O transtorno delirante persistente é uma condição que traz sofrimento para quem sofre, podendo até mesmo gerar repercussões graves como atos de violência contra si próprio ou contra terceiros.

Essa condição tem uma prevalência de 24 a 30 casos por 100.000 pessoas.

Assim, estima-se que no Brasil haja cerca de 57.500 pessoas com a condição.

Embora nem todas as pessoas que tenham o transtorno delirante e persistente tenha prejuízo a ponto de não conseguirem realizar suas atividades diárias (trabalho, estudo, lazer), é importante conhecer os seguintes pontos sobre essa condição:

  • Quais são suas variações (tipos)
  • Quais são as opções de tratamento

Os sintomas do transtorno delirante e persistente são muitas vezes sutis.

Até mesmo crises de ciúmes são, em certos casos, indicativos do transtorno.

Para saber sobre isso e muito mais, confira o artigo até o final.

Tenha uma excelente leitura!

O que é o transtorno delirante persistente?

O transtorno delirante persistente é uma condição na qual o paciente experimenta ao menos um delírio por pelo menos 1 mês de duração.

Além desse sintoma fundamental, o transtorno delirante persistente deve ocasionar prejuízos para a qualidade de vida da pessoa e/ou de terceiros.

O que é diferente do transtorno delirante persistente das demais doenças psicóticas é a presença única e exclusiva dos delírios. Não há, por exemplo, alucinações.

Quais são os sintomas do transtorno delirante?

O transtorno delirante persistente possui sintomas bastante variados.

Mas como o próprio nome da condição diz, a base da condição é ter o delírio, o sintoma essencial para o diagnóstico.

O delírio é uma crença inabalável (provas concretas de que aquele pensamento não condiz com a realidade não são suficientes para que a pessoa com o transtorno mude de opinião) em algo que não é verdadeiro ou que não está baseado na realidade.

Assim, o delírio pode estar relacionado com uma série de situações fantasiosas, entre elas:

  • Perseguição (crê-se que há um complô contra a pessoa, uma perseguição)
  • Cônjuge está traindo, ciúmes excessivos
  • Familiares e amigos o estão enganando
  • Grandeza, sendo ele possuidor de muitas posses, fama e conquistas
  • Envenenamento (não se alimenta em determinados locais)

Na maioria das vezes, os sintomas do transtorno delirante não são bizarros (este era um requisito do antigo manual de doenças psiquiátricas – DSM-IV, mas atualmente não se usa mais esse critério no DSM-V), isto é, podem até coincidir com a realidade.

No entanto, em determinadas situações, os delírios são completamente incompatíveis com algo que poderia acontecer.

Por exemplo, um dos sintomas bizarros que pode acontecer no transtorno delirante é o paciente ter o delírio de que todos os órgãos dele foram arrancados do corpo sem que houvesse nenhum sinal de cicatrização no corpo.

Um outro delírio bizarro que pode acontecer é o paciente crer firmemente que há insetos ou ácaros minúsculos mordendo ou rastejando na pele (essa situação também pode receber o nome de Síndrome de Ekbom).

Quais são os tipos de transtornos delirantes?

Os tipos de transtornos delirantes são classificados de acordo com os sintomas.

Confira quais são os principais subtipos da condição:

Transtorno delirante paranóide

Este subtipo pode ser confundido com a esquizofrenia paranóide.

Neste caso, os pacientes com transtorno delirante persistente creem que há alguém prestes a atacá-los, que está montando uma emboscada ou que há um complô complexo para prejudicá-los.

Em caso grave de transtorno delirante persistente paranóide, a pessoa com a condição pode entrar em contato com advogados ou até mesmo lançar mão da violência para se “proteger” da situação imaginária.

Erotomaníaco

Também conhecido como erotomania, essa condição envolve delírios de que uma pessoa (por vezes alguém famoso) está completamente apaixonada por quem possui o transtorno delirante.

Assim, quem possui a condição começa a enviar mensagens, cartas ou até mesmo se desloca para a cidade na qual mora a pessoa que supostamente está apaixonada.

Grandiosidade (megalomaníacos)

São pacientes que possuem o transtorno delirante persistente e creem que:

  • São grandes celebridades
  • Fizeram descobertas revolucionárias
  • Construíram um patrimônio financeiro vastíssimo
  • São portadores de dons excepcionais.

Quando o transtorno delirante persistente megalomaníaco é grave, a pessoa pode se envolver em dívidas ou enganar outras pessoas a fim de “viver” aquilo que acreditam que são.

Ciúmes

Embora o ciúmes não seja bom para nenhum relacionamento, casos excessivos do sintoma podem indicar um subtipo de transtorno delirante e persistente.

No caso, não há nenhum indício de está havendo traição, mas mesmo assim a pessoa com o transtorno crê piamente que está sendo traída. Em casos graves, pode ocorrer violência contra a pessoa vítima do ciúmes.

Em caso de violência doméstica, ligue urgentemente para o número 180.

Somático

Questões mentais que se manifestam no corpo físico são chamadas de somatizações.

Assim, no caso do transtorno delirante persistente com características somáticas os pacientes podem crer que possuem deformidades físicas graves (nesse caso deve ser feita a diferenciação com baixa autoestima característica do transtorno depressivo), determinado odor ou um parasita.

Diagnóstico

O diagnóstico do transtorno delirante persistente será feito após a anamnese com um médico psiquiatra ou psicólogo.

Através dessa consulta, o médico irá avaliar a condição mental do paciente, avaliando minuciosamente a descrição do delírio, uma vez que a maioria deles não é bizarro e pode ser confundido como algo real.

Por isso, é importante que o paciente compareça à consulta com um familiar ou responsável a fim que ele possa relatar uma outra percepção sobre o acontecimento, definindo assim a presença ou não de delírio.

Além disso, será realizada a diferenciação de um transtorno delirante e persistente com outras condições mentais como, por exemplo, a esquizofrenia.

Em alguns casos, o transtorno delirante e persistente está associado com um transtorno de personalidade paranóide, o que torna o quadro mais complexo.

Qual a diferença entre transtorno delirante persistente e esquizofrenia?

Embora seja confundida com a esquizofrenia, o transtorno delirante e persistente apresenta algumas diferenças importantes.

Antes de prosseguir, é importante frisar que ambos são transtornos psicóticos, ou seja, que causam um distanciamento da realidade.

Assim, tanto alguém que sofre com o transtorno delirante e persistente quando uma pessoa que possui esquizofrenia vivem em uma realidade própria, que não é percebida pelas pessoas ao redor.

No entanto, a diferença principal se dá porque no transtorno delirante persistente não há outros sintomas psicóticos além do delírio.

Por exemplo, na esquizofrenia (sobretudo no subtipo paranóide) há a presenta não somente de delírios, mas também de:

  • Alucinações (principalmente auditivas, em que a pessoa escuta vozes que não existem), Desorganizações mentais
  • Ilusões (distorcer a visão de algo real para algo imaginário – uma cadeira pode ilusoriamente se tornar uma mesa, por exemplo)
  • Problemas de memória
  • Entre outras questões.

Transtorno delirante: tratamento

O tratamento dos transtornos delirantes persistentes envolve uma equipe multiprofissional.

Em certos casos, um médico psiquiatra pode prescrever antipsicóticos (mesmos medicamentos utilizados para tratar esquizofrenia) a fim de conter os delírios.

No entanto, em todos os casos de transtorno delirantes persistentes o tratamento precisa envolve psicoterapia recorrente, ou seja, por longo prazo (sobretudo se o caso estiver associado a transtorno de personalidade paranóide).

Transtorno delirante tem cura? Saiba como ajudar.

Pessoas que possuem o transtorno delirante persistente podem estar vivendo, apesar do sofrimento, uma vida aparentemente normal.

Por isso, é importante que ao menor indício da condição, procure-se um profissional da saúde mental para realizar uma avaliação dos sintomas.

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Referências:

1) CREWE et al. Delusional disorders. In S. H. Fatemi & P. J. Clayton (Eds.). The Medical Basis of Psychiatry (pp. 125-131). New York, USA: Humana Press. 2008. Disponível em: https://psycnet.apa.org/record/2008-06751-008

2) KAPLAN, H. B.; SADOCK, B. J.; GREBB, J. A. Compêndio de psiquiatria: Ciências do comportamento e psiquiatria clínica. Porto Alegre: Artes Médicas, 2003.

3) Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.