A depressão já é considerada o “mal do século” segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS) e é um transtorno psiquiátrico que atinge milhões de pessoas em todo o mundo. Só para ter uma ideia dessa dimensão, o Brasil tem a maior taxa da América Latina, com 5,8% da população afetada pelos sintomas de depressão, em um total de 11,5 milhões de pessoas. O país está à frente de países como o Chile e Uruguai, além de liderar os índices de pessoas afetadas pela ansiedade na América Latina.
No mundo, a doença é o principal fator de incapacidade no mundo (7,5%), sendo também a principal causa de mortes por suicídio, com aproximadamente 800 mil casos ao ano. O Sudeste Asiático registra mais casos de transtornos no mundo, com 60 milhões de diagnósticos. Em seguida estão as Américas, com 57,2 milhões, o que representa 21% do total global. Mas, afinal, o que é depressão e como ela atua no nosso corpo?
O que é depressão?
Depressão é uma doença de saúde mental grave, que apresenta sintomas de tristeza profunda, perda de interesse em atividades que traziam prazer e/ou baixa autoestima. A depressão afeta negativamente a forma como a gente se sente, pensa e atua. Contudo, existe tratamento, geralmente envolvendo terapia.
De um ponto de vista cerebral, ficamos deprimidos quando o corpo para de produzir neurotransmissores como a serotonina e a noradrenalina, que são substâncias responsáveis por transmitir os sentimentos de alegria e bem-estar. Esse desequilíbrio bioquímico do cérebro é o que faz você se sentir sempre desanimado e triste, como uma infelicidade crônica, que estimula outras reações fisiológicas.
Assista ao vídeo abaixo “Um cachorro preto chamado depressão” que retrata como os sintomas são algo muito mais comum do que imaginamos e como é difícil a vida de quem vive com essa doença.
A maioria das pessoas se sente triste ou deprimida às vezes. É uma reação normal à perda ou lutas da vida. Mas, quando a intensa tristeza – incluindo a sensação de desamparo, sem esperança e sem valor – dura muitos dias a semanas e impede de você viver sua vida, pode ser algo mais que tristeza. Por isso, é importante saber quais os sintomas que a doença apresenta.
Quais os sintomas de depressão?
Os mais comuns sintomas da depressão são:
- Tristeza profunda
- Irritabilidade
- Medo
- Perda de interesse e apatia
- Mudanças no sono ou insônia
- Alteração de apetite e de peso
- Muito cansaço
- Sentimento de culpa
- Falta de concentração
- Baixa autoestima
- Pessimismo
- Pensamentos suicidas
- Raciocínio lento
- Perda de libido
- Mudanças nos movimentos corporais
- Dores físicas e angústias
- Muito cansaço
Diferenciar tristeza de depressão talvez seja uma das maiores dificuldades de quem vive esse sintoma. Então, vamos entender como identificar o que é um ou outro.
Tristeza ou depressão?
Para tirar a dúvida, conversamos com a psicóloga e especialista do Zenklub, Tatiana Festi. Segundo Tatiana, a tristeza é uma reação natural a situações difíceis de serem vivenciadas e sentir tristeza é saudável. Sentimos tristeza diante de uma perda, de uma doença, separação, mudança de emprego ou mudança de fase de vida. Já a depressão é uma doença em que a tristeza pode ser um de seus componentes, pois vem sempre acompanhada por outros sintomas.
Portanto, de um ponto de vista de conceitos, quando pensamos em tristeza ou depressão devemos pensar se é um sentimento ou uma doença. Confira os sinais de depressão que ajudam a identificar a doença:
- Reação apropriada X reações extremas O sentimento de tristeza decorre de uma reação apropriada a determinado evento e este sentimento não perdura mais do que horas ou dias. Já na depressão as reações aos eventos são extremas, a pessoa tem a sensação de que as coisas não irão melhorar e o mal-estar não irá passar. Essas sensações podem durar meses, anos e permanecerem por um longo tempo, mesmo quando as condições externas se modificam.
- Prazer X sentimento de vazio Quando triste a pessoa se sente desencorajada, mas seus sentimentos oscilam durante o dia. Por outro lado, uma pessoa depressiva sente-se vazia a maior parte do tempo, com a sensação de que sua vida está perdendo sentido, passa a não dar conta de atividades corriqueiras e deixa de sentir prazer como antes sentia.
- Vitalidade X exaustão A tristeza não impede que a pessoa continue produtiva e envolvida com os seus afazeres. Ela vai trabalhar, não deixa de se relacionar com amigos e raramente suas funções vitais são afetadas. A depressão leva a pessoa a se afastar lentamente ou até mesmo abruptamente de amigos e familiares. Também impede a realização de suas atividades cotidianas, em quadros mais graves ela se impede quase que totalmente. A sensação é de cansaço a maior parte do tempo, como se sua energia estivesse se esvaindo. É comum ter insônia ou sono excessivo, tensão muscular podendo acordar com dores no corpo e compulsão alimentar, com perda ou ganho de peso.
- Pensamentos negativos X distorção da realidade Pensamentos negativos são comuns quando nos sentimos tristes. Mas eles estão relacionados a eventos da realidade concreta e a pessoa consegue se organizar na vida apesar deles. Já durante a depressão, os pensamentos são distorcidos, a pessoa compara-se excessivamente com outras pessoas, acha que nunca irá melhorar. Ela também julga-se como culpada diante de situações que não justificam tais conclusões e, mesmo quando conquista algo atribui a uma causa exterior a ela.
Quem pode ter sintomas de depressão?
O quadro depressivo afeta pessoas de todas as idades, raças e grupos econômicos. Por fatores culturais, alguns homens sentem vergonha de admitir e procuram melhorar através de outras atitudes, como o abuso de álcool, drogas e outros vícios. Depressão não tratada, no homem, pode acarretar consequências desastrosas, pois a possibilidade de morte por suicídio é quatro vezes maior do que na mulher.
Por sua vez, nas mulheres as sua incidência é 30% mais elevada do que nos homens e isso acontece porque a população feminina está mais exposta a eventos traumáticos, assim como outros motivos como mudanças hormonais, relacionamentos, reprodução, biologia e gravidez.
Nos idosos, nem sempre o transtorno é tratado, pois muitos acreditam que é normal nessa idade. Porém problemas de memória, dores, alucinações, entre outros, são sintomas e AVC, fraturas, são associadas ao desenvolvimento da doença.
LGBTs possuem alto risco de depressão, pela discriminação social e, muitas vezes familiar, de colegas de trabalho ou de escola. O estigma pode fazê-los mais vulneráveis a essa doença.
Crianças e adolescentes que sofreram traumas, que têm transtorno de atenção e hiperatividade, dificuldade de aprendizagem, distúrbios de ansiedade ou transtorno desafiador de oposição, ou histórico de distúrbios de humor na família.
Quais as causas e fatores de risco da depressão?
Esta descompensação de neurotransmissores não tem uma causa específica e muito provavelmente, a causa é multifatorial, derivada de uma combinação de fatores genéticos, biológicos, ambientais e psicológicos. Os principais fatores de risco são:
- Fatores Genéticos: Ter um familiar imediato com o transtorno mental ou um transtorno de humor pode aumentar seu risco.
- Distúrbio de sono: Os problemas crônicos de sono, como a insônia, estão associados à doença. Embora os especialistas não saibam se a falta de sono causa depressão, episódios de baixo humor parecem acompanhar períodos de sono fraco.
- Circunstâncias da vida: Mesmo eventos felizes, como ter um bebê ou conseguir um novo emprego, podem aumentar o risco de algumas pessoas desenvolverem um quadro de depressão. Outros eventos da vida ligados à depressão incluem: perder um emprego, divórcio, mudança de cidade, aposentadoria e até a morte de um ente querido.
- Abuso de substâncias: Drogas e álcool podem levar a mudanças químicas no cérebro que contribuem para desenvolver a doença. A automedicação com essas substâncias também podem resultar no transtorno.
- Doenças crônicas: Outras condições crônicas como diabetes, artrite, dor crônica, doença cardíaca ou da tireóide, são outros fatores que podem estar associados ao desenvolvimento da doença.
Tipos de depressão
Agora que você entendeu como a depressão acontece e quais os seus sintomas, vamos falar sobre os tipos de depressão:
- Episódio depressivo São quadros que tendem a ter uma duração de até seis meses, ou seja, mais curta e mais branda que os demais tipos de depressão. Em geral, esses episódios carregam alterações de comportamento e alguns sintomas mais comuns.
- Depressão maior ou depressão clínica Ocorre quando a presença dos sintomas permanece por pelo menos seis meses, dificultando as atividades e a rotina. Seu nível varia de leve, moderado a grave.
Distimia ou transtorno depressivo persistente
A distimia é uma forma crônica da depressão e que permanece por um longo prazo – pelo menos dois anos.- Transtorno disfórico pré-menstrual Ocorre quando a mulher apresenta problemas de humor graves antes da menstruação, mais intensa que a síndrome pré-menstrual típica.
- Depressão Bipolar I e II Doenças Bipolares I e bipolares II incluem alterações de humor que variam desde altas (hipomania ou mania) até baixas (depressão maior). É difícil diferenciar entre transtorno bipolar e depressão, porque a maioria das pessoas não busca ajuda médica diante de variações de humor.
- Depressão atípica Quando há predomínio de sintomas relacionados ao cansaço, falta de energia, sono excessivo, humor apático e pensamentos de morte
- Depressão sazonal Refere-se principalmente a momentos de tristeza ocorridos em dias mais frios, como o inverno, e com baixa exposição à energia solar. Festas de final de ano também podem ser consideradas sazonais, e é importante perceber essa fase.
- Depressão psicótica Mistura momentos de tristeza a outros sintomas nem tão comuns como alucinações e delírios, que apesar de um tipo grave, é bastante perigosa.
Depressão na gravidez e pós-parto
Separamos este tipo pelas suas características singulares. Um dos transtornos mais comuns durante a gravidez e o pós-parto é a depressão. A mulher passa por uma série de mudanças físicas, psicológicas e sociais que transformam toda a sua vida e podem causar sintomas de depressão na gravidez.
Após a gravidez, cerca de 15% das mulheres podem ser afetadas pela depressão pós-parto, sendo mais comum do que imaginamos, em que a terapia com psicólogo é considerado o tratamento ideal.
Celebridades e pessoas famosas, como a cantora Adele, já revelaram ter sofrido de depressão pós-parto, o que só abre ainda mais a discussão e a informação de todas as mulheres sobre o tema.
Tratamentos e terapias para depressão
Como mencionamos, a depressão tem cura e quanto mais cedo, mais eficaz o tratamento. Geralmente, o tratamento envolve a combinação de medicação e terapia. O psicólogo e o psiquiatra devem andar juntos no tratamento do problema. O primeiro vai atacar as fobias e o segundo vai indicar a medicação adequada para acabar com os sintomas de depressão. Os tratamentos são complementares e demoram alguns meses, mas anime-se, a depressão tem cura!
O psicólogo Felipe Epaminondas indica: “Uma vida equilibrada, alimentação saudável e moderada, atividade física, momentos de relaxamento trazem benefícios físicos e psicológicos”. Existem algumas comidas como laranja, maçã, abóbora, sardinha, grão de bico, couve e alface, que podem ajudar. O Felipe explica como dar a volta à depressão no bate papo abaixo:
Terapia
A psicoterapia online ou presencial ajuda você a trabalhar a raiz do problema, entendendo por que você se sente de determinada forma, quais são os seus fatores desencadeantes e o que você pode fazer para se manter saudável.
A terapia irá lhe trazer habilidades para se sentir melhor e ajudar a prevenir as recaídas. Alguns tipos de terapia te ensinam técnicas práticas sobre como reformular o pensamento negativo e empregar ferramentas comportamentais no combate aos sintomas de depressão.
Existem muitos tipos de terapia disponíveis e entre os métodos mais comuns utilizados para tratar incluem terapia cognitivo-comportamental, terapia interpessoal e terapia psicodinâmica. É possível aproveitar uma combinação de cada técnica para o tratamento.
Medicação
A medicação pode ajudar a aliviar alguns dos sintomas, especialmente em casos moderados e graves, mas não cura o problema subjacente. Somente um médico especializado poderá determinar tanto a necessidade do tratamento medicamentoso, quanto qual tipo de antidepressivo deverá ser ministrado.
Como vencer a depressão
O exercício regular pode ser tão eficaz no tratamento do problema, assim como a medicação. Exercício físico aumenta a serotonina, as endorfinas e outros produtos químicos cerebrais sensíveis. Ele também desencadeia o crescimento de novas células cerebrais e conexões.
O excesso de permanência em redes sociais também são fatores atenuantes para o isolamento e consequentemente para a depressão. Mantenha contato regular com amigos e familiares, ou considere se juntar a uma classe ou grupo.
Comer bem é importante para a sua saúde física e mental. Comer refeições pequenas e equilibradas ao longo do dia irá ajudá-lo a manter sua energia e a minimizar as mudanças de humor.
Os sintomas de depressão como oportunidade de mudança
A depressão é uma doença que nos obriga a parar, a “dar um tempo”. Ela nos desvia de nosso caminho habitual, que talvez já não esteja mais trazendo nada de valioso para nosso crescimento pessoal.
O processo terapêutico pode ajudar tanto nos episódios de tristeza, quanto num quadro de depressão. A partir de uma compreensão mais profunda sobre as causas será possível se reposicionar em seus relacionamentos interpessoais. Acima de tudo, você vai se reencontrar e, até mesmo, descobrir um novo sentido para a vida.
Faça um teste clínico de depressão
O reconhecimento e diagnóstico de sintomas de depressão nem sempre são simples. Se você quer fazer um rastreio, clique no link: teste de depressão e faça um questionário de 8 perguntas (duração menos de 1 minuto). O teste é adaptado do teste científico Americano criado pelo Dr. Spitzer e Dr William (PHQ – Patient Health Questionnaire).
Como ajudar a quem tem depressão?
Para você que está em dúvida como ajudar com um familiar ou amigo que está com sintomas de depressão, não se preocupe, realmente não é uma tarefa fácil! Buscar ser compreensivo, paciente e afetuoso com certeza serão as suas melhores armas.
Caso ainda assim a situação seja um pouco mais complicada, procure você também a ajuda de um psicólogo, ele poderá te ajudar a se compreender melhor diante das adversidades e da novidade da situação.
Em caso de fases mais complicadas ou até como prevenção, não se esqueça de ter sempre à mão o contato do especialista que está acompanhando a pessoa depressiva, bem como, a qualquer sinal de proximidade com algum ato mais grave, como o suicídio, peça ajuda!
Veja o infográfico abaixo que ilustra bem o impacto da depressão no Brasil
