Como tratar os danos emocionais de um pai ausente
A família é uma entidade fundamental no desenvolvimento de traços e personalidades de uma pessoa. No entanto, nem sempre temos uma rede de apoio bem estruturada ou presente, gerando danos emocionais. Mas afinal, como tratar os danos emocionais de um pai ausente?
Essa com certeza não é uma tarefa muito simples. Para um filho, geralmente o pai é visto como um herói igual aqueles de histórias e filmes que estamos acostumados a ver.
Afinal, até algum tempo atrás o homem tinha o papel de sustentar a sua família; ele era o responsável por trabalhar e proporcionar uma vida mais confortável para a mulher e principalmente para seus filhos.
Dentro desse modelo já existe um grau de ausência paterna que é mais socialmente aceito. Mas, além disso, cada vez mais nos deparamos com construções de família onde os filhos crescem sem a presença do pai.
Sabemos que isso gera danos psicológicos preocupantes para o indivíduo de qualquer idade e precisa sim ser olhado mais de perto. Para entendermos um pouco melhor sobre o assunto de modo geral, abaixo separamos alguns tópicos que irão nos ajudar.
O que é um pai ausente?
A presença do pai na vida de qualquer indivíduo e, principalmente, na vida da criança e do adolecente é extremamente importante.
É através dele e da mãe que a criança terá uma educação e desenvolverá ao longo do tempo seu caráter, índole e princípios. É comum dizer até mesmo que o filho nada mais é que um espelho do pai e da mãe, daquilo que eles ensinam lhe são passados principalmente na infância.
Um pai ausente não é aquele que se separou de sua parceira e, devido a atual situação deixa de estar presente junto ao filho todos os dias. Mas sim um pai ausente é aquele que independente da circunstância não contribui quase nada ou de forma alguma com a formação e a educação de seus filhos.
Isso pode acontecer mesmo se ele mora ou não na mesma casa que seus filhos. É claro que um pai ausente não é apenas por motivo de separação como mencionamos acima. Sua ausência pode se dar devido ao falecimento ou também por não querer fazer parte do dia a dia.
O fato é que a ausência da figura paterna pode e causa danos psicológicos que precisam ser trabalhados o quanto antes, pois não prejudica o indivíduo apenas na infância, mas durante toda sua vida e em diversos campos dela.
Por que cresce o número de pais ausentes?
Sabemos que com o passar dos anos as coisas mudaram muito e o índice de pais ausentes aumentou muito. Para a mulher, ser mãe solo não é uma tarefa fácil, dar conta dos filhos, do trabalho, da casa e de todas as outras responsabilidades sem uma rede de apoio e sem o suporte do pai é cada vez mais uma realidade presente.
De acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), quase 12 milhões de mulheres vivem essa realidade hoje. Desde 2016, os dados que apontam os pais ausentes no Brasil eram em torno de 5%, porém, isso é com base no total de nascidos registrados.
Em 2017 essa taxa caiu para 3%, o que ainda sim é uma quantidade significante. Porém, nos últimos dois anos e com a chegada da pandemia essa porcentagem de homens que não assumem a paternidade cresceu para 6%, com a região Norte do país sendo a que possui o maior número de crianças nascidas que não possuem registro paterno.
Esses dados que mencionamos são de acordo com crianças nascidas sem registro. Mas, a ausência paterna não acontece apenas dessa forma, ela também vem no decorrer da vida e do dia a dia com o falecimento, com os desentendimentos, falta de carinho e afeto ou até mesmo questões como o vício.
Quais os danos emocionais ocasionados por um pai ausente?
Um pai ausente infelizmente é uma realidade para muitos e isso causa danos prejudiciais na formação do indivíduo, principalmente quando essa ausência se dá a partir da infância e essa criança não possui uma rede de apoio.
Normalmente os sinais e consequências começam a ser percebidos já na infância, através de suas ações e comportamentos. Isso pode ter reflexo também na vida adulta e, muitas vezes, corrigir esses comportamentos não são tarefas fáceis.
Uma pessoa que precisou lidar com a ausência do pai, seja ela física ou emocional, pode tornar-se uma pessoa com características particulares que vamos explicar com mais detalhes abaixo.
Revolta
A revolta é um sentimento muito presente nesses casos, principalmente quando falamos de uma ausência não apenas física, mas emocional também. São os casos onde falta atenção, suporte e sentimentos paternos.
De acordo com o dicionário , revolta é a manifestação coletiva de rebeldia, armada ou não, contra e qualquer tipo de autoridade ou ordem. E essas ações podem ser percebidas desde a infância, se agravando ainda mais no período da adolescência que é quando o indivíduo já possui uma maior consciência de seus atos.
Por isso, é importante observar a pessoa desde a infância, orientando e trabalhando as questões para que isso não se agrave com o decorrer dos anos. Buscar ajuda de um profissional da psicologia é extremamente importante.
Tristeza
A tristeza também é um sentimento que se faz presente devido a ausência paterna. Essa tristeza nasce devido à falta que essa figura de pai faz na formação e no dia a dia da pessoa. É necessário tomar cuidado, pois a tristeza extrema pode evoluir para um estágio de depressão.
É compreensível que, de acordo com algumas circunstâncias dolorosas, seja difícil evitar esse tipo de sentimento e passamos a observar uma criança triste. Por isso, buscar ajuda de um profissional ajudará a lidar com toda essa carga emocional com mais facilidade.
Ansiedade
A ansiedade é um dos males do século e se faz presente na vida de muitas pessoas e cada um possui sua maneira de lidar com esse problema. A ansiedade é um sentimento ligado à preocupação, nervosismo e medo intenso e não é exclusiva de adultos, sendo cada vez mais comum a ansiedade infantil.
E para quem precisa lidar com a questão da ausência paterna não é muito diferente, pois, o suporte emocional e o papel que um pai possui na vida de um filho é extremamente importante na hora de aprender a lidar com esses sentimentos.
Depressão
A depressão também é um fator que precisa ser observado com muita atenção, afinal, se trata de uma doença psicológica emocional, onde a pessoa apresenta um estado de tristeza profunda, desânimo, pessimismo, baixa auto-estima, entre outros.
E essa doença pode sim ser desenvolvida devido a ausência paterna, principalmente pela falta do suporte emocional. A depressão infantil é uma realidade marcante em casos como esse.
Por isso, é extremamente importante observar essa criança com atenção e cautela e mesmo que ela não apresente qualquer sintoma, buscar ajuda de um profissional, para evitar que no futuro ela sofra por questões mal resolvidas.
Sensação de abandono
Em decorrência do sofrimento emocional causado pela ausência do pai, esses indivíduos costumam ter medo da decepção e principalmente do abandono. E esse medo do abandono pode levá-la a uma dependência emocional em relação a uma outra pessoa, independente do papel que ela desempenhe em sua vida
A importância da paternidade presente na criação dos filhos
A presença ativa e constante do pai na vida do indivíduo desde seu nascimento pode ajudar principalmente a criança a se sentir mais segura, ainda mais no momento em que ela passa a viver novas experiências.
É preciso deixar claro que isso não quer dizer que a mãe também não possa exercer esse papel, porém, geralmente ambas as figuras possuem formas diferentes de se comunicar e interagir com seus filhos.
Além disso, seus papéis são diferentes enquanto a educação. O fato é que, independente de qualquer situação, o papel e a presença do pai é extremamente importante na vida e na formação daquela pessoa.
Como tratar as crianças que sofrem com a ausência do pai?
A opinião negativa que o adulto possui pela ausência paterna, é coberta de exigências e críticas e por isso costuma a assumir para si o papel principal na família, aquele que na teoria seria ocupado pela figura paterna.
Porém, já para a criança diante da ausência da figura paterna, é completamente natural que ela sinta essa falta, o que poderá causar um sentimento de raiva e frustração pelo fato de não ter o pai ao seu lado de forma constante e desencadeando diversos outros sentimentos.
Diante desse cenário, é fundamental que a família esteja atenta aos sinais que a criança transmite e assim buscar meios para ajudá-la, como:
Terapia familiar
A terapia familiar se trata de uma abordagem realizada em grupo, a fim de construir e desenvolver um diálogo entre os familiares, com o objetivo de auxiliar na resolução de problemas e principalmente desenvolver uma relação de respeito entre as partes.
No caso da criança, isso acontece com a presença da mãe e de uma outra figura que se tornou presente devido a circunstância, que geralmente são os avós.
Acompanhamento psicológico
O acompanhamento psicológico para a criança é importante não apenas diante da ausência da figura paterna em sua vida, mas para sua formação de modo em geral.
Porém, a postura do adulto que é responsável e lida com a criança é fundamental nesse momento e muitas das vezes a assistência em casos como esse precisa ser iniciada com o tratamento psicológico desse adulto responsável.
Por isso, buscar o auxílio de um psicólogo é muito importante não apenas para a criança em si, mas para sua rede de apoio também.
Diálogo cuidadoso
É importante ter um certo cuidado ao conversar com a criança, mas é importante que ela tenha conhecimento sobre a verdade. É óbvio, que determinadas coisas precisam ser ditas de forma cautelosa e menos transparente a uma criança, afinal, seu entendimento sobre as coisas ainda não é o mesmo de um adulto.
Ainda assim, é preciso que a criança tenha noção da real situação, e saiba de forma franca quais são os problemas da ausência paterna. Dessa forma, no futuro sua frustração não será maior e evitará que ela assuma a culpa ou atribua a outra pessoa.
Acompanhamento comportamental
A terapia cognitivo-comportamental é a abordagem geralmente recomendada e auxilia a criança a lidar com os inúmeros sentimentos, diante dos estímulos familiares em questão.
É preciso observar a criança e entender os sinais que ela transmite, como birras frequentes, dificuldade de estar diante de muitas pessoas, dificuldade de concentração, ansiedade, problemas de aprendizado, entre outros. Esses são sinais que o profissional que segue a abordagem comportamental consegue encontrar e entrar em ação.
Conclusão
Tratar danos emocionais de um pai ausente é um dos maiores desafios na hora de garantir uma criação segura e saudável para crianças e jovens. É preciso entender que muitos sentimentos estão envolvidos nesse processo que é fundamental para o desenvolvimento da personalidade das pessoas.
Esse é um processo delicado e que, quando bem assistido e feito, busca resolver essa adversidade de uma maneira menos traumática. Por isso, a informação e a ajuda de uma equipe variada de profissionais como psicólogos, terapeutas e coaches pode facilitar essa jornada.
É preciso investir em autoconhecimento, segurança e bem-estar emocional para jovens e crianças. Para isso, o Zenklub pode te ajudar, com diversos profissionais capacitados para guiar projetos de inclusão e bem-estar emocional.
Referências
EIZIRIK, Mariana; BERGMANN, David Simon. Ausência paterna e sua repercussão no desenvolvimento da criança e do adolescente: um relato de caso. Revista de psiquiatria do Rio Grande do Sul, v. 26, p. 330-336, 2004.
SGANZERLA, Ilciane Maria; LEVANDOWSKI, Daniela Centenaro. Ausência paterna e suas repercussões para o adolescente: revisando a literatura. Psicologia em Revista, v. 16, n. 2, p. 295-309, 2010.
Rui Brandão é médico, com experiência em Portugal, Brasil e Estados Unidos da América, e mestre em Administração pela FGV em São Paulo. Hoje é CEO & Co-fundador do Zenklub, plataforma de saúde emocional e desenvolvimento pessoal que oferece conteúdos, profissionais e ferramentas especializadas para mais de 1.5 milhões de pessoas no Brasil.