Muitas pessoas sonham em viver a experiência de morar fora de seu país de origem, seja para um breve intercâmbio universitário, um trabalho temporário para aprimorar um novo idioma ou até aqueles que desejam mesmo construir uma nova raiz de identificação e moradia em terras estrangeiras.

Talvez isso já tenha passado pela sua cabeça também, e por isso, vamos trazer aqui informações, dicas, prós e contras e a opinião dos nossos especialistas em bem-estar emocional, seja para ajudar quem já está em novas terras ou para aqueles que estudam dar esse novo passo.

Brasilidade em terras estrangeiras

Segundo dados estimados pelo Ministério das Relações Exteriores, em 2018, mais de 3 milhões de brasileiros vivem em outros países, sendo que mais de 1 milhão somente nos EUA. Ainda nesse levantamento, afirma-se que desses mais de 3 milhões de brasileiros que moram fora, 48% estão na América do Norte, 24% na Europa, 17% nos nossos vizinhos na América do Sul, 6% na Ásia, 2% no Oriente Médio e 1% na América Central, Oceania e África.

Outro dado curioso, é que os brasileiros formam mais de 10% da população total na Guiana Francesa, e até 5% em países como Paraguai, Suriname, Guiana, Portugal, Suíça e EUA.

Novo Mundo

Mais do que conhecer lugares diferentes, experimentar novos sabores culinários, falar outros idiomas e enriquecer a bagagem de boas histórias, morar fora compreende algo maior, algo sensitivo que só a experiência poderá nos apresentar.

Segundo a psicóloga e especialista do Zenklub, Tatiana Festi, “viver no exterior significa ir ao encontro do novo. Ao mudarmos, nos deparamos com o desconhecido que passará a habitar dentro de nós mesmos. Nos abrimos para a possibilidade de nos “deslocarmos” internamente, além de nos conectarmos com emoções, reações, sentimentos e pensamentos que não conhecíamos ou pouco havíamos explorado antes.”.

Terapia é para quem quer se desenvolver

Não queremos dizer que há um senso comum de sentimentos e aprendizados. Cada pessoa reage de uma forma diante dessas novas possibilidades de aprendizado pessoal. O importante é conversarmos aqui sobre os desafios e superações que podemos conquistar diante dessa mudança.

Quais são os prós em morar fora?

Se você mora no exterior chegou a hora de refletir sobre as situações que você já vive em seu novo lar. Se você ainda está se decidindo em dar esse passo ou conhece alguém nessa situação, o momento é avaliar junto conosco o quanto você está preparado e o quanto você ainda pode se preparar.

1) Autoconhecimento

“Durante o processo de autoconhecimento, acabamos nos conhecendo melhor, descobrindo que o que realmente nos define está dentro de nós, em quem somos, independentemente de onde estivermos. A vida no exterior ensina que nossas raízes não dependem de localização geográfica. Nossas raízes estão onde nosso coração está e nosso sentido de lar pode mudar radicalmente”, afirma Tatiana Festi;

2) Saudade pode medir suas relações

A saudade das pessoas e de hábitos que você mantinha em seu local de origem, podem ser um excelente termômetro para você reavaliar suas relações e atitudes. É com a saudade que você vai ter o espaço ideal para perceber a importância do que você já viveu e quais são seus verdadeiros sentimentos, gostos e preferências;

3) Ampliar suas chances de crescimento profissional

Em um mercado tão competitivo, uma experiência no exterior é um ponto a mais no currículo, e não pense que é apenas pela questão de dominar melhor um novo idioma. Morar fora traz também um perfil mais adaptativo, aumenta sua capacidade de resiliência e empatia;

4) Encontre novos propósitos

Nem tudo dará certo sempre e aquele seu propósito inicial pode mudar rapidamente, é verdade. Longe de casa as possibilidades são muitas e é preciso coração aberto para aproveitar ao máximo as oportunidades;

5) Bagagem cheia

“A vivência com pessoas de culturas diversas nos ensina a simplesmente respeitar as diferenças e aos poucos nossos julgamentos em relação ao outro diminuem. Podemos nos tornar mais humildes, aprendendo a aceitar melhor nossas limitações e as dos outros”, afirma Tatiana Festi.

Um pouco sobre culpa e os contras

Para Tatiana Festi, entre os principais pontos contra está a visita da culpa durante a sua permanência em outro país. E isso poderá ocorrer em diferente momentos e por diversos motivos.

“Ao mesmo tempo em que ganhamos em qualidade de vida, que ampliamos nossa cultura e que fazemos novas amizades, iremos sofrer algumas perdas. Não poderemos mais estar presentes em todos os aniversários, casamentos, nascimentos ou até mesmo chorar a perda de alguém querido ao lado de quem amamos. E diante destas perdas, a culpa pode nos visitar. Ela nos visita tanto nos momentos em que não poderemos estar presentes como gostaríamos, quanto em momentos em que estamos viajando, conhecendo novos lugares e nos realizando enquanto nossa família está privada dessas experiências.”

Crises existenciais também são comuns de acontecerem quando você vai morar fora. Isso porque você ganha mais espaço para o autoconhecimento, como já falamos aqui que pode ser uma das vantagens, mas que podem ser mal interpretadas. Perguntas como Quem sou eu? Estou mesmo feliz com a minha vida ou devo buscar maneiras diferentes de expressar a mim mesma? Enfim, qual é a minha nova interpretações sobre mim mesma? Podem ser tornar desafiadoras.

Por fim, a tão famosa solidão, que acontece principalmente com quem embarca sozinho nessa novidade. “A solidão é uma das queixas mais comuns que ouço de brasileiros que moram fora do país. A pessoa se sente só porque deixou para trás a convivência com sua família, com os seus amigos ou até mesmo com o seu cônjuge. Ela é invadida pelo sentimento de luto diante da perda de seu habitual e antigo estilo de vida. Portanto, vive uma fase de desconexão com o ambiente ao seu redor. Essa desconexão com a nova comunidade é agravada quando a pessoa tem pouco ou nenhum conhecimento da nova língua. Ela geralmente se sente temporariamente excluída e dependente de algumas pessoas mais próximas, o que pode abalar a sua autoestima.”

Dicas para viver melhor essa experiência

Separamos algumas dicas para você colocar dentro da mala e embarcar melhor nessa jornada:

1) Não converse só com quem fala o seu idioma nativo

Tente interagir com a maior quantidade de nativos possível, pois, além de te ajudar no processo de aculturação, o que tende a levar alguns meses, vai te auxiliar também a aprender o idioma mais rápido;

2) Não fique escondido dentro de casa

Sentir saudades de casa e natural, acredite. Mesmo assim, ou por essa razão, é que você deve se empenhar em se familiarizar com a nova cidade e o novo bairro. Quanto mais você sentir que o lugar é a sua nova casa, mais fácil vai ser lidar com a saudade;

3) Muita coisa pode mudar. E sim, tudo bem

Vamos aceitar o fato de que as relações mudam, e isso não deve ser um problema para você. É difícil manter as relações no mesmo formato de quando você podia conviver com as pessoas todos os dias. Hoje, com as facilidades das redes sociais, você pode sim ficar conectado com as pessoas que ama, mas considere entender se alguma das suas relações não continuar sendo exatamente a mesma coisa;

4) Faça novas amizades

Você pode até ter uma tendência a ser mais criterioso nas suas novas relações, mas ainda assim você deve lembrar que faz parte viver decepções, alegrias e todo aquele processo de conquistar intimidade novamente. Busque novas amizades e permita-se viver tudo de novo;

5) Nada de corpo lá, cabeça aqui

Ficar com o corpo em um país e a cabeça em outro pode te impedir de vivenciar uma experiência completa de conhecer uma cultura diferente da sua. Atividades como a meditação e a prática do mindfulness podem te ajudar a se concentrar no tempo presente para tirar o melhor proveito possível dessa fase da sua vida;

6) Invista em seu pertencimento

Retomar alguns hábitos que você já praticava em sua terra natal pode aumentar sensação de pertencimento e de confiança em seu novo espaço.

Você pode mudar de ideia

Não é uma verdade absoluta de que morar fora é a melhor coisa que você pode fazer para se desenvolver. Como falamos aqui, cada um reage à sua maneira as mudanças, por isso, não se sinta diminuído ou fracassado se você enxergar que talvez não tenha sido a sua melhor opção na vida.

Se for impossível conviver com a saudade ou, se por algum motivo, você se sentir infeliz vivendo essa experiência, talvez seja prudente cogitar voltar para casa ou até mesmo morar em outro país. Diferenças culturais e a solidão inicial de quem decide viver longe de seu país natal podem ser pesadas demais para algumas pessoas. Conheça e entenda quais são os seus limites e o que te faz verdadeiramente feliz.

Para o especialista e psicólogo do Zenklub Iury Florindo, “é importantíssimo encontrarmos o propósito de nossa mudança e abrirmos o coração para novas experiências, boas e ruins. Nem sempre tudo dará certo e não há problema nisso. O importante é continuar caminhando em direção à nossos valores e propósitos. A direção é sempre mais importante que a velocidade.”

“Quando somos expostos a novos contextos, é natural apresentarmos sentimentos como ansiedade e insegurança ao mesmo tempo em que sentimos a euforia da novidade. Mas quando as coisas não saem como planejado, a euforia baixa e continuamos com nossa insegurança. Nesses momentos, podemos ter dificuldades em explorar nosso novo país.”, completa Florindo.

Rede de apoio

Além dos familiares e amigos, os antigos e os novos, buscar um apoio profissional antes, durante e depois desse movimento de morar fora pode ajudá-lo a compreender melhor suas questões particulares sobre o assunto.

Para a especialista e psicóloga do Zenklub Claudia Moreira, “a Psicologia pode ajudar bastante se você está se preparando ou já está morando fora. Ajuda ao discutir com você sobre suas expectativas e objetivos, seus receios e situações temidas no exterior. Também é útil porque te auxilia a conhecer os recursos que você já tem ou precisa desenvolver para lidar melhor com este desafio.”

“O segredo é se preparar, ou seja, refletir sobre você, seu jeito, como você funciona na vida, quais as suas necessidades, o que te ajuda, o que te deixa ansioso, o que você tira de letra e também o que te deixa sem ação. Liste alguns prós e contras pessoais que vão te convidar a pensar mais seriamente em você e na sua condição interna de morar no exterior.”, completa Moreira.

As sessões online por videoconsulta do Zenklub são uma excelente opção para você buscar essa conversa mais aprofundada com um profissional, seja para quem mora aqui no Brasil ou para quem mora fora. O importante é não se sentir sozinho, independente de onde você esteja.