Há certas coisas em nossas vidas que ficam marcadas na pele. No transtorno de escoriação (ou “skin-picking”), é como se alguém quisesse retirar essas cicatrizes.

De fato, o transtorno de escoriação é um transtorno mental que afeta cerca de 3,4% da população brasileira, o que totaliza um montante de mais de 7 milhões de pessoas só em nosso país.

Neste artigo você irá descobrir:

  • O que é o transtorno de escoriação?
  • Quais são as possíveis causas de tal condição?
  • Há tratamentos eficazes?
  • Como você pode melhorar os sintomas a partir de hoje?

Então vamos lá? Tenha uma excelente leitura!

O que é transtorno de escoriação?

Um hábito que muitos têm e não se dão conta que pode ser sintoma de transtorno de escoriação é puxar a pele da cutícula das unhas, por exemplo.

Assim, o transtorno de escoriação é uma condição cujos sintomas começam a aparecer por volta de 12 anos de idade e que é classificado pelo Manual de Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais 5.ª edição – DSM-V juntamente com o transtorno obsessivo-compulsivo.

Os sintomas do transtorno de escoriação usados para diagnosticar essa condição são, segundo a Associação Americana de Psiquiatria:

  • Beliscar a pele de forma recorrente, resultando em lesões;
  • Tentativas repetidas de reduzir ou parar o comportamento de beliscar a pele;
  • O ato de beliscar a pele causa sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social, profissional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo;
  • O ato de beliscar a pele não se deve aos efeitos fisiológicos de uma substância (p. ex. cocaína) ou a outra condição médica (p.ex., escabiose);
  • O ato de beliscar a pele não é melhor explicado pelos sintomas de outro transtorno mental (p. ex., delírios ou alucinações táteis em um transtorno psicótico, tentativas de melhorar um defeito ou falha percebida na aparência do transtorno dismórfico corporal, estereotipias no trastorno de movimento estereotipado ou intenção de causar dano a si mesmo na autolesão não suicida).

Como visto, para realizar o diagnóstico do transtorno de escoriação, é necessário que os sintomas causem prejuízos significativos à pessoa e/ou aqueles que estão ao redor.

Também é importante diferenciar os sintomas de transtorno de escoriação com demais condições psíquicas em que pode haver automutilação como, por exemplo, o transtorno depressivo recorrente.

O que causa o transtorno de escoriação?

Embora não haja uma só causa, é característica comum das pessoas com transtorno de escoriação a ansiedade.

Ou seja, alguém que sofra com a condição costuma sofrer com as possibilidades (mesmo que remotas) do futuro.

Assim, a escoriação da pele é uma forma que a pessoa encontra para aliviar as tensões derivadas da ansiedade.

Além disso, condições psicológicas e sociais, como a já existência de um transtorno de ansiedade ou a vivência em situações de vulnerabilidade social podem aumentar as chances de desenvolver o transtorno de escoriação.

Vale destacar que as causas da maioria dos transtornos mentais envolvem os seguintes aspectos:

  • Biológicos (disfunções neuroquímicas e hormonais)
  • Psicológicos (situações que afetam a saúde psíquica – traumas, dificuldades)
  • Sociais (ambiente no qual a pessoa está inserida)

Qual o tratamento para transtorno de escoriação?

Um dos melhores tratamentos para o transtorno de escoriação é a terapia, sobretudo a abordagem cognitiva-comportamental (TCC).

Por meio dela, a pessoa que sofre com a condição poderá:

  • Aumentar a consciência sobre seus atos;
  • Identificar, analisar e transformar situações que acarretam a escoriação da pele e danos ao seu bem-estar tanto físico como também mental;
  • Canalizar a energia psíquica que leva a realizar a escoriação para outras atividades muito mais funcionais e saudáveis;
  • Aprender técnicas para conter a impulsividade de cutucar a pele.

Em casos mais graves do transtorno de escoriação, um médico psiquiatra pode prescrever medicamentos psicotrópicos para conter os sintomas como, por exemplo:

  • N-acetilcisteína
  • Antidepressivos inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS)
  • Entre outros.

O que fazer para controlar a vontade de cutucar a pele?

A pessoa que cutuca a pele e sofre com o transtorno de escoriação já tentou parar antes com esse hábito, mas não obteve sucesso.

Assim, fica claro que quem sofre da condição sente culpa e sofre por realizar o ato de lesão à própria pele (diferente, por exemplo, do transtorno de personalidade antissocial no qual não se sente culpa pelos atos disfuncionais).

Por isso, é interessante que se identifique situações que são gatilhos para a vontade de cutucar a pele (por exemplo, estresse, ansiedade ou convivência com certas pessoas).

Na medida do possível, é importante evitar aquilo que te faz sofrer e, por tabela, aquilo que gera as escoriações.

Uma maneira eficaz de controlar a vontade é realizar exercícios para aumentar a atenção no aqui e agora, controlando a impulsividade.

Por exemplo, a meditação mindfulness é uma técnica comprovada para aumentar o autocontrole, pois desenvolve os neurônios da região pré-frontal do cérebro, relacionada com a ponderação sobre os atos.

Sintomas de transtorno de escoriação? Procure ajuda!

Os sintomas de transtorno de escoriação são comuns e você não precisa conviver com eles por toda a vida.

Só quem sofre da condição sabe o quão constrangedor podem ser as marcas das lesões na pele e a sensação ruim que pode surgir de não conseguir controlar as escoriações.

Por isso, caso você apresente qualquer sintoma do transtorno de escoriação, conte com os mais de 4000 especialistas em saúde mental disponíveis na Zenklub para te ajudar!

Referências:

1) KAPLAN, H. B.; SADOCK, B. J.; GREBB, J. A. Compêndio de psiquiatria: Ciências do comportamento e psiquiatria clínica. Porto Alegre: Artes Médicas, 2003.

2) Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

3) GRANT, et al. N-Acetylcysteine in the treatment of excoriation disorder: A randomized clinical trial. JAMA Psychiatry 73. 2016. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27007062/.

4) ODLAUG, GRANT. Clinical characteristics and medical complications of pathologic skin picking. Gen. Hosp. Psychiatry. 2008. Disponível em: https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/18164942/.