você não morrerá de crise de ansiedade, pelo contrário, sentirá os sintomas da ansiedade enquanto estiver vivo (a).

A diferença entre a ansiedade normal e a patológica é mais de grau do que de tipo. Se você tem dúvidas se sua ansiedade é normal ou patológica, sugiro que considere o fato de haver outras pessoas atravessando essa mesma questão. Se fizer sentido refletir sobre a ideia de que “a solidão é um campo muito vasto que não se deve atravessar a sós”, busque ajuda profissional.

Quais as causas da síndrome do pânico?

Massashi Saito – Muito difícil de falar de uma causa em especial. Existem estudos que apontam para alguns fatores ou traços de personalidade que podem estar ligados.

  1. Tendência a preocupação excessiva
  2. Necessidade de estar no controle da situação
  3. Expectativas altas
  4. Dificuldade em aceitar mudanças de opinião
  5. Repressão de sentimentos pessoais negativos
  6. Negação de que haja algo de errado
  7. Ocupação constante
  8. Admissão de grandes responsabilidades
  9. Perfeccionismo
  10. Alto grau de exigência pessoal
  11. Má aceitação de erros ou imprevistos

Quais os fatores mais relevantes no surgimento da síndrome?

MS – Os psiquiatras dizem que são os fatores biológicos – aumento de atividades em certas regiões do cérebro causados pelo excesso de situações de stress. Não descarto essa possibilidade, mas acredito que fatores emocionais, psicossociais estão diretamente ligados ao aparecimento da síndrome do pânico.

O que desencadeia um ataque?

MS – Como falei acima, não existe um fator que desencadeia a síndrome do pânico. Penso que o aparecimento está diretamente ligado à situação atual da vida da pessoa, à forma que vem conduzindo sua vida como um todo. As pessoas passam por situações parecidas o tempo todo. Entretanto a forma que encaram cada situação, somada a seus traços de personalidade pode levar ao aparecimento da síndrome do pânico. As crises estão relacionadas a conflitos intrapsíquicos que atuam de forma inconsciente. Isso faz com que em boa parte dos casos as pessoas não se dão conta de que estão vivenciando tais transtornos. Mas acredito que a ansiedade patológica na vida moderna vem influenciando bastante.

O que é experimentar uma crise de pânico?

LP – É vivenciar uma experiência de intenso medo ou mal-estar acompanhado de sintomas físicos e/ou cognitivos. Mas as crises de pânico podem ser verificadas em outros transtornos de ansiedade. Nas fobias específicas, como a tripofobia, agorafobia e claustrofobia, na fobia social e no transtorno obsessivo-compulsivo. Então como a pessoa vai saber se tem ou não a síndrome do pânico?

crise de pânico

Como detectar uma crise de pânico

LP – Eu não acredito em regras absolutas para levantar hipóteses diagnosticas. Levo em consideração que a manifestação, a frequência e o curso de qualquer transtorno varia de pessoa para pessoa. Portanto formulei, de acordo com a minha experiência clínica e pesquisa, uma resposta possível para essa questão.

O transtorno de pânico está associado com crises de pânico inesperadas e espontâneas. Além disso, a pessoa não sabe identificar ou prever quando e onde eles ocorrerão. Então, começa a ficar preocupada e apreensiva com a possibilidade de sofrer novos ataques.

Dessa forma começa a sentir medo ou evitar, pelo menos, duas das seguintes situações:

  • Multidões
  • Viajar sozinha
  • Sair de casa
  • Frequentar lugares ou situações nos quais a fuga possa ser difícil/embaraçosa.

Enquanto que nos transtornos fóbicos, o foco do medo está em uma situação específica. Nesses transtornos é mais comum verificar que os ataques de pânico são determinados pela situação. Em geral o indivíduo sabe dizer de forma clara qual é o estímulo situacional que gera as perturbações.

E como diagnosticar?

LP – São necessários ao menos dois ataques de pânico inesperados para o diagnóstico de síndrome do pânico.

A idade de início varia entre 20 e 45 anos. Esse transtorno raramente acontece antes da puberdade ou após a menopausa. Segundo Rangé, 2011, 80% das pessoas procura ajuda médica, não psiquiátrica, até um ano depois da primeira crise de pânico. Ainda de acordo com esse autor, após o primeiro ataque, verifica-se ansiedade antecipatória e preocupação persistente acerca de novos ataques de pânico.

Ocorre uma mudança desadaptativa significativa no comportamento relacionado aos ataques. Além disso, a perturbação de pânico não é explicada por outro transtorno mental ou por uso de substâncias.

Quais são os sintomas?

MS – O ataque tem um início súbito e aumenta rapidamente, atingindo um pico em geral em 10 minutos e é acompanhado por um sentimento de perigo ou catástrofe iminente. A característica essencial de um ataque de pânico é um período distinto de intenso medo ou desconforto acompanhado por pelo menos 4 dos 13 sintomas físicos citados abaixo.

  1. Palpitações
  2. Sudorese
  3. Tremores ou abalos
  4. Sensação de falta de ar ou sufocamento
  5. Sensação de asfixia, falta de ar
  6. Dor ou desconforto no tórax
  7. Náusea ou desconforto abdominal
  8. Tontura ou vertigem
  9. Sensação de não ser ela(e) mesma(o)
  10. Medo de perder o controle ou de “enlouquecer”
  11. Medo de morrer
  12. Formigamentos
  13. Calafrios ou ondas de calor

É provável que a forma errônea de avaliar o perigo, como o medo de morrer e perder o controle, aumentem a ativação de ansiedade. Esta, por sua vez, intensifica os já temidos sinais de medo como a taquicardia, sudorese e tremores.

Como a terapia ajuda quem tem síndrome do pânico?

LP – A abordagem cognitivo-comportamental está entre os tratamentos preferenciais para as pessoas que apresentam o transtorno de pânico. Esse tipo de enfoque combina duas frentes:

Cognitiva: reconhece os estímulos desencadeantes internos e específicos (como pensamentos, emoções e sensações) e leva à modificação dos padrões de interpretação.

Comportamental: resulta na mudança de comportamentos disfuncionais da pessoa. Com isso, tendem a reestabelecer a qualidade de vida e o bem-estar.

A terapia cognitivo-comportamental para a síndrome de pânico envolve habitualmente 8 a 16 sessões, com uma frequência semanal, com duração aproximada de 50 minutos.

Para quem nunca vivenciou um ataque de pânico é difícil compreender o que é, por isso deixo aqui um relato de uma pessoa de como isso mudou a sua vida:

“Quando até a família me faltou em meio ao transtorno do pânico, a Dra. Lidiane Pontes, com o seu trabalho muito bem estruturado, me deu todo suporte para entender e superar essa fase. Depois de conhecê-la jamais voltei a me sentir só em meio aos reveses da vida. Uma profissional séria, totalmente comprometida com a recuperação de seus pacientes, sendo sempre acessível e gentil. Toda a minha admiração e eterna gratidão. O pânico foi um divisor de águas na minha vida. O que mais pode vir que eu não possa vencer?”. R, 35 anos

Além da a terapia, há algum outro remédio?

MS – A terapia pode ajudar a pessoa a entender seu funcionamento, ter mais consciência dos seus traços de personalidade e em um trabalho em conjunto conhecer os gatilhos emocionais que levam aos ataques e crises de pânico. O melhor tratamento para a síndrome do pânico é a terapia que pode ocorrer com o auxilio de medicação.

A utilização de medicação para controle dos sintomas é singular em cada caso e também depende do nível de ansiedade em que a pessoa se encontra. Algumas pessoas optam por um tratamento combinado de medicação e psicoterapia, enquanto outras optam por tratar o pânico somente através da psicoterapia.

Optar somente pelo tratamento medicamentoso não é indicado visto que o índice de recaídas com os sintomas é maior. Afinal, não há a possibilidade de se trabalhar com o psiquismo da pessoa bem como as interferências emocionais que por ventura causam as crises.

Reflexão final

LP – Proponho a reflexão de que o desafio de experimentar uma doença pode provocar uma resposta criativa no Ser, capaz de conduzi-lo a uma reestruturação existencial, a um novo plano de consciência e postura diante da própria vida, redefinindo o imperativo do conhecimento de si mesmo. Que estas palavras produzam esclarecimentos, é o meu desejo mais sincero.

Se quiser fazer terapia o Zenklub – uma plataforma de vídeo-consultas com especialistas em síndrome do pânico, onde você pode ser atendido do conforto de casa – pode ser a solução que você procura.

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Vale lembrar que o diagnóstico clínico apenas poderá ser relatado por um médico especialista e o teste,  criado pela Associação Americana de Psiquiatria, serve apenas como parâmetro para você se compreender melhor e buscar ajuda.