A vida é um ciclo em que é preciso ser capaz de compreender cada uma das suas etapas. E é quando a morte chega que nos deparamos talvez com a maior delas. Afinal, o que será que acontece depois? Para quem fica, a morte é sinônimo de luto, de tristeza e porque não de superação.
Como você deve imaginar o luto acontece com todos, o que varia é a intensidade com que os seus sentimentos serão vivenciados. Para alguns, o luto parece eterno, para outros, é apenas mais uma etapa da vida em que o tempo irá resolver.
A verdade é que assim como todos os sentimentos inerentes ao ser humano, o luto também deve ser vivido, sentido e compreendido, para que possamos restabelecer nosso equilíbrio emocional interno.
Mesmo que a sua dor hoje pareça muito forte, trouxemos aqui algumas considerações sobre o tema para que você possa, a partir da informação, encontrar novos caminhos para superar o seu luto, ou ajudar alguém a superá-lo.
O que é o luto?
O luto é a angústia por uma perda de algum ente ou pessoa que morreu. É o processo emocional e sentimental que vivencia a ausência e o vazio causado por uma perda.
O processo de luto é totalmente individual, mesmo que haja outras pessoas envolvidas na mesma dor, pois cada um tem a sua capacidade própria de interpretar esse vazio e a dor, desde o momento de um choro até os dias que irão seguir.
A expressão do luto pode se dar por manifestações físicas, como o choro, e emocionais, como a tristeza, raiva e ansiedade. Em paralelo também há quem se manifeste de maneira silenciosa.
Ou seja, não há um estereótipo ou regra a ser seguida para manifestar um luto. Ele é o reflexo da sua capacidade emocional de lidar com momentos frágeis e de comportá-lo no seu dia a dia.
Quais os tipos de luto?
Não há exatamente tipos de luto, existe intensidades e momentos diferentes. Um luto pode começar antes mesmo da morte de alguém, quando há alguma doença complicada envolvida, por exemplo.
Mas há também quem, na psicologia, classifique o luto em normal, quando há um repertório de respostas saudáveis que possibilitam a expressão da dor da perda, e o luto complicado, em que há uma série de sintomas físicos e mentais resultantes da incapacidade de se expressar, seguido por um isolamento ou período de negação prolongado.
Fases do luto
A conhecida psiquiatra Elisabeth Kubler-Ross elaborou alguns estágios característicos do processo do luto, não necessariamente seguindo uma ordem, mas as fases esperadas são: a negação, raiva, barganha, depressão e aceitação.
As pessoas costumam pensar nos estágios como semanas ou meses duradouros. Eles esquecem que os estágios são respostas a sentimentos que podem durar minutos ou horas à medida que entramos e saímos de um e depois de outro. Nós não entramos e deixamos cada estágio individual de maneira linear. Podemos sentir um, depois outro e voltar ao primeiro.
Negação
A negação é o primeiro dos cinco estágios do luto e nos ajuda a sobreviver à perda. Nesse estágio, o mundo se torna sem sentido e avassalador como se a vida não fizesse sentido. Ficamos em estado de choque e entorpecidos, nos perguntamos como podemos continuar, se podemos continuar, por que deveríamos continuar, em que tentamos encontrar uma maneira de simplesmente passar por cada dia.
Negação e choque nos ajudam a lidar e tornar a sobrevivência possível, estimulam nossos sentimentos de tristeza. Há uma graça na negação, pois é a maneira da natureza de deixar entrar tanto quanto podemos lidar. Ao aceitar a realidade da perda e começar a se fazer perguntas, você está, sem saber, iniciando o processo de cura.
Raiva
É um estágio necessário do processo de cura. Esteja disposto a sentir sua raiva, mesmo que isso pareça infinito. Quanto mais você realmente sentir isso, mais começará a se dissipar e mais você se curará. Existem muitas outras emoções sob a raiva e você chegará a elas a tempo, mas a raiva é a emoção que estamos mais acostumados a administrar. A verdade é que a raiva não tem limites.
Pode se estender não apenas aos seus amigos, aos médicos, à sua família, a você e ao seu ente querido que morreu, mas também a Deus. Você pode perguntar: “Onde está Deus nisso? Por baixo da raiva é a dor, a sua dor. É natural nos sentirmos abandonados, mas vivemos em uma sociedade que teme a raiva. A raiva é força e pode ser uma âncora, dando estrutura temporária ao nada da perda.
Barganha
Antes de uma perda, parece que você fará qualquer coisa se apenas seu amado fosse poupado. “Por favor, Deus”. Você barganha “eu nunca mais ficarei bravo com minha esposa se você simplesmente deixá-la viver.” Depois de uma perda, a barganha pode assumir a forma de uma trégua temporária. “E se eu dedicar o resto da minha vida ajudando os outros? Então eu posso acordar e perceber que tudo isso foi um pesadelo?”
Nós nos perdemos em um labirinto de declarações“ Se apenas…” ou “E se…”. Queremos voltar no tempo: encontrar o câncer mais cedo, reconhecer a doença mais rapidamente, impedir que o acidente aconteça.
A culpa é frequentemente a companheira de barganha. Os “se apenas” nos fazem encontrar falhas em nós mesmos e o que “pensamos” é que poderíamos ter feito de forma diferente. Podemos até barganhar com a dor. Faremos qualquer coisa para não sentir a dor dessa perda. Nós permanecemos no passado, tentando negociar nossa saída da mágoa.
Depressão
Após a barganha, nossa atenção se move diretamente para o presente. Sentimentos vazios se apresentam e a dor entra em nossas vidas em um nível mais profundo do que jamais imaginamos. Este estágio depressivo parece durar para sempre. É importante entender que essa depressão pós-morte não é um sinal de doença mental, ela faz parte e é a resposta apropriada para uma grande perda.
Nós nos retiramos da vida, deixados em uma névoa de intensa tristeza, imaginando, talvez, se há algum ponto em continuar sozinho? Por que continuar em tudo? Depressão depois de uma perda é muitas vezes vista como não natural, como um estado a ser corrigido, algo para se livrar.
Não sentir depressão depois que um ente querido morre seria incomum. Se o luto significa um processo de cura, a depressão é um dos muitos passos necessários ao longo do caminho.
Aceitação
Aceitação é muitas vezes confundida com a noção de estar “bem” ou “ok” com o que aconteceu. Este não é o caso. A maioria das pessoas nunca se sente bem ou está bem com a perda de um ente querido. Esta fase é sobre aceitar a realidade de que o nosso ente querido se foi fisicamente e reconhecer que esta nova realidade é a permanente.
Jamais gostamos dessa realidade ou faremos isso bem, mas eventualmente a aceitaremos. Nós aprendemos a viver com isso. É a nova norma com a qual devemos aprender a viver com a saudade eterna. Nós devemos tentar viver agora em um mundo onde nosso amado está faltando.
Causas do luto
É muito comum relacionarmos o luto a morte de alguém, mas ao contrário do que imaginamos, o luto pode se dar também em diferentes perdas e mudanças intensas que acontecem na nossa vida, como morar fora em outro país, um trabalho diferente, um término de um relacionamento e até em pequenos detalhes da infância.
O luto é então atrelado a perdas e todo mundo passa por isso em algum momento, mas em diferentes ideais e intensidade. É normal manifestarmos todas essas sensações, afinal, nosso emocional é aquilo que rege nossos sentimentos.
Sintomas do luto
Além das fases do luto que citamos aqui, há também uma lista comum de reações emocionais e psicossomáticas que nos interfere:
- Crises de ansiedade;
- Estresse;
- Crises de choro;
- Dores de cabeça;
- Compulsão alimentar;
- Melancolia e culpa;
- Insônia;
- Desânimo intenso para realizar qualquer atividade.
Psicoterapia como aliado
Assim como tantos outros transtornos e doenças emocionais, a psicoterapia é uma das atividades que pode ajudá-lo a superar o luto. A perda de um ente querido não deixa de ser um evento estressor e a mente tende a reagir à algo que ameaça a sua integridade.
A reorganização dos pensamentos e sentimentos advindos dessa dor são estratégias fundamentais para uma readaptação saudável. É preciso avaliar as preocupações, oferecer confiança e apoio, buscar as distorções cognitivas que bloqueiam a visão de alternativas saudáveis, trazer a tona sentimentos e pensamentos provenientes da perda e trabalhar a habilidade de se readaptar a uma nova realidade.
Um especialista em bem-estar emocional nos ajuda a vivermos o luto e poderá recuperar esse lado emocional abalado, e fazer com que o luto se torne apenas uma saudade, uma memória afetiva boa de recordar, distante de pensamentos negativos.
Há também algumas tarefas que pode se desafiar a fazer para contribuir nesse processo:
- Dê tempo a si mesmo;
- Aceite seus sentimentos e saiba que o luto é um processo;
- Converse com as pessoas;
- Passe tempo com amigos e familiares;
- Não se isole;
- Exercite-se regularmente, coma bem e durma o suficiente para permanecer saudável e energizado.
Você pode conviver e superar seu período de luto, dê tempo ao tempo, que você irá perceber que tudo ficará melhor.