A compulsão alimentar é um problema de saúde mental que atinge milhares de pessoas no mundo todo. Em termos mais resumidos, esse transtorno é conhecido pelos eventos recorrentes de descontrole por comida, como comer demais sem ter fome ou até comer tanto em uma mesma refeição “até se sentir mal”.
Mas não se sinta sozinho, essa compulsão tem tratamento e você vai ver nesse artigo que, com a ajuda de especialistas e com acesso a informação, você será capaz de superar esse desafio ou, se não for o seu caso, mas de alguém próximo, de ajudar quem passa por esse problema. Veja também os comentários e dicas das especialistas e psicólogas do Zenklub, Fernanda Jacovozzi e Nathalia Oliveira.
Eu como muito, tenho compulsão alimentar?
Vamos começar falando sobre como identificar se você realmente está sofrendo desse problema, lembrando que a avaliação de um especialista, como um psicólogo, irá precisar o diagnóstico, aqui iremos apenas pontuar evidências que devem ser consideradas como pontos de atenção.
A recorrência dos episódios de compulsão por comida para quem convive com a doença é de pelo menos uma vez por semana e com uma repetição contínua por três meses. Nesses momentos, além do sentimento de angústia e de culpa, os atos envolvem a perda de controle da quantidade e do tipo de alimento que está ingerindo, ou seja, come-se produtos de baixo ganho alimentar, sem ter fome, mais do que necessário e ultrapassando o sentimento bom de saciedade que a comida proporciona nas pessoas.
Para alguns, a rapidez ao comer também é um agravante e isso pode vir acompanhado de atitudes como isolamento durante as refeições e até a tentativa de se esconder para que ninguém as veja comendo. Observe que esses comportamentos podem ter outras consequências como deixar a pessoa mais introvertida e antissocial.
Agora, se você é uma pessoa que gosta de um chocolate todo dia de sobremesa ou com o café à tarde, ou repete a comida quando está diante da sua refeição favorita, provavelmente, você não convive com o transtorno de compulsão alimentar.
Sentimentos envolvidos
Como falamos há pouco, a culpa e a angústia caminham bem próximas de quem vive com esse transtorno, além da sensação de fracasso e de arrependimento por ter esse comportamento. É possível identificar também sintomas de ansiedade e depressão em graus mais acentuados e é por conta desses sentimentos que pessoas com distúrbios alimentares devem procurar mais de um tipo de especialistas para ajudar no tratamento, como psicólogos e psiquiatras.
Para a especialista Nathalia, “A obesidade hoje é um dos maiores problemas de saúde pública do mundo, e no Brasil cerca de 57% da população está acima do peso. Existem vários fatores que contribuem para esse quadro, como fatores genéticos, ambientais, emocionais e também o estilo de vida. quando nós, especialistas, somos procurados para tratar questões do peso, o paciente traz inúmeras outras questões dentro da sua história que contribuíram no excesso de peso, e a baixa auto estima é uma de suas consequências. Geralmente a pessoa tem uma baixa percepção de si mesma, desvalorização de si e pouca ou nenhuma crença de que consegue mudar seu estilo de vida e assim eliminar os quilos desejados”
Causas mais comuns
Para você que quer entender a origem e o problema que ocasionou esse transtorno, nós temos alguns pontos que podem te ajudar a identificar.
Aquela dieta que você fez por conta própria ou que foi rígida demais para o quanto você estava disposto a encarar, pode ter contribuído para a sua compulsão. Isso porque, algumas dietas deixam as pessoas com ainda mais desejo por alimentos que estão restritos e consequentemente ativam a sensação de depressão. O estresse e o desconforto emocional também, pois ativam aquela vontade de melhorar o problema a partir da ingestão de alimentos que agradam o paladar, como uma compensação.
Por último, precisamos conversar sobre a sua autoestima. É muito normal termos questionamentos sobre a nossa aparência e o nosso corpo, e acabamos por tentar resolver com métodos nada saudáveis, como passar fome ou tomar medicamentos para emagrecer. Há também quem fique mais sensível a comentários externos e reaja desenvolvendo a compulsão alimentar, e outros problemas. A dica aqui é tentar trabalhar a sua autoestima buscando pensamentos e atitudes positivas, recebendo as críticas construtivas e ignorando as que lhe tentam encaixar em padrões criados para sociedade e que não lhe farão bem.
Cultura do emagrecimento
Fernanda salienta ainda entre as causas para esse transtorno, a cultura que a sociedade e a mídia nos impõe pela questão do corpo ideal.
“Sabemos que hoje em dia a pressão por um corpo dentro dos “padrões” é ainda muito forte e influenciada pelas mídias, que partem de uma insatisfação do ser humano para vender esses padrões e formas de atingi-lo. Muitas vezes essa cobrança vem de dentro de casa, no trabalho, dos amigos, o que contribui para que as pessoas busquem ajuda para iniciar um processo de emagrecimento. Não é um caminho fácil e simples como muitos pensam, que depende somente da força de vontade. Muitas vezes existem muitas crenças e pensamentos disfuncionais que precisam sim ser trabalhados junto a um Psicólogo”.
Gordofobia: existe mesmo?
A gordofobia é o termo utilizado para significar pessoas que tem aversão à gordura e à pessoas gordas.
“Geralmente a gordofobia vem disfarçada pelo cuidado com a saúde da pessoa gorda, mas esse termo é muito mais que um preconceito, é aversão, é ter repulsa e até inferiorizar a pessoa gorda e, infelizmente, essa prática ainda está muito presente em nossa sociedade. Quando somos incentivados a aceitar apenas o que nos é imposto, tudo que é diferente torna-se estranho, e ai surge o preconceito.”, afirma Fernanda.
Riscos e complicações
Agora vamos atentar sobre os riscos e complicações que a compulsão alimentar pode desenvolver em quem possui o transtorno. A notícia não é boa para quem não busca tratamento, pois problemas respiratórios, vasculares, cardíacos e de diabetes são bem comuns. Incapacitações mentais, como depressão e Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC), também, além de obesidade (presente em 75% dos casos), anorexia e bulimia.
Peça ajuda
Não é só com o uso de medicação que os sintomas irão desaparecer. Psicólogos, psiquiatras e nutricionistas são peças fundamentais nesse tratamento, cada qual com a sua especialidade e capacidade de atuação.
“Emagrecer não é a solução para todos os problemas, muitas pessoas que estão acima do peso não buscam por isso quando pedem ajuda. É um processo de autoconhecimento, amor próprio e valorização de si mesmo. Se reconhecer e entender o que realmente é importante para você”, finaliza Fernanda.
A compulsão alimentar tem cura e você pode e deve encarar o desafio. Além do apoio profissional, a mudança de hábitos também fará a diferença, por isso, busque praticar exercícios físicos regularmente e se aproxime de atividades que te ajudam a manter uma conexão mental com o seu corpo, como a yoga e a meditação.
Fica a dica!
A compulsão alimentar pode atingir tanto homens quanto mulheres, acima do peso ou não, e em qualquer idade, apesar de ser mais comum em jovens de 20 a 30 anos. Afastar os maus pensamentos que ajudam a desenvolver a compulsão alimentar é uma tarefa difícil, mas não é impossível. Trabalhe a sua autoestima e busque ajuda se sentir incomodado com seus hábitos alimentares e seus pensamentos de fuga para os problemas.
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