O termo transsexual foi criado na primeira metade do século 20, a princípio como uma palavra de uso médico, para denominar as pessoas que não se identificavam com o seu sexo biológico.

De lá para cá, surgiu o movimento trans, que ampliou esse debate, passando a lutar pelo reconhecimento e direitos das diferentes existências fora da conformidade de gênero.

Leia o texto completo para conhecer mais a fundo essa comunidade e tirar suas dúvidas sobre diferentes palavras que você deve estar ouvindo por aí. 

O que é ser cis?

Para explicar o que é ser trans, vamos primeiro entender o significa ser cis. Em primeiro lugar, uma pessoa cisgênero é aquela que vive sob conformidade de gênero. Ou seja: é quem se identifica com o gênero que lhe foi designado na sua nascença.

Por exemplo: se ao nascer alguém é identificada como menina e, ao longo de sua vida, esse gênero faz sentido para ela e reflete sua identidade, então essa pessoa é cis.

O que é ser trans?

Sendo assim, ser trans, transgênero, transsexual, é quando não há conformidade de gênero. Isto é: quando o gênero designado não condiz com a maneira como a pessoa se identifica.

Terapia é para quem quer se desenvolver

Ainda no exemplo anterior: se ao nascer alguém é identificada como menina, mas essa pessoa com o tempo percebe que não se identifica como menina, ela é uma pessoa trans.

É por isso que se fala tanto sobre identidade de gênero. Todas as pessoas têm a sua identidade, seja cis ou trans, homem ou mulher, ou ainda outras manifestações de gênero (como vamos explicar melhor abaixo).

Contudo, não devemos confundir identidade de gênero e orientação sexual. A segunda se refere à sexualidade de um indivíduo. Para entender melhor essa diferença, clique aqui e leia nosso post sobre identidade de gênero e orientação sexual.

Qual a diferença entre sexo biológico e gênero?

Se os conceitos acima estão um pouco confusos para você, pode ser interessante entender a diferença entre sexo biológico e gênero.

A comunidade trans não nega o sexo biológico, que é a manifestações física do sexo de uma pessoa (não confundir com sexualidade).

Por uma combinação de genes, genitálias e gônodas, é possível identificar qual é o sexo biológico de uma pessoa. E é a partir dessa leitura que sabemos se alguém é biologicamente masculino, feminino ou intersexo.

Por outro lado, gênero é uma qualidade distinta de sexo, não é definido por uma condição física. E é justamente essa compreensão de gênero de cada um que indica se há ou não conformidade com o sexo biológico – isto é, se a pessoa é ou não trans

Qual a diferença entre transsexual, transgênero e travesti?

Como mencionado anteriormente, a palavra transsexual surgiu há algumas décadas para reconhecer pessoas que sempre existiram. Porém, com o passar dos anos, outros termos ganharam espaço na comunidade LGBTI+, dando visibilidade a todas as formas de ser. 

Por exemplo, você sabe a diferença de transsexual para transgênero? E as travestis? E termos como não-binário? Abaixo, tiramos essas dúvidas para você.

Transsexual

A princípio, esse era o único termo reconhecido para que as pessoas se identificassem como mulher ou homem trans. Hoje em dia, porém, empregamos a palavra com mais exclusividade para pessoas trans que passam por cirurgias de transição de gênero.

Ou seja, é transsexual quem faz alterações no próprio corpo por conta da chamada disforia de gênero – que é o desconforto por não reconhecer na forma física sua verdadeira manifestação de gênero.

Contudo, muito se questiona se o termo transsexual deve continuar sendo usado. Por exemplo, discute-se se devemos empregar a palavra “sexual” somente para definições de sexualidade (por exemplo: homossexual, bissexual, heterossexual, pansexual e assexual). 

Além disso, parte da comunidade trans argumenta que vincular transsexualidade a intervenções médicas pode desmerecer as experiências de quem lida com o próprio corpo de maneira diferente. Chamam essa tendência de transmedicalismo

Assim sendo, outros termos têm se tornado pontos focais nos debates sobre identidade de gênero. 

Transgênero

A palavra transgênero procura ser um guarda-chuva que agrupa toda a pluralidade do que é ser trans. Isto é, toda pessoa que não vive como cis, que não tem conformidade de gênero, é transgênero.

Dessa forma, esse entendimento já expande o leque do que é viver a expressão de gênero. Para além de ser homem ou mulher trans, é possível reconhecer que gênero é um espectro que não deve ser restringido por convenções sociais.

A partir dessa compreensão, criaram-se termos como não-binário, muitas vezes escrito e dito como não-binárie, para não dar uma conotação nem masculina, nem feminina.

As pessoas não-binárias são aquelas que ou não se identificam com os gêneros convencionados. Isso significa que elas ou se veem entre os dois, ou transitam entre eles, ou ainda existem sob outras formas de expressão.

Travesti

Há também as travestis – e aqui é importante pontuar que travesti é sempre no feminino. Por vezes agrupadas conceitualmente como travestigêneres.

O termo travesti engloba pessoas que têm uma identidade de gênero feminina, mas que não se entendem como mulheres trans. É uma manifestação tipicamente latina, de pessoas que tiveram o gênero masculino designado no nascimento, mas descobriram em si essa força feminina que forma sua identidade.

Por vezes, a definição de travesti está em promover alterações estéticas no corpo, de modo a feminilizá-lo, sem optar por transicionar a genitália. Porém, debates mais contemporâneos questionam se essa continua sendo a melhor maneira de se definir o que é viver a travestigeneridade.

Vale dizer que outros termos regionais ajudam nessa construção social da pluralidade de gêneros. Antes xingamentos, palavras como “bicha” e “viado” não somente foram apropriadas pela comunidade gay, como servem como expressões de gênero femininas e masculinas fora da binariedade – embora ainda sejam usadas de forma pejorativa por pessoas preconceituosas.

Nos Estados Unidos, a palavra queer tem uma história semelhante. De ofensa, se tornou um termo que tanto resume toda a comunidade LGBTI+, quanto qualifica uma identidade de gênero mais fluida.

Mas atenção

Assimilar todos esses termos pode ser difícil. Tenha paciência e procure se manter aberto para os diferentes debates. Mais do que isso, e acima de tudo, respeite a forma como uma pessoa falar que se identifica. Lembre-se: as discussões sobre os empregos das diferentes palavras cabe à comunidade trans.

O que é uma drag queen/king?

Fazer drag nada tem a ver com gênero nem sexualidade. Pessoas cis e trans podem fazer a arte drag e tê-la como profissão; assim como gays, lésbicas, bissexuais, heterossexuais, etc.

Com a arte drag, o intuito é experimentar com os limites do gênero, seja ele feminino, masculino (drag king) ou neutro. Aliás, não há a necessidade de se brincar com o gênero oposto para ser de fato drag (por exemplo, uma mulher cis pode ser drag queen). 

O que é ser intersexo?

Embora ser transsexual seja uma questão central de gênero, há pessoas trans que possuem composições biológicas não apenas masculinas, nem femininas: são os intersexo.

Antes, chamadas de hermafrodita (palavra que já caiu em desuso por sua conotação negativa), as pessoas intersexo carregam em si características dos dois sexos biológicos; sejam em genes, genitálias e/ou gônadas. 

Falar sobre intersexo é um tema que requer cuidado. Isso porque são pessoas que tendem a sofrer diversas violências médicas e que ainda são pouco compreendidas.

Caso você tenha interesse, assista o vídeo abaixo para aprender mais sobre a comunidade intersexo.

Saúde mental e transsexualidade

Até junho de 2018, a OMS considerava a transsexualidade como uma doença mental (assim como a homossexualidade também era até 1990). 

Isso quer dizer que ainda é extremamente recente o reconhecimento do ser trans como algo genuíno, não como um transtorno.

Por conta disso, e somando preconceitos e violências pontuais e institucionais que pessoas trans passam, a saúde mental dessa população tende a ser fragilizada.

Mais sujeitas a depressão e situações estressantes, o índice de suicídio de pessoas trans chama a atenção de maneira negativa. Enquanto isso, pesquisas mostram que poder ter seu gênero afirmado ajuda com que essa população encontre mais bem-estar e saúde mental.

Qual é a importância da visibilidade trans?

Uma maneira de dar conforto para pessoas trans, ao mesmo tempo em que se educa o restante da população, é dando visibilidade para elas e suas histórias.

Na novela brasileira A Força do Querer, por exemplo, transmitida em 2017 e reprisada em 2020, foi possível acompanhar a história de uma travesti e de um homem trans, movimentando debates importantes em todo o país.

No vídeo acima, vemos um pouco da trajetória de Ivan Garcia, interpretado pela atriz Carol Duarte. Pudemos acompanhar todo seu descobrimento e sua maneira de lidar com o ser trans.

Conhecemos Ivan ainda como Ivana, que se via obrigado a cumprir diferentes papéis sociais e demandas familiares. Com o tempo, sua afirmação como homem trans permitiu se emancipar dessas amarras e viver sua própria verdade.

Além disso, a novela lhe deu uma narrativa que foge de uma expectativa heterossexual, já que Ivan tinha atração por homens, reforçando como identidade de gênero e sexualidade se apresentam de diversas maneiras.

Outra personagem de muito destaque foi a Elis Miranda, interpretada por Silvero (atualmente conhecido por seu papel de Lunga em Bacurau).

Elis vivia uma vida dupla. Para boa parte das pessoas, era Nonato, que trabalhava como motorista. Porém, seu sonho era ser artista e viver sua feminilidade de maneira livre.

A princípio, Elis Miranda era uma persona da noite, de performances. Contudo, essa experimentação com a performatividade de gênero fez com que ela descobrisse sua travestigeneridade para além dos palcos.

A Força do Querer, portanto, abordou essas existências trans com pluralidade, mostrando vidas ricas e nem um pouco monotemáticas.

Por essa retratação, mostrando as dores, dificuldades, violências, bem como prazers, conquistas e aconhegos, Glória Perez, autora do folhetim, ganhou o prêmio Veado de Ouro na Festa da Chiquita – celebração LGBTI+ que ocorre durante o Círio de Nazaré, em Belém do Pará.

No entanto, A Força do Querer também foi alvo de críticas pertinentes por parte da comunidade. Embora as atuações de Carol e Silvero tenham sido muito bem recebidas, foi pontuado que deram os papéis de pessoas trans para pessoas cis.

A expectativa é que pessoas trans possam viver suas próprias histórias na ficção. Assim como ganhem espaço para diferentes papéis. Afinal, essa é uma forma importante de inclusão no mercado de trabalho.

Uma produção que faz muito bem isso é a notória série estadunidense Pose.

Logo em seu lançamento, em 2018, a série chamou atenção por seu elenco com muitas mulheres trans; e, também, por retratar a cena vogue e ballroom em Nova York, fundada principalmente por pessoas trans não-brancas.

Já os curtas documentais LGBT+60: Corpos que Resistem contou histórias reais de pessoas LGBTI+ idosas. O primeiro episódio é com João Nery, homem trans que viveu sua transição durante a Ditadura Militar.

O programa Rupaul’s Drag Race, que é um reality show estadunidense de competição de Drag Queens, apresentou ao mundo algumas pessoas trans. Entre elas, Sasha Velour, vencedora da 9ª temporada do programa. Não-binária, Sasha levou o debate de gênero para dentro e fora do reality.

Em 2017, estreou no Festival de Berlim o filme chileno Una Mujer Fantástica. No ano seguinte, o longa que conta a história de Marina, uma jovem trans, venceu na categoria de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar, se tornando o primeiro filme estrelado por uma mulher transsexual a atingir tal feito.

Visibilidade também é feita com empregabilidade. No Brasil, a Trans-Empregos é uma das organizações que procuram facilitar a entrada de pessoas trans no mercado de trabalho. No Zencast, nosso podcast sobre saúde mental, conversamos com Maitê Schneider, fundadora do programa. Para saber mais, clique na imagem abaixo.

No fundo roxo, aparece escrito em branco: Zencast, o podcast do Zenklub. Abaixo, lê-se: Diversidade, igualdade e empregabilidade com Maite Schneider. Ao lado desse texto, aparece uma foto da Maite, que é transsexual, sorrindo. Maite tem cabelos loiros na altura dos ombros e pele clara.

Por fim, destacamos o documentário Bixa Travesty, que é um relato da artista Linn da Quebrada. O filme recebeu diversos prêmios no Brasil e no mundo. Além disso, Linn é uma das nossas convidadas na Jornada da Vida, nosso curso gratuito sobre autoconhecimento que você pode se inscrever aqui.

Transsexualidades e terapia

Como dissemos, ser trans não é doença. Portanto, não existe terapia de conversão nem uma suposta “cura”.

Em vez disso, a terapia e o acompanhamento psicológico podem conceder ferramentas importantes para cuidar da própria saúde mental.
Portanto, se você se identifica como transsexual, transgênero, travesti ou está de alguma maneira no espectro trans, considere falar com um profissional caso esteja precisando de ajuda. E lembre-se: no Zenklub, você encontra diversos profissionais prontos para te atender!