Minha intenção com esse texto é poder falar sobre a Sabrina psicóloga, que é uma pessoa como outra qualquer, cheia de idéias, confusões, desejos, expectativas e frustrações! Portanto, meus demais textos dificilmente ficarão isentos das minhas emoções. Pretendo, além de dar depoimentos pessoais, escrever artigos sobre temas e vivências na psicologia. Vou escrever, brevemente (será?), sobre minha atual situação profissional.

Me formei em psicologia pela PUC-SP em dezembro de 2001. A escolha pela Psicologia foi… pela alma.
Não tive interesse por nenhuma outra profissão. Iniciei minha atuação na Saúde Pública da Prefeitura Municipal de Carapicuíba; aliás, caí de “paraquedas” na Saúde Pública. Na época de minha formação, não tive nenhuma matéria destinada ao trabalho em Instituições Públicas… nenhum estágio em órgãos municipais… não, não foi irresponsabilidade da faculdade… ocorre que, nesta época, o SUS estava ainda nascendo…

Tive que aprender, na “marra” o que era atuar em serviço público. Imaginem vocês… recém saída da faculdade, com 21 anos, experiência ZERO, no meio de Carapicuíba! Mas foi assim meu início profissional: crua, porém pronta e sedenta para aprender e contribuir. Fiquei neste trabalho de 2002 à 2009, com muito orgulho, pois eu e a equipe com a qual trabalhei criamos o Projeto Trilhar, no CAPSAd (Centro de Atenção Psicossocial para dependentes de álcool e drogas) de Carapicuíba.

Saí de lá, ou melhor, fui demitida, por uma mudança política (eu era CLT). Foi muitoooooo difícil; senti um pedaço de mim sendo arrancado! Mas, após algum tempo, percebi que estava acomodada e, na verdade, sempre tive um certo “medo”de ficar velhinha, no mesmo trabalho, fazendo a mesma coisa, sem possibilidade de crescer. Como em muitas coisas na minha vida, tenho uma facilidade imensa em me adaptar à situações e amo mudanças.

E aí, tive que mudar. A demissão ocorreu em março de 2009 e comecei a prometer para mim mesma que não voltaria mais para o SUS! Aham… ledo engano! Voltei para o SUS em outubro do mesmo ano. Entre março e outubro, trabalhei em duas empresas… a primeira, a Registro.br (não tinha nada a ver com a
psicologia, mas precisava me sustentar de alguma forma). Em seguida, fui contratada pela Potencial RH, para trabalhar com Hunting, Recrutamento e Seleção. Ao mesmo tempo, fiz um processo seletivo para trabalhar como psicóloga na Associação Saúde da Família, uma parceira da Prefeitura de São Paulo, ou seja, para o SUS.

Eita! Aqui de breve não tem nada, hein? Ok, mas vamos lá!

Fiz o processo seletivo com o coração aberto! Sim, o salário na época era bem atrativo. Fiquei em segundo lugar na seleção e logo fui chamada. Se eu estava gostando da área de RH? Sim… mas, definitivamente, não é a minha cara. Então, me demiti e lá estava eu de novo no SUS.

Fui contratada para compor uma Equipe de NASF (Núcleo de Apoio à Saúde da Família), um programa novo (havia iniciado em dezembro de 2008), com uma Equipe Multiprofissional que visava apoiar as Equipes da Saúde da Família. O processo de trabalho era bem desafiador: diariamente a equipe precisava dar “murros em ponta de faca” para fazer valer a ideologia do trabalho.

Posso dizer que com este trabalho conheci realidades desumanas, me deparei com carências jamais imaginadas, vivi a realidade das violências praticadas, da falta de tudo, da alegria das pessoas por coisas que deixamos passar nas nossas vidas, do apego, da proteção e do amor da comunidade por quem realmente cuida dela. Essa experiência é impagável!

Em dezembro de 2014 consegui uma transferência dentro da própria Associação para O CAPSAd III da
Vila Brasilândia, uma vez que tinha experiência e havia me especializado em Dependências pela UNIFESP.

De novo, aquele medo de passar a vida inteira fazendo a mesma coisa me assustava. Plano de carreira inexistente! O máximo de crescimento era chegar a alguma gerência de serviço público, que não é a minha cara. Num processo muito doído, pedi demissão em agosto de 2016. E então, nova crise! Como recomeçar? Continuar na psicologia? Valeria a pena? E a falta de valorização profissional?

Tive muito apoio da família, amigos e terapeuta pra conseguir seguir em frente (sim, psicólogos também fazem terapia!). Apesar do desligamento ter sido há seis meses, ainda me considero num período de transição e reconstrução. Confesso que não tem sido fácil, que é uma luta diária.

Iniciei atendimento em uma Clínica de Psicologia (Clínica ABA), que trabalha basicamente com convênios médicos. Tem sido uma experiência importante. Retorno para o consultório muito mais empoderada, com muito mais experiência e vivência da realidade humana. Entendendo que é possível haver uma proximidade com os pacientes, delimitando o setting à minha maneira, deixando o afeto fluir… afinal, são duas pessoas se relacionando. Só tenho a agradecer pelos 14 anos de imersão da vida como ela é; o SUS (pacientes e profissionais) certamente me transformou.

Recentemente, surgiu em minha vida profissional a possibilidade de fazer parte do “bebê” da Psicologia Online. Acredito que essa modalidade de atendimento, em breve, se tornará mais popular e desmistificará a atuação do psicólogo. Penso que este é meu maior investimento no momento. Ainda tenho períodos meio “travados”, em que a criatividade me falta… Mas faz parte do processo, não é mesmo?