Cada dia que passa novos fármacos são descobertos, cada qual apresentando mecanismos de ação mais tecnológicos e efeitos mais precisos. Nesse sentido, a medicação cloridrato de bupropiona possui um efeito único e pode ser utilizada para tratar várias questões de saúde mental. Mas uma pergunta muito frequente é: será que bupropiona trata ansiedade?
Para responder essa pergunta e várias outras questões, vamos recorrer aos conhecimentos científicos e a ajuda de uma médica psiquiatra.
De fato, a bupropiona é um antidepressivo muito usado nos dias atuais e a marca detentora da patente é o Wellbutrin, e as outras opções, além da versão genérica, são: BUP, Zetron, Bupium, Zyban, Bupogran, Seth, Bueno e Noradop.
Se você quer saber mais sobre esse assunto e sobre o que a ansiedade pode causar, fique com a gente até o final!
Afinal, o que é a bupropiona?
Em primeiro lugar, é importante destacar que cloridrato de bupropiona é o nome e o sobrenome de uma substância da classe dos antidepressivos.
Embora o nome sugestivo da classe que a inclui, a bupropiona também é mais usada para tratar outros tipos de problemas além da depressão, como veremos na sequência.
A bupropiona é um antidepressivo dual, ou seja, que age no aumento da quantidade de dois tipos específicos de neurotransmissores.
Diferente de um fitoterápico para ansiedade, a bupropiona é uma remédio controlado que exige receita médica com retenção nas farmácias para ser adquirido.
Para que serve o cloridrato de bupropiona?
Embora a bupropiona seja um medicamento da classe dos antidepressivos, ele não serve somente para tratar a depressão.
Na verdade, por possuir mecanismo de ação praticamente exclusivo dentro do universo dos psicotrópicos, a bupropiona pode auxiliar em uma série de questões médicas.
As indicações da bupropiona com maior embasamento científico são:
- Depressão.
- Transtorno afetivo estacional (uma forma de depressão que só aparece no inverno).
- Tratamento da dependência da nicotina.
Por outro lado, várias outras doenças podem ser tratadas com bupropiona de forma off label, ou seja, que ainda não passou por estudos científicos mais aprofundados mas que são prescritos legalmente por alguns profissionais médicos.
Entre as formas off label de uso da bupropiona estão:
- Tratamento da obesidade.
- Transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH).
- Transtorno bipolar.
- Vício em jogos de azar (a noradrenalina ajuda a conter os impulsos).
- Disfunção sexual induzida por antidepressivos.
De acordo com a médica psiquiatra Dra. Maria Fernanda Caliani (CRM 140770):
“A bupropiona é um antidepressivo que vai inibir a recaptação de 2 neurotransmissores: da Noradrenalina e da dopamina, ou seja, maiores quantidades dessas substâncias estarão disponíveis no cérebro. Isso tudo gera os efeitos terapêuticos dessa medicação.”
Tratamentos off-label
Tratamentos off-label são aqueles que não constam em bula.
Por exemplo, no caso da bupropiona, usa-se para auxiliar no tratamento, de forma off-label, doenças como:
- TDAH;
- Transtorno afetivo bipolar;
- Transtornos de ansiedade.
Parar de fumar
A bupropiona é um tratamento de segunda linha para o tabagismo.
Apesar de não ser o medicamento com maiores evidências para tratar a dependência química à nicotina (como é o caso da vareniclina), a bupropiona é bastante usada aqui no Brasil, visto seu preço e disponibilidade.
Mas vale reforçar que tal medicamento atua na diminuição dos sintomas de abstinência e não na fissura de usar o tabaco.
Tratamento depressivo maior (TDM)
Por ser um medicamento que aumenta a quantidade de dopamina, neurotransmissor relacionado à sensação de recompensa, a bupropiona serve para tratar TDM.
Trata-se de um medicamento menos usado para tratar a depressão em comparação com os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS). Além disso, vale indicar que a bupropiona por si só pode ser insuficiente a depender do caso de depressão.
Nesse sentido, pode ser necessário associar outra classe de fármacos para obter os melhores resultados.
Quais os efeitos colaterais do uso desse tipo de substância?
Como todos os medicamentos de tarja vermelha, a bupropiona pode sim possuir alguns efeitos colaterais.
Esses efeitos já são acompanhados há bastante tempo pelos cientistas.
Afinal, a bupropiona não é um medicamento novo – ela existe desde a década de 1980 – e nos primeiros anos de existência ela teve sua comercialização proibida por conta de efeitos colaterais graves, sobretudo relacionados à geração de crises convulsivas.
Diante disso, a indústria farmacêutica responsável pela bupropiona fez uma série de estudos científicos e, assim, reformulou as doses máximas da medicação.
Dessa forma, quando foi relançada novamente no mercado, em 1989, a dose limite do fármaco foi definida em até 450 mg diárias.
Nesse contexto, o efeito adverso mais preocupante da bupropiona são as crises convulsivas.
Contudo, com o avanço da tecnologia da medicação, a chance de alguém que usa bupropiona regularmente ter convulsões é menor que 0,1%, isto é, menos de 1 pessoa a cada 1000 sofrem esse efeito.
Alguns dos outros efeitos secundários que podem ocorrer e suas respectivas probabilidades são:
- Taquicardia (coração acelerado) (11%).
- Insônia (11% a 40%).
- Dor de cabeça (25% a 34%).
- Agitação (2% a 32%),
- Boca seca (10% a 28%).
- Constipação (8% a 26%).
- Perda de peso (14% a 23%).
- Náuseas e vômitos (23%).
- Tonturas (6% a 22%).
- Transpiração excessiva (5% a 22%).
- Tremor (1% a 21%).
- Visão turva (3% a 15%).
- Faringite (3% a 13%).
- Rinite (12%).
- Falta de concentração (9%).
- Ganho de peso (9%)
- Ansiedade (3% a 8%).
- Erupção cutânea (1% a 8%).
- Diarreia (4% a 7%)
- Flatulência (6%),
- Zumbido (1% a 6%).
- Distúrbios do sono (5%).
- Dor torácica (≤ 4%).
- Hipertensão (1% a 4%).
- Fraqueza (4%)
- Tosse (2% a 4%)
- Prurido (2% a 4%).
- Sonolência (2% a 3%).
- Hipotensão (3%).
- Comprometimento da memória (3%).
- Úlcera da mucosa oral (2%).
- Disfagia (dificuldade para engolir) (2%).
Como é feito o tratamento para TDM com bupropiona?
O uso de cloridrato de bupropiona para o transtorno depressivo maior varia de acordo com cada paciente.
No entanto, uma forma comum de tratamento com a bupropiona é iniciar com uma dose mais baixa por uma semana e depois elevar para a dose terapêutica.
Além disso, o paciente receberá a orientação de que, assim como ocorre com outros medicamentos antidepressivos, os efeitos podem levar de 2-4 semanas para começar a surgir.
Como funciona o cloridrato de bupropiona para quem quer parar de fumar
Parar de fumar é um desafio bem grande e a bupropiona pode ser uma boa opção para ajudar nesse processo.
Afinal, a bupropiona atua nos receptores de dopamina, justamente o neurotransmissor liberado quando seu fuma.
Nesse sentido, a bupropiona ajuda na ansiedade, pois a dopamina aumentada no cérebro pode sim causar a sensação de bem estar, o que reduziria a ansiedade para fumar.
Muitos fumantes perguntam: “Como saber se tenho ansiedade?”. Para ajudar, criamos um artigo especialmente para responder essa pergunta.
Pode-se combinar o tratamento com Cloridrato de Bupropiona com terapia de reposição de nicotina para potencializar a cessação do tabagismo.
Quem não deve tomar bupropiona?
De acordo com a bula, uso do cloridrato de bupropiona é contra-indicado em pacientes com hipersensibilidade conhecida a qualquer componente da formulação e em pacientes com história de:
- Epilepsia;
- Convulsões;
- Bulimia;
- Anorexia nervosa;
- Pacientes submetidos à suspensão abrupta de álcool ou sedativos, incluindo benzodiazepínicos, barbitúricos ou antiepilépticos;
- Uso de medicações da classe dos inibidores da MAO (simultaneamente ou dentro de 14 dias após descontinuação de bupropiona ou do inibidor de MAO).
Diferente de remédios fitoterápicos, como a valeriana para ansiedade, a bupropiona não pode ser tomada por algumas pessoas.
Além disso, pessoas que fazem o uso de outras medicações devem ser avaliadas por um médico para analisar interferências da bupropiona nos outros remédios.
Algumas interações conhecidas da bupropiona são com as seguintes medicações:
- Citalopram.
- Doxorrubicina.
- Lorcaserina.
- Metoprolol.
- Tamoxifeno.
- Antidepressivos tricíclicos (classe de medicações que incluem, por exemplo, a amitriptilina).
- Vortioxetina.
Conclusão
A bupropiona e ansiedade, embora muitos acreditem, não tem ligação comprovada cientificamente.
Apesar de não tratar transtornos de ansiedade, a bupropiona tem uma série de indicações que você acompanhou aqui neste material.
Sempre busque informação de profissionais de saúde habilitados para tirar suas dúvidas a respeito de tratamentos ou medicações.
Aqui no Zenklub você encontra uma grande quantidade de conteúdos cientificamente constatados sobre os mais variados temas de saúde mental. Fique à vontade para dar uma olhada!
Referências:
1) Geddes, John R.; Ioannidis, John P.A.; Tajika, Aran; Shinohara, Kiyomi; Imai, Hissei; Hayasaka, Yu; Takeshima, Nozomi; Egger, Matthias; Higgins, Julian P. T. (7 de abril de 2018). «Comparative efficacy and acceptability of 21 antidepressant drugs for the acute treatment of adults with major depressive disorder: a systematic review and network meta-analysis». The Lancet (em English). 391 (10128): 1357–1366. ISSN 0140-6736. PMID 29477251. doi:10.1016/S0140-6736(17)32802-7
2)http://app7.infarmed.pt/infomed/download_ficheiro.php?med_id=41508&tipo_doc=fi
3) https://www.tuasaude.com/cloridrato-de-bupropiona-zyban/
4) https://www.mdsaude.com/bulas/cloridrato-de-bupropiona/