Para muitas mulheres, ser mãe é um sonho. Envolve o prazer de acompanhar, mês a mês, o desenvolvimento de uma nova vida e vibrar a cada novo marco do crescimento do bebê tão desejado. É vivenciar a continuidade da própria existência.

A gravidez é uma revolução no corpo e na vida da mulher, mudando para sempre o seu papel no mundo e a sua capacidade de amar. Criar um filho é uma missão cheia de glórias e grandes desafios. Porém, não é qualquer pessoa que está disposta a encarar essa jornada: você sabe o que é tocofobia?

O que é tocofobia?

Em momentos marcados por crises econômicas, pandemia, aquecimento global e violência, a insegurança de trazer uma nova vida ao mundo é compreensível. Não é difícil sentir medo de gerar filhos nesse contexto. Até aí, é apenas um conflito interno entre o desejo de ser mãe ou pai e a situação em que vivemos. 

Tocofobia é quando o medo de engravidar ou do parto é excessivo, chegando ao patamar de pavor irracional e sensação de iminência de morte. O medo de engravidar pode ser um reflexo da experiência negativa de pessoas próximas. E, embora algumas mulheres com tocofobia querem ser mães, muitas desistem.

Entender a tocofobia e conhecer seus sinais é importante para viabilizar o tratamento o quanto antes. Isso porque ela está associada a transtornos de vínculo, depressão, ansiedade e transtorno de estresse pós-traumático. 

Tocofobia primária e secundária

Ver uma pessoa sofrer um aborto ou conhecer alguém que enfrenta as dificuldades de ter um bebê com necessidades especiais pode gerar traumas que impedem uma visão positiva da gravidez. Essa é a tocofobia primária, que ocorre sempre antes da primeira gestação e em qualquer momento da vida, inclusive na adolescência. 

Já a tocofobia secundária traz a experiência pessoal, que pode ser de uma gravidez anterior, como um parto prematuro ou com complicações, aborto ou violência obstétrica. E um detalhe importante: ela pode se manifestar durante uma gravidez, o que é um risco para a saúde da mãe e do bebê.

A tocofobia é um tipo de Transtorno de Ansiedade e ainda é pouco estudada. Foi classificada pela primeira vez em 2000, em um artigo publicado no British Journal of Psychiatry, uma publicação da Universidade de Cambridge. 

Ainda há muito o que estudar sobre este transtorno, mas ele já provoca curiosidade da população. Prova disso são as buscas crescentes na internet por termos como “tocofobia o que é”, “tocofobia significado” e “tocofobia psicologia”.

A tocofobia na gestação

Uma gestante com tocofobia não aceita a gravidez – pelo menos não totalmente – mas sente culpa por isso. E, assim como acontece no caso de estresse na gravidez, o organismo libera substâncias que prejudicam o desenvolvimento pleno do feto. 

O medo intenso causa alterações fisiológicas que interferem, entre outras coisas, na pressão arterial. Os desdobramentos podem ir desde o risco de pré-eclâmpsia até parto prematuro e dificuldades na amamentação. 

A tocofobia na gestação precisa ser tratada para que não evolua para um caso de depressão grave ou de depressão pós-parto. Pode ainda progredir, nos casos mais severos, para um quadro de psicose puerperal, que exige a separação do bebê.  

Por que eu tenho medo de engravidar?

O medo de engravidar é resultado de uma combinação de elementos. Eles variam conforme o histórico de cada pessoa e suas percepções de mundo. De histórias extraordinárias, mas possíveis, como a mulher que só soube que estava grávida na hora do parto, até infortúnios vivenciados ou testemunhados, tudo é motivo de temor. 

Também gera certa apreensão não ter a garantia de que o bebê seja saudável, de que o parto será tranquilo ou mesmo de que vai dar conta da missão de criar um filho. Quem teve seu relacionamento afetado em uma gestação anterior pela rejeição do marido durante a gravidez pode ter medo de que isso se repita em uma nova gestação.  

Quais os sintomas e como identificar se tenho tocofobia?

Em se tratando de tocofobia, sintomas mais frequentes são:

  • Ataques de pânico;
  • Pouco apetite;
  • Ansiedade;
  • Pesadelos;
  • Distúrbios do sono;
  • Irritabilidade e impaciência; 
  • Descontrole emocional ao falar sobre gravidez e parto.

Ainda que seja rara, a tocofobia em homens existe e precisa ser tratada. Mesmo não significando prejuízos à formação do bebê, implica nos laços afetivos com o bebê. Além disso, é um sofrimento legítimo e requer atenção para o bem-estar de toda a família.

Não há como se autodiagnosticar com tocofobia, mas alguns sinais podem ligar o alerta. Por exemplo, abusar de métodos contraceptivos, ter predisposição a transtornos de ansiedade, histórico de abuso sexual, baixa autoestima e problemas no relacionamento. 

Existe tratamento para tocofobia?

O ideal é que toda gestante pudesse ter acompanhamento psicológico para lidar melhor com os conflitos, as emoções e a expectativa que fazem parte desse momento tão delicado e sensível. Esse suporte ajuda a levar a gravidez com mais serenidade e equilíbrio, o que é bastante benéfico para o bebê. 

Para os casos mais leves de fotofobia, o tratamento com psicoterapia é o mais frequente. Quando mais severo, pode incluir ainda medicação. Se a fobia estiver muito relacionada ao parto, é possível cogitar uma cesárea eletiva, para que ela não sinta dor ou contrações e consiga com isso ficar mais tranquila. 

De qualquer forma, o tratamento deve ser iniciado o quanto antes para garantir o estabelecimento dos laços mãe e bebê, tão essenciais para o crescimento biopsicossocial saudável da criança.

Por isso, quem procura saber como curar a tocofobia descobre que a jornada começa na busca por ajuda profissional, mais precisamente com um especialista que transmita segurança e capacidade. 

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Referências

HOFBERG, Kristina. and BROCKINGTON, Ian. Tokophobia: An unreasoning dread of childbirth: A series of 26 cases. British Journal of Psychiatry. Cambridge University Press, 2000. Disponível em: https://www.cambridge.org/core/journals/the-british-journal-of-psychiatry/article/tokophobia-an-unreasoning-dread-of-childbirth/492B8EB19D16A2BD455E6BE7539564C9 

Mello RS, Toledo SF, Mendes AB, Melerato CR, Mello DS. Medo do parto em gestantes. Femina. 2021;49(2):121-8.