A gestação provavelmente é o maior dos marcos na vida de uma mulher (menarca, gravidez e menopausa) porque implica na ressignificação de seu papel e de sua identidade. É o sonho de muitas mulheres. Além disso, esse momento delicado envolve uma revolução hormonal que dificulta o controle das próprias emoções e do estresse. 

O estresse na gravidez é normal até certo ponto. Afinal, há muito o que fazer até a chegada do bebê, sem falar na expectativa quanto ao sexo, as dúvidas relacionadas ao parto e a insegurança sobre a aptidão materna. Especialmente quando se trata de uma gravidez de risco, o estresse tende a ser ainda mais intenso, podendo até se desdobrar em ansiedade na gravidez ou tocofobia. 

É normal ficar muito estressada na gravidez?

Estresse na gravidez é algo perfeitamente normal e compreensível. Enquanto não comprometer a normalidade na vida da mulher ou sua saúde, só precisa ser gerenciado para não se agravar e evoluir para algum transtorno de ansiedade. 

Qual é a diferença entre estresse e ansiedade?

O estresse é uma resposta física e emocional diante de uma situação. Ou seja, não necessariamente é algo negativo, mas uma forma de manter o organismo em prontidão para encarar os desafios do dia a dia. 

Dentro dos níveis normais, o estresse aumenta a energia, melhora o funcionamento cognitivo e mantém a pessoa focada e motivada a solucionar problemas. Então, o que devemos fazer é saber lidar com o estresse, e não eliminá-lo.    

Já a ansiedade é uma resposta ao estresse e envolve a antecipação a uma ameaça futura, normalmente marcada pelo medo ou nervosismo. Quando a preocupação e a tensão se tornam constantes e muito intensas, chegando a atrapalhar a vida normal, atinge níveis patológicos. 

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, aproximadamente 9% dos brasileiros sofrem de algum transtorno de ansiedade, a maior taxa de ansiedade do mundo.   

O que causa o estresse da mulher na gravidez?

São três tipos de situações que provocam o estresse em alguém, independente do sexo da pessoa. São os acontecimentos vitais, os eventos diários e as situações de tensão crônica. Conheça cada um a seguir.

Acontecimentos vitais

São grandes eventos, que nem sempre são resultado de uma determinada ação. Alguns são simplesmente parte inevitável da existência humana. Por exemplo, a gravidez, a morte de um familiar ou pessoa próxima, a saída de um filho ou filha de casa. 

Eventos diários 

Aqui se encaixam as pequenas tensões do cotidiano, como ter que aguardar em uma longa fila, perder coisas ou sofrer com o barulho da festa do vizinho. E vale destacar que mesmo sendo um evento menor, quando muito frequente, tem a capacidade de gerar efeitos biológicos e psicológicos mais intensos que um acontecimento vital. Isso vale especialmente para a mulher, que não deve sofrer muito estresse na gravidez. 

Situações de tensão crônica

Vale para situações de longa duração, que geram estresse intenso e persistente. Estes casos costumam ter efeitos psicopatológicos importantes, que demandam ajuda especializada. A tensão crônica pode ser consequência, por exemplo, de um relacionamento abusivo, com agressões físicas e emocionais. 

O que o bebê sente quando a mãe se estressa ou chora?

Conforme a gravidez avança, o bebê começa a desenvolver os sentidos. A partir da 21ª semana, todo o aparato necessário para a audição está suficientemente estruturado. A partir daí, ele começa gradativamente a ouvir.

Ele não compreende as palavras nem sabe interpretar o tom da voz, então não consegue distinguir as emoções que a mãe sente. Mas isso não quer dizer que ele não é afetado por elas. Ao contrário, as emoções da mãe liberam substâncias que circulam pela corrente sanguínea e, inevitavelmente, chegam à placenta – e ao organismo do bebê. 

Se a mãe está feliz, manda serotonina para o cordão umbilical e se está estressada, libera cortisol. O bebê reage a essas mensagens químicas principalmente pela movimentação e batimentos cardíacos. A atividade fetal aumenta ou diminui, assim como o sono. Havendo muito estresse na gravidez, o feto fica em constante estado de alerta e entra em sofrimento. 

Percebendo-se sob constante ameaça, ele pode disparar prematuramente os mecanismos do parto, em busca de alívio. Ou então, passar a dormir por muito tempo, afetando sua movimentação e gerando prejuízos ao seu tônus muscular.      

Quais as consequências do estresse na gravidez?

O que o estresse pode causar na gravidez? Dentro dos níveis normais, o estresse costuma diminuir com a remoção do agente estressor sem prejudicar o bebê. Então, se a situação estressante for rápida, puder ser adiada ou resolvida por outra pessoa, não haverá problema. 

Por outro lado, se a presença do estresse é constante na vida da gestante, é importante saber o que o estresse na gravidez pode causar. 

No corpo da mulher, o estresse provoca alterações hormonais, no sistema imunológico e na pressão arterial, com potencial para afetar o desenvolvimento do bebê e a evolução saudável da gravidez. A mulher que diz “estou muito estressada na gravidez” aumenta a liberação de citocinas inflamatórias e de cortisol e essas substâncias atravessam a placenta, chegando até o feto.

Como o estresse na gravidez afeta o bebê

Os efeitos no bebê vão depender de uma série de fatores. Não há uma regra que determine a forma e a intensidade desta resposta porque cada mulher reage aos estímulos à sua maneira. Algumas possibilidades de implicações do estresse na gravidez para os bebês são:

  • Baixo peso ao nascer;
  • Maior chance de ter alergias;
  • Risco de parto prematuro;
  • Resistência à insulina e risco de obesidade;
  • Possibilidade de desenvolver doenças cardíacas;
  • Alterações cerebrais;
  • Risco de distúrbios neuropsiquiátricos e de neurodesenvolvimento;
  • Complicações no parto;
  • Problemas afetivos na infância;
  • Baixa tolerância ao estresse;
  • Redução do líquido amniótico.

Estresse na gravidez pode causar sangramento?

O sangramento na gestação tem várias causas. Ele afeta entre 20% e 30% de todas as gestações e precisa sempre ser investigado. Sinaliza, entre outras coisas, uma gravidez ectópica, quando o feto não está dentro do útero. Quando a gravidez é ectópica, requer intervenção imediata, porque tem chances de ser fatal para a mulher.  

Outro exemplo de sangramento é a implantação saudável do embrião na parede uterina. Neste caso, é bem pequeno e costuma acontecer quando a mulher deveria estar menstruando. Ou seja, ela ainda nem sabe que está grávida e acaba confundindo com uma menstruação leve. 

Quando é muito intenso, o estresse na gravidez pode causar cólica, bem como o estresse na gravidez pode causar sangramento. É uma situação de risco e deve ser avaliada por um médico, porque também indica uma ameaça de aborto ou aborto completo.   

Como diminuir o estresse na gravidez?

Algumas estratégias ajudam a diminuir o estresse e a normalizar as alterações fisiológicas e emocionais que ele provoca. Especialmente no caso das gestantes, esse cuidado é importante e deve ser conhecido pelas pessoas mais próximas a elas. 

  • Adotar o mantra: o estresse normalmente é natural e aceitável. Só preciso saber lidar com ele. 
  • Procurar falar sobre o que está estressando para colocar a situação em perspectiva, enxergá-la de outra forma e conseguir encontrar soluções. 
  • Organizar a demanda por prioridades e procurar fazer uma tarefa por vez. 
  • Cuidar do essencial: alimentação e descanso jamais devem ser negligenciados durante a gravidez. 
  • Buscar o equilíbrio, reservando tempo para a família, o lazer, o trabalho, a organização para a chegada do bebê e momentos para cuidar de si mesma. 
  • Fazer mais atividades prazerosas como ver filmes, dançar, encontrar um hobby, passear e sair para comer, por exemplo.  
  • Aprender técnicas de controle da respiração.

Tratamento e prevenção do estresse na gravidez

O estresse é inevitável, já que é uma reação aos acontecimentos da vida cotidiana. O que faz a diferença entre o natural e o patológico é a forma como lidamos com ele. Isso porque a reação e o enfrentamento são formas de impedir que ele ganhe força e passe a dominar nossas ações e emoções. 

Meditação, atividade física e apoio são ótimas maneiras de reduzir os impactos do estresse, talvez até diminuir a sua ocorrência. São pilares que viabilizam a execução das estratégias mais adequadas e eficientes para cada pessoa. 

Meditação 

A meditação é um caminho para o autoconhecimento e, consequentemente, para a gestão dos pensamentos e sensações. Quem medita regularmente desenvolve a habilidade de colocar as coisas em perspectiva, fortalecendo o autocontrole. Algumas sugestões de técnicas de meditação são a atenção plena (também conhecida como mindfulness), tai chi chuan, tibetana e zen.  

Atividade física 

Exercício físico estimula a produção de endorfinas, essenciais para o bem-estar. Se antes da gestação a mulher não praticava alguma atividade física, tem uma boa oportunidade para começar. 

Com a devida orientação do obstetra, exercícios beneficiam não apenas a mente, mas também o corpo. A redução de dores, o fortalecimento muscular e melhor preparação para o parto são apenas alguns dos benefícios. Boas opções são o pilates e a yoga.

Procurar ajuda 

Para enfrentar os desafios da gestação, buscar apoio é fundamental. Seja de familiares ou amigos, seja de um terapeuta ou psicólogo, esse suporte reduz a pressão e ajuda a mulher a lidar melhor com os eventos estressantes que podem surgir. 

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Referências

THOMASON, Moriah E. et al. Interactive relations between maternal prenatal stress, fetal brain connectivity, and gestational age at delivery. Neuropsychopharmacol. 46, 1839–1847 (2021). Disponível em: https://doi.org/10.1038/s41386-021-01066-7 
DANTAS, Mariane. Ansiedade e estresse. Projeto de Prevenção aos Riscos Psicossociais, Instituto Federal do Rio Grande do Norte. Disponível em: https://portal.ifrn.edu.br/ifrn/servidores/saude-do-servidor/lateral/projeto-de-riscos-psicossociais/ansiedade-e-estresse