Por muito tempo, saúde mental foi tratada como uma pauta delicada demais para os negócios. Mas os números mostram que ignorá-la custa caro.
Segundo a OMS, a cada US$ 1 investido em saúde mental, há retorno de US$ 4 em produtividade. No Brasil, os transtornos mentais já são a 3ª principal causa de afastamento do trabalho (INSS, 2024). Em paralelo, a inflação médica segue subindo acima de dois dígitos ao ano, colocando os planos de saúde entre os maiores custos corporativos, perdendo apenas para a folha salarial.
É nesse contexto que empresas que tratam saúde emocional como prioridade estão colhendo resultados financeiros, humanos e organizacionais.
“Saúde emocional não é acessório. É o motor invisível da saúde corporativa.” — Gabrielle Teco
Este conteúdo é uma cobertura aprofundada do webinar promovido por Zenklub e Conexa, realizado em julho de 2025, com mediação de Gabrielle Teco e participação de Rui Brandão e Gabriel Garcez.
Ao longo do texto, você verá como grandes empresas estruturaram programas de saúde mental e colheram resultados concretos — como redução de sinistros, ROI positivo e menos afastamentos.
Quando o cuidado vira economia: a redução de sinistros da Volkswagen
A Volkswagen enfrentava um desafio recorrente: controlar os custos crescentes com saúde de uma operação robusta, com mais de 43 mil colaboradores e dependentes. Em um cenário de inflação médica persistente, sinistros em alta e pressão sobre os orçamentos de RH, a empresa decidiu agir com estratégia.
Com um programa estruturado de saúde mental, a Volkswagen reduziu em 29% o sinistro per capita em dois anos e registrou zero internações psiquiátricas no mesmo período.
O que é “sinistro per capita” e por que ele importa tanto?
Sinistro per capita é o valor médio que a empresa gasta com plano de saúde por colaborador (ou vida coberta), considerando consultas, exames, internações e outros atendimentos.
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Quando esse indicador sobe, o plano fica mais caro e o reajuste anual tende a ser maior.
Quando ele cai, a empresa economiza sem precisar cortar cobertura.
“Quando a pessoa é acompanhada por um psicólogo, ela entende melhor sua saúde, evita idas desnecessárias ao pronto-socorro e começa a usar o sistema com mais consciência.” — Rui Brandão
Na prática, a saúde mental bem gerida ajuda a reduzir o uso emergencial do plano, melhorar o manejo de doenças crônicas e até evitar exames e consultas de alta complexidade sem necessidade.
Essa mudança de comportamento poupou recursos e tornou o plano mais sustentável para a empresa e mais útil para quem precisa dele de verdade.
Afastamentos evitáveis: o impacto do cuidado psiquiátrico proativo
Na P&G, um dos maiores desafios era lidar com o aumento de afastamentos longos por transtornos mentais. A empresa precisava de uma resposta clínica ágil e encontrou essa solução por meio de uma estratégia de cuidado psiquiátrico coordenado, que incluiu:
- Psiquiatras especializados no ambiente corporativo
- Agendamento rápido (em até 24h)
- Integração direta com a medicina ocupacional
O resultado foi contundente: redução de 92% no absenteísmo. Colaboradores que antes ficavam afastados por longos períodos voltaram com mais segurança e estabilidade.
“A gente entendeu que o trabalho nem sempre adoece, em muitos casos, ele protege. E um psiquiatra preparado sabe identificar isso.” — Rui Brandão
Quebrando o tabu: o papel estratégico da psiquiatria do trabalho
Historicamente, a psiquiatria só entrava em cena quando tudo já tinha falhado, como um último recurso. Mas esse modelo está sendo superado.
O cuidado psiquiátrico proativo, especialmente dentro das empresas, tem se mostrado eficaz para evitar o agravamento dos quadros mentais, identificar rapidamente os sinais de risco e atuar com resolutividade sem afastar o colaborador desnecessariamente.
Segundo dados amplamente divulgados pela imprensa com base em registros do INSS, o número de afastamentos por transtornos mentais cresceu mais de 30% entre 2021 e 2024, colocando essas causas como a 3ª principal motivação de licenças no país.
Em muitos desses casos, uma intervenção precoce poderia ter evitado o afastamento, ou ao menos reduzido sua duração. É o que a P&G provou ao estruturar uma resposta integrada, rápida e coordenada.
Além de prevenir licenças, a empresa passou a tratar casos complexos com mais assertividade, evitando que sintomas se agravassem e exigissem afastamentos longos ou reincidentes.
Saúde mental como investimento: o ROI da Marfrig
Em empresas com alta dependência de capital humano, como a Marfrig, afastamentos por saúde mental representam um risco tanto humano quanto operacional. Para lidar com essa realidade, a empresa estruturou uma jornada contínua de cuidado emocional, integrando psicologia e psiquiatria de forma coordenada.
Os resultados:
- 33% de queda nos atestados por transtornos mentais (CID-F)
- 38% de redução nos dias de afastamento
- ROI de R$ 1,46 para cada R$ 1 investido
“O que garantiu esse retorno foi a combinação de promoção de saúde, acesso rápido e uma estratégia assistencial integrada.” — Gabriel Garcez
ROI em saúde mental: o que realmente está sendo medido?
O Retorno sobre Investimento (ROI) é uma métrica clara e direta, mas, no contexto da saúde corporativa, seu valor vai além da matemática. Ele representa o quanto cada real investido em saúde mental retorna em forma de:
- Redução de custos com atestados e sinistros
- Preservação da capacidade produtiva
- Redução do turnover e do tempo de reposição de vagas
- Melhora no clima organizacional
No caso da Marfrig, o ROI positivo só foi possível porque a estratégia combinou acompanhamento clínico contínuo, mapeamento profundo dos riscos psicossociais e parceria técnica com especialistas em saúde corporativa. O que garantiu resolutividade real, sem sobrecarga para o RH ou para os líderes da operação.
A importância do cuidado contínuo com especialistas
Programas pontuais podem aliviar sintomas temporariamente, mas não sustentam mudanças duradouras. Já o acompanhamento constante, feito por uma equipe multidisciplinar experiente, permite:
- Identificar fatores de risco antes que se agravem
- Personalizar o plano de cuidado conforme o perfil da empresa
- Agir de forma integrada com a medicina ocupacional
- Coletar dados em tempo real para ajustes estratégicos
É esse tipo de estrutura que transforma saúde mental de “despesa necessária” em investimento com retorno comprovado, especialmente em empresas onde pessoas são o principal ativo.
O fator mais importante: engajamento
A eficácia de qualquer programa de saúde mental depende de um elemento muitas vezes subestimado: engajamento. Não basta oferecer serviços, é preciso garantir que as pessoas se sintam seguras, motivadas e acolhidas para usá-los. A Aegea demonstrou com clareza como estruturar esse caminho.
Case Aegea: 50% de adesão dos colaboradores atestados
Em apenas cinco meses, a Aegea alcançou resultados expressivos:
- Economia de R$ 195 mil
- Redução de 32% no tempo médio dos atestados
- Queda no custo por atestado: de R$ 769 para R$ 537
- Mais de 50% dos colaboradores atestados fizeram três ou mais sessões
“Muita gente fala: ‘montei o programa, mas ninguém usa’. Engajamento precisa ser construído com acesso, escuta e apoio da liderança.” — Gabriel Garcez
O engajamento não é um objetivo em si, é consequência de uma cultura que prioriza o bem-estar, da confiança nas equipes clínicas e da comunicação ativa das lideranças. Quando o colaborador percebe que o cuidado é real, ele adere.
Além disso, a análise mostrou um dado importante: quem fazia mais sessões se afastava por menos tempo, comprovando o impacto positivo do cuidado contínuo sobre a jornada de recuperação.
Terapia impacta permanência: dados que fazem diferença
Segundo uma pesquisa publicada pela Exame, com base em dados de 3,1 mil colaboradores, aqueles que realizaram mais de quatro sessões de terapia permaneceram em média 30 % mais tempo nas empresas que aqueles com menor engajamento.
Enquanto os engajados ficaram cerca de 363 dias, os demais ficaram 278 dias — ou seja, a cada quatro ou cinco sessões de terapia, aumentava-se um mês de permanência.
“As sessões de terapia são apenas o primeiro pilar dessa jornada de bem-estar (...) oferecer um espaço de acolhimento para esse trabalhador já mostra os primeiros resultados.” — Rui Brandão
Esse dado reforça que o engajamento impacta diretamente na retenção, que por sua vez influencia produtividade, clima organizacional e custos de turnover, mas sempre partindo do ponto principal: o cuidado com as pessoas.
O benefício vai além da redução de atestados
Embora a redução do tempo de afastamento e o ganho de produtividade sejam relevantes, o ponto de partida e de chegada, continua sendo o bem-estar do colaborador. A melhoria nos indicadores só é sustentável quando decorre de pessoas se sentindo melhor, mais cuidadas e com suporte real para atravessar seus desafios emocionais.
Empresas que colocam a saúde mental no centro das decisões organizacionais colhem não só resultados, mas relações mais humanas, ambientes mais saudáveis e equipes mais conectadas.
Coordenação do cuidado: o que faz a diferença
Mais do que ofertar consultas, às empresas que obtêm resultados estruturaram um sistema coordenado com:
- Profissionais que se comunicam entre si
- Compartilhamento de informações clínicas (com consentimento)
- Enfermagem de apoio para navegação do cuidado
- Dados em tempo real para gestão populacional
“Quando psicólogo, psiquiatra e enfermeiro falam entre si, o colaborador deixa de ser um paciente isolado e passa a ser cuidado como um todo.” — Gabriel Garcez
Essa estrutura permite identificar riscos, agir rápido e adaptar políticas, inclusive considerando o impacto de mudanças como retorno presencial, escalas de plantão ou alterações de jornada.
O papel da liderança: sem cultura, não há engajamento
Um aprendizado comum entre os cases foi o papel central da alta liderança no sucesso dos programas. Segundo a P&G, o engajamento dos gestores foi o ponto de virada:
Isso exige mais do que discursos prontos. Exige comportamentos visíveis, como participação ativa, escuta empática e flexibilidade quando necessário.
ROI, economia e bem-estar: o tripé da nova saúde corporativa
A jornada de Volkswagen, P&G, Marfrig e Aegea mostra que:
- Saúde mental reduz sinistros, atestados e absenteísmo
- Gera retorno financeiro em poucos meses
- Fortalece cultura organizacional e engajamento
Essa transformação só é possível quando o cuidado deixa de ser isolado e vira parte da estratégia de negócio.
“Hoje, com tecnologia e especialistas, cuidar da saúde mental deixou de ser difícil. Só precisa de decisão.” — Rui Brandão
Se a sua empresa ainda não sabe por onde começar, talvez seja hora de conversar sobre saúde mental com quem entende do assunto: Zenklub