Hoje vamos falar sobre problemas de relacionamento, e compartilho aqui com vocês a minha opinião sobre questões que envolvem o psiquismo de cada ser humano: suas crenças, dificuldades, desejos, enfim, um emaranhado de fatores que tornam as relações interpessoais tão incríveis quanto complexas.

Quando imaginamos uma relação, seja ela qual for, esperamos pelo menos duas pessoas em conexão, com universos pessoais únicos, compartilhando um determinado espaço e tempo juntos. Tudo normal até aí, não é mesmo?

Sim, se não fosse a bagagem emocional de cada um, ou seja, tudo o que a pessoa vivenciou desde o útero materno até hoje, incluindo-se aí diversos fatores sócio ambientais, que assim como uma teia, formam a nossa história de vida, com a qual convivemos sem muitos questionamentos até o momento em que outro universo, tão diverso, começa a fazer parte da nossa vida e a chacoalhar essa historia e, junto com ela as nossas ilusões.

Num relacionamento amoroso, por exemplo, não é raro nos depararmos com escolhas afetivas que “casam” perfeitamente com essa bagagem que trazemos dentro de nós, nos dando notícias de que nossas escolhas não acontecem por acaso, pois captam de forma inconsciente, na maioria das vezes, alguma semelhança na história do outro.

E é tão interessante quando começamos a conhecer a dinâmica do nosso psiquismo num processo terapêutico – esta possibilitada através de um contato mais profundo com a nossa origem, vínculos e primeiras relações vivenciadas – pois assim, tudo vai fazendo mais sentido.

Com o começo do ano traçamos metas, fazemos promessas e, no meio de tantos pedidos, o amor está sempre ali, sendo bem-vindo na vida de todas as pessoas. É quase inédito saber de alguém que nunca colocou uma fitinha cor-de-rosa de Nossa Senhora do Bonfim no pulso e pediu um amor que inundasse o coração.

Mas você já parou para pensar que tem uma pegadinha aí? Porque para que um amor nasça, temos que considerar o outro, esse universo estranho, diferente do que estamos acostumados a viver, com toda a sua particularidade, outro “timing”, e é ai que os problemas podem começar a aparecer.

É ai que você pensa: “ei peraí, eu só fiz um pedido de ano novo, não sabia que daria tanto trabalho”. Você pediu para amar e ser feliz, mas não tinha ideia do impacto que esse “universo diferente” poderia causar na sua vida.

Tudo isso não parece tão confuso quando pensamos que, para o amor nascer, é preciso lidar com o não, com a frustração que esse timing que não é nosso nos causa, com desejos que não foram sonhados por nós e necessidades que nem sempre foram verdadeiras em nossas vidas.

Quando nos relacionamos, um incomodo, que antes não existia, começa a fazer parte da nossa vida. Tudo isso é natural, já que nossos valores, até ai tidos como dogmas, são ameaçados por uma nova forma de viver, fazendo-nos olhar o mundo através de outra dimensão.

Toda relação amorosa exige confiança, humildade, compaixão e empatia, porém, sempre geram um conflito, pois dizemos “sim” para uma nova forma de viver e o “não” para a forma com a qual estávamos acostumados, que mesmo não sendo tão cheia de vida, era bem menos assustadora. Apesar de tudo, toda essa situação se torna um aprender e reaprender constante, um desafio pro ego, que insiste em assumir o controle de tudo, quando na verdade, esse controle é pura ilusão.

Aí você se pergunta: “então todo relacionamento tem problema e não tem final feliz?”. Tudo isso depende do quanto cada um cria espaço pro “nós” na relação.

E como se faz isso? A verdade é que não existe uma fórmula pronta, cada um é cada um, cada história tem suas verdades, mas o que realmente nos capacita dar início nesse “jogo da vida” da melhor maneira possível é clarear nossos pontos cegos, para que assim possamos conhecer o nosso mundo interno. Dessa maneira, nos aproximamos de nossa essência e temos chances de compreender o outro com toda sua particularidade, pois não adianta esperar que alguém nos compreenda, quando nós mesmos não conseguimos nos compreender.

Texto por Bettina Ranoya, psicóloga orientada pela abordagem psicanalítica. Encontre psicanalistas no Zenklub.