A decisão da adoção de uma criança ou adolescente pode ter diferentes motivações pessoais, como dificuldades em gerar o próprio filho, ou porque se sente a necessidade emocional de fazer esse ato de amor ao próximo, ou ainda, podemos celebrar as famílias, compostas por pessoas do mesmo sexo que, por questões biológicas, ou de preferência, não podem gerar os seus, mas possuem amor de sobra para adotar e criar.

Enfim, não dá para resumir ou simplificar essas razões que no final levam ao mesmo resultado: um ato de amor. Mas, mesmo sabendo que o sentimento tão aguardado nessa situação é o amor, há diferentes anseios, medos e dúvidas que podem questionar o nosso emocional.

E se não der certo? E se a criança não se adaptar a minha rotina, família ou costumes? Não podemos deixar de lado esses impactos, precisamos falar sobre o assunto e também trazer informações para você que está pensando e se enchendo de vontade de ser um pai ou uma mãe adotivos.

Então, vamos ver aqui um resumo do passo a passo do que devemos fazer para entrar no processo de adoção e também conversar um pouco sobre as questões emocionais que envolvem esse momento.

O que é adotar?

No dicionário, adotar é um verbo transitivo que significa “Tomar por filho. Escolher e seguir. Perfilhar” (Dicionário Priberam da Língua Portuguesa), ou seja, é receber e considerar alguém como filho ou filha.

Em termos jurídicos, a adoção é um movimento legal e irreversível que irá transferir o poder familiar dos pais biológicos, ou seja, quem gerou a criança, para os pais adotivos, que não possuem laços sanguíneos.

E, apesar da adoção de uma criança também representar um contrato legal de parentesco, sabemos que é impossível desvincular esse ato com os laços de afeto que irão se formar com essa nova estrutura familiar.

E aí que vem as dúvidas né, afinal Família é um termo que tem muitos sentimentos e significados, então como receber para si esse de uma forma mais natural e agradável e como refletir o mesmo apreço e intensidade para aquele que está chegando?

Fique calmo. Segundo estudos, adotar tem o mesmo significado, ou se podemos chamar de preocupações, do que esperar um filho biológico. Isso porque, as questões, como a ansiedade emocional, a reestruturação da família, as mudanças da rotina do casal e do dia a dia, são as mesmas.

Além disso, assim como um filho biológico você demanda das mesmas cargas de imaginação, idealização e desejo de quem esse fruto será, antes mesmo de estarem na presença física dos pais.

Uma decisão firme

Pensando nesse lado emocional que pode estar dificultando a sua decisão, separamos aqui alguns aspectos que podem se encaixar no seu caso e te ajudar a responder suas dúvidas emocionais:

Você sabe por que quer adotar?

Como toda decisão importante na nossa vida, é preciso olharmos para a motivação que nos faz escolher e decidir adotar. E se entender nesse processo de decisão, analisando os pontos fortes e fracos, é o que lhe dará certeza e confiança para seguir em frente.

Equilíbrio emocional

Independente da condição biológica, ter um filho envolve situações desafiadoras para o nosso emocional. Não que exista o momento ideal para tomar essa decisão, mas você deve refletir sobre o seu equilíbrio emocional para se sentir mais motivado em tomar essa decisão.

Situação financeira

Todos sabemos das nossas realidades financeiras e isso não necessariamente é um revés na hora de decidir, mas você precisa lembrar que ter uma criança envolve custos como educação, lazer e cuidados com a saúde. Reflita sobre o seu momento e se tiver dificuldades de assumir todos esses compromissos, pense em como se adaptar para tê-los.

Controlando a ansiedade

São muitos trâmites que envolvem esse processo de adoção, como vamos explanar mais a frente, então, respira fundo, trabalhe o seu autocontrole e tenha paciência de esperar tudo dar certo.

Quem pode adotar?

Os candidatos à adoção podem ser homens ou mulheres, maiores de 18 anos, com uma situação socioeconômica considerada estável, ou seja, capaz de manter financeiramente uma família.

É preciso também ser respeitada a diferença de pelo menos 16 anos de diferença entre o adotado e os pais adotivos. E, vale lembrar que você não precisa estar casado para adotar uma criança, solteiros, viúvos e divorciados também podem adotar. Porém, no caso da adoção por um casal, é necessário, no mínimo, a regularização do par em união civil estável.

Como adotar uma criança?

O processo de adoção de filhos é intenso e até burocrático, por isso muitas pessoas têm dúvidas de como funciona o cadastro nacional de adoção no Brasil, o que se deve fazer para entrar na fila de adoção e o principal: por onde eu começo isso tudo?

Preparamos um passo a passo rápido para que você organize o seu pensamento, saiba melhor como funciona o processo de adoção e se anime em cumprir com a sua missão de amor!

1) Estou decidido a adotar!

Parabéns! Agora, procure a Vara da Infância e da Juventude no seu município e veja a lista de documentos que você precisa ter para iniciar o processo de adoção. Em geral, são solicitados os seguintes documentos: Registro Geral (RG), Cadastro de Pessoa Física (CPF), Certidão de Nascimento ou Casamento, comprovantes de residência, rendimentos ou uma declaração equivalente, atestado ou declaração médica de sanidade física e mental, além de certidões cível e criminal.

2) Procure seu advogado

Agora que você já tem a documentação, é hora de convocar o seu advogado ou um defensor público para emitir uma petição para dar entrada no processo de inscrição para a adoção. Após aprovação dessa petição de pedido de adoção na Vara de Infância, seu nome estará habilitado a constar no cadastro local e nacional de pretendentes à adoção.

3) Curso e avaliação psicossocial

Obrigatoriamente você precisará concluir o curso de preparação psicossocial e jurídica para adoção. O curso é semanal e pode ter duração de 2 meses, após conclusão do mesmo, você será submetido a uma avaliação psicossocial, ou seja, entrevistas e visitas à sua casa, feitas por uma equipe técnica que irão avaliar sua situação socioeconômica e psicoemocional.

4) Escolhendo um perfil

Pode parecer estranho falar sobre esse assunto, mas é natural que você tenha determinadas preferências sobre o perfil da criança, e então, você poderá expressar as suas preferências em relação ao sexo, faixa etária, estado de saúde e outros aspectos da criança.

5) Resultado: aprovado!

Com o certificado de habilitação encaminhado o juiz da vara dará a sentença e após aprovado, seu nome estará disponível no cadastro nacional, por até 2 anos, até que se encontre uma criança compatível com o seu perfil.

6) Uma criança compatível!

Finalmente chegou o momento mais aguardado e o próximo passo é a Vara de Infância apresentar a você sobre o histórico da criança, antes de vocês serem apresentadas pessoalmente. Se você concordar com a opção elegida, haverá um primeiro encontro e outros momentos chamados de convivência monitorada, já que é acompanhado pela equipe técnica e pela Justiça, e a criança também será ouvida para entender se ela também deseja seguir com o processo.

Nesse processo você terá também a liberdade de fazer pequenos passeios em ambientes talvez mais confortável para que crie-se um espaço para estreitar os laços, ou seja, essas visitas monitoradas não necessariamente precisam ser feitas dentro do abrigo.

7) Guarda provisória

Passada as visitas técnicas, chega a hora de se relacionar nos seus próprios espaços e começar a construir efetivamente essa nova família e essa nova rotina. É a guarda provisória, que será monitorada, ainda, periodicamente, para formatar uma avaliação conclusiva do processo, mas que já traz um gostinho emocional do que você está construindo.

8) Enfim, lar, doce, lar

O próximo passo é a conclusão de todo o processo, a definição do juiz de que está tudo certo com a sua adoção e o sentimento final de dever cumprido, somos uma nova família, com todas as considerações emocionais e jurídicas prontas.

Vale lembrar, que é possível solicitar um novo registro de nascimento, incluindo o sobrenome da nova família.

Por que não visitar instituições de acolhimento?

Muita gente ainda acha que ir a abrigos ou orfanatos, como são popularmente conhecidos, pode facilitar o processo de escolha, mas existem outras questões importantes a serem consideradas para que você não opte por essa prática.

Esse tipo de ação é considerada um tipo de exposição que trata as crianças como objetos de escolhas, criando diversas sensações nelas, como ansiedade e frustração, sendo que, talvez, muitas delas nem estejam habilitadas para adoção.

Como criar vínculo emocional com meu filho adotivo?

Não existe uma regra absoluta para que isso aconteça e você vai perceber que as coisas também podem ser conduzidas de forma bem mais natural do que você imagina, mas separamos aqui algumas dicas dos especialistas para você considerar:

Gere confiança

Entenda que para gerar um laço de confiança, por mais que pareça difícil, é importante que a criança tenha o conhecimento de que ela foi sim adotada. Você pode até não saber necessariamente os motivos que as fez chegar a essa condição, mas não leve essas dúvidas para além desse problema. Seja honesto e receba de volta afeto, gratidão e confiança.

Pais Biológicos

Se você tem conhecimento sobre os pais biológicos do seu filho, considere não perder o contato com eles até que o seu filho seja capaz de decidir se quer ou não conhecê-los.

Além disso, evite nutrir raiva pelo que aconteceu a esses pais biológicos. Procure se colocar em local seguro sobre o seu ato de amor, mas não desconsidere que o ato do abandono pode ter sido cometido por questões além do que você possa julgar.

Apoio emocional

Biologicamente, muito do que a mãe vive durante a gestação é sentido e vivido por aquele feto, então é natural que parte do desenvolvimento dessa criança que você deseja adotar tenha ficado longe das suas mãos.

De qualquer forma, não é algo a se desesperar, somos capazes de escrever a partir de folhas em branco, mas somos capazes também de desenvolver nossas emoções e habilidades sociais.

Esse é o processo de criação, normal para qualquer família, afinal, quem nunca foi um adolescente rebelde, mesmo criado por uma família biológica, que atire a primeira pedra!

Se você encontrar dificuldades para desenvolver certas ferramentas emocionais e de personalidade, tanto em você como pai e mãe biológico, como em seu filho adotado, encontre em um especialista em bem-estar emocional, como psicólogos, esse apoio para superar e desenhar essa nova versão de si e da sua família.