O transtorno delirante persistente é uma condição que tira quem sofre da realidade. Por isso, é importante compreender e acolher quem possui delírios.

Afinal, os delírios são pensamentos imutáveis (não se pode convencer a pessoa do contrário) que distorcem o real, podendo, inclusive gerar sofrimentos para as pessoas ao redor.

Os delírios podem ocorrer das mais variadas formas, tendo caráter:

  • Persecutório (em que se crê que alguém está perseguindo ou arquitetando um plano contra)
  • Grandioso (atribuição de qualidades irreais sobre si em relação a fama, glamour, riqueza)
  • Controlador (exercer autoridade sobre outra pessoa)
  • De ciúmes (ter a convicção que está sendo traído sem o embasamento real).
  • Entre outros.

Como o próprio nome diz, o transtorno delirante persistente difere do transtorno delirante comum pela questão temporal.

Vejamos mais sobre esse tópico importante!

O que é transtorno delirante persistente?

Uma vez que o transtorno delirante persistente pode ser facilmente confundido com outras questões psicóticas, é importante começarmos o conteúdo definindo o que é transtorno delirante persistente.

Então, essa condição é caracterizada pela presença de um ou mais delírios sobre determinadas questões que persistem por mais de 1 mês.

É importante ressaltar a questão do tempo, pois o transtorno delirante não é persistente quando a duração dos sintomas é menor que 1 mês, sendo chamado transtorno delirante breve nessas ocasiões.

Além disso, o transtorno delirante persistente é diferente de outras psicoses como a esquizofrenia, pois geralmente não apresenta sintomas como alucinações, ou seja, raramente há distorções dos 5 sentidos.

Nota: Alucinações, quando presentes, não são proeminentes e têm relação com o tema do delírio (por exemplo, a sensação de estar infestado de insetos associada a delírios de infestação).

Transtorno delirante persistente: sintomas

De acordo com o Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5.ª edição (DSM-V), os sintomas predominantes (e critérios para o diagnóstico) do transtorno delirante persistente são:

  • A presença de um delírio (ou mais) com duração de pelo menos 1 mês
  • Não há preenchimento dos critérios para diagnóstico da esquizofrenia
  • Não há necessidade, como versava o DSM-IV, dos delírios serem esquisitos e totalmente impossíveis (por exemplo grandes aventuras heróicas)
  • Sintomas de humor elevado (semelhante a estados maníacos) ou rebaixado (como em casos de depressão) que persistem por menos tempo que os delírios
  • Os sintomas não são atribuíveis aos efeitos fisiológicos de uma substância ou a outra condição médica, não sendo mais bem explicada por outro transtorno mental, como transtorno de personalidade paranóide ou transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).

Assim que se compreende os sintomas principais do transtorno delirante persistente, é possível classificá-lo de acordo com os subtipos:

  • Erotomaníaco: acredita-se que alguém está totalmente apaixonada pelo indivíduo com o transtorno mental
  • Grandioso: crença de se possuir um grande talento, riquezas, fama e glamour
  • Persecutório: o indivíduo imagina estar sendo vítima de conspiração, enganado, espionado, perseguido, envenenado ou drogado, difamado maliciosamente, assediado ou obstruído na busca de objetivos de longo prazo.
  • Somático: pensamentos de que há algo acontecendo no próprio corpo (por exemplo, insetos rastejando sob a pele)
  • Misto: preenche pontos de vários subtipos ao mesmo tempo
  • Tipo não especificado: em que é difícil classificar o delírio em um tipo específico.

O que é um surto delirante?

Um surto delirante é uma crença inabalável, isto é, que não pode ser modificada por argumentos lógicos que levam a pessoa a construir cenários mentais que não correspondem com a verdade.

Assim, embora a pessoa que sofra com o transtorno delirante persistente não tenha prejuízos em suas outras faculdades mentais como a atenção, raciocínio e linguagem, todos os delírios são um tipo de psicose, caracterizada como uma saída da realidade.

Há dois tipos de surtos delirantes:

Não bizarros

Podem facilmente ser confundidos com fatos reais, sobretudo quando a pessoa com o transtorno delirante persistente possui elevada capacidade de persuasão (como por exemplo ocorre no transtorno de personalidade antissocial).

Por isso é tão importante avaliar se a história de vida da pessoa condiz com aquilo que está sendo relatado.

Por exemplo, raramente alguém estará sendo perseguido por um grande complô de pessoas caso a pessoa não esteja envolvida com atos criminosos ou imorais.

Bizarros

Os delírios são considerados bizarros se são:

Obviamente impossíveis
Não se percebe uma linha lógica que possa justificar o pensamento
Não tem relação com a vida prévia da pessoa com o delírio ou dos demais envolvidos

Exemplos de delírios bizarros incluem:

  • Síndrome de Ekbom – em que a pessoa acredita firmemente que há milhares de insetos rastejando sob a pele, causando grande incômodo e sofrimento;
  • De que todos os órgãos foram retirados e posteriormente colocados de volta sem deixar nenhuma cicatriz ou sequela e não originados de experiências comuns da vida (p. ex., a crença de um indivíduo de que um estranho retirou seus órgãos internos, substituindo-os pelos de outro sem deixar feridas ou cicatrizes)
  • Ilusão de Cotard – as pessoas com esse delírio acreditam que estão mortos e são cadáveres ambulantes.

Como lidar com uma pessoa com transtorno delirante persistente?

Aqui, é importante não estigmatizar ou colocar como “difícil” ou etc. Trazer mais dicas que podem facilitar a relação de quem gosta/se preocupa com uma pessoa com o transtorno ou que faz parte de seu convívio. Dicas em tópico mesmo.

Uma pessoa com transtorno delirante persistente sofre muito com os sintomas, pois estes dificultam a sociabilidade e desenvolvimento de relações interpessoais saudáveis.

Por isso, é importante que as pessoas que convivam com alguém que tenha a condição:

  • Procurem acolher os delírios, sem contestar ou querer convencer a pessoa do contrário
  • Mostrar que está do lado de quem sofre
  • Ter paciência e carinho e procurar assistência especializada
  • Buscar apoio de familiares, uma vez que essa estrutura é importante para a melhora da pessoa com o transtorno delirante persistente.

Transtorno delirante persistente tem cura?

O transtorno delirante persistente tem sim cura, e nesse caso é considerado que houve uma remissão total dos sintomas.

Para que isso ocorra é importante que uma equipe multiprofissional realize a assistência ao paciente. Alguns dos profissionais que são importantes no processo terapêutico são:

  • Psicólogo
  • Psiquiatra
  • Assistente social (em caso de pacientes que vivam em situação de vulnerabilidade social)
  • Entre outros.

Tratamento

O transtorno delirante persistente tem cura e esse é o maior objetivo do tratamento.

Como as causas da condição são multifatoriais, é importante realizar o tratamento por várias vias.

Assim, para corrigir distúrbios neuroquímicos do cérebro, é importante buscar uma abordagem médica psiquiátrica. Este profissional poderá prescrever medicamentos antipsicóticos que ajudam a conter os delírios.

Além disso, é crucial a realização de terapia a fim de localizar possíveis traumas, dificuldades do passado e crenças estabelecidas que estão envolvidas na construção dos delírios.

À medida que se conquista maior consciência por meio da terapia, o paciente pode se inserir gradativamente à realidade, superando os delírios e vivendo uma vida leve e feliz.

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Referências:

1) KAPLAN, H. B.; SADOCK, B. J.; GREBB, J. A. Compêndio de psiquiatria: Ciências do comportamento e psiquiatria clínica. Porto Alegre: Artes Médicas, 2003.

2) Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

3) DALGALARRONDO, P. Psicopatologia e Semiologia dos Transtornos Mentais. 2 ed., Porto Alegre: Artmed, 2008