Diz a frase popular que a “arte imita a vida”. Mas até que ponto isso acontece quando se fala em transtorno dissociativo de identidade?

Talvez você já tenha assistido ao filme “Split” (em português “Fragmentado”) que mostra a história de Kevin (ator James McAvoy), o protagonista que possui 23 personalidades (cada qual vem à tona de tempos em tempos). 

Ao decorrer do filme (alerta de spoiler!) Kevin sequestra 3 jovens e as leva a um cativeiro subterrâneo no qual a maior parte do enredo se desenrola.

Fato é que Kevin é portador do transtorno dissociativo de identidade, uma condição psiquiátrica séria que exige tratamento adequado. 

Assim, para te informar o que é real a respeito de tal transtorno, preparamos este artigo para esclarecer todas as dúvidas.

Tenha uma ótima leitura!

O que é transtorno dissociativo de personalidade (TDI)

Embora seja um bom filme, “Fragmentado” não retrata o transtorno dissociativo de personalidade com plena fidedignidade.

Afinal, o TDI é um transtorno mental que nem sempre gera comportamentos violentos ou capacidades “sobre humanas” em relação à força, como representado na obra em questão.

O que é bastante comum entre os casos de transtorno dissociativo de personalidade (TDI) é a mudança para variados padrões de comportamento que podem ser completamente distintos um do outro.

O que é personalidade fragmentada?

A personalidade fragmentada é uma condição na qual há ao menos 2 estados de personalidade ou identidades (perturbação da identidade).

Os aspectos que podem variar entre as personalidades são em relação a:

  • Gênero;
  • Idade;
  • Valores;
  • Ideais;
  • Dificuldades;
  • Habilidades.

O que são pacientes com TDI

Pacientes com TDI são aqueles que apresentam manifestações de diversas personalidades ao longo da vida.

As oscilações podem acontecer pelos mais variados estímulos, entre eles discussões, conversas, situações, conquistas que deflagram memórias relacionadas com a formação da personalidade em questão.

O que é um alter TDI

O alter TDI nada mais é que a conjuntura de personalidades que uma pessoa com transtorno dissociativo de personalidade possui.

Assim, o alter ego é o local da nossa mente onde são registradas as memórias e as implicações emocionais delas.

O alter TDI é composto por ao menos duas personalidades que se manifestam de forma mais contundente ou sutil.

Sintomas do transtorno dissociativo de personalidade

Nos casos de transtorno dissociativo de personalidade, a pessoa acometida se esquece de fatos e eventos marcantes do passado à medida que muda de alter ego.

Ou seja, os sintomas giram em torno dos efeitos que as mudanças de personalidade têm não só no aparelho psíquico, mas também na parte física da pessoa que sofre da condição.

Na grande parte dos casos de transtorno dissociativo de personalidade, há algum evento traumático que interfere no aparecimento dos sintomas.

Assim, os sintomas mais característicos da condição são:

  • Dificuldade em lembrar de eventos simples do dia a dia – a pessoa com transtorno dissociativo faz uma mudança do padrão cerebral com frequência. Todas as vezes que isso acontece, é comum se esquecer de fatos banais como informações recebidas, nomes de pessoas e até mesmo tarefas pendentes;
  • Psicose –  entre os sintomas possíveis do transtorno estão os psicóticos. Por exemplo, alucinações (ter sensações que não correspondem com a realidade) auditivas, visuais, táteis, gustativas e olfativas. Às vezes, esses sintomas se dão por uma interação entre as personalidades, como ouvir vozes do alter ego.  No entanto, o transtorno de personalidade dissociativo não é um transtorno psicótico em essência, como por exemplo o transtorno bipolar;
  • Dificuldades nos relacionamentos interpessoais e ocupacionais – é possível que os pacientes com transtorno dissociativo de personalidade tenham dificuldades nos relacionamentos, principalmente no trabalho, uma vez que a amnésia frequente dificulta a execução de tarefas consistentemente;
  • Ansiedade e depressão – são condições que podem se associar ao TID;
  • Mudanças repentinas diante de contextos estressantes – talvez o sintoma mais característicos dos casos de transtorno dissociativo de identidade seja a mudança de personalidade. Ela ocorre com mais frequência em contextos de vida de estresse extremo.

Como é feito o diagnóstico?

O diagnóstico é feito por um profissional da saúde mental devidamente habilitado.

Médicos psiquiatras e psicólogos são aptos para identificar o transtorno e orientar o melhor tratamento.

Quanto antes o paciente compreender a sua condição, mais brevemente ele poderá dar início às medidas para melhora da sua condição.

“Para diagnosticar o Transtorno Dissociativo de Personalidade procura-se principais aspectos na fala do paciente: a sensação de perda de senso de si mesmo e controle das próprias ações, sendo descrito por vezes como a sensação de “perda de posse” de si mesmo ou da sensação de estar “possuído”. Nem sempre existe essa sensação de posse, é importante observar se o paciente refere não conseguir controlar suas ações e pensamentos e apresenta lapsos de memória de ações recentes, no qual o paciente encontra vestígios de ações que não lembra de ter feito, ou até mesmo se se sentir observador de suas próprias ações. Referente aos lapsos de memória, é comum o paciente que apresenta transtorno dissociativo de personalidade não lembrar de aspectos traumáticos de sua vida ou de aspectos importantes. O relato da família é extremamente importante para a identificação do transtorno.

Muitas vezes o Transtorno Dissociativo de Personalidade é diagnosticado erroneamente como Transtorno Bipolar do tipo II, no entanto, é importante notar que os transtornos bipolares apresentam mudança de humor duradoura e não mudanças rápidas de personalidade. O diagnóstico do Transtorno Dissociativo de Personalidade se inviabiliza quando os sintomas são observados apenas quando o paciente está sob uso de substâncias ou em crises epilépticas parciais. Os pacientes diagnosticados com o transtorno dissociativo de personalidade devem fazer acompanhamento psicológico e psiquiátrico.” Vitória Grassi, psicóloga.

Transtorno de personalidade dissociativa: tratamento

O tratamento do transtorno de personalidade dissociativa, assim como o da maioria dos transtornos mentais, é multidisciplinar.

Ou seja, o tratamento pode ser composto por medicações para melhora cognitiva (prescritas por um psiquiatra) e para maior estabilidade do humor.

Além disso, a terapia é parte importantíssima do tratamento do transtorno de personalidade dissociativa uma vez que a melhora do paciente muitas vezes está relacionada com o reconhecimento de eventos traumáticos passados que geram a dissociação.

Assim, o sintoma de mudança de personalidade geralmente está relacionado com um mecanismo de defesa psíquico para não lembrar daquilo que trouxe sofrimento.

Uma série de abordagens psicoterapêuticas podem ser úteis no reconhecimento e ressignificação dos traumas causadores da dissociação.

Por exemplo, a chamada psicoterapia psicodinâmica ou psicoterapia psicanalítica (a mesma utilizada para tratar condições como o transtorno de personalidade histriônica) permite que o paciente reconheça e trabalhe conteúdos do inconsciente que prejudicam sua qualidade de vida.

Sofrimento psicológico é sinal de alerta

O transtorno de personalidade dissociativa é uma condição em que uma pessoa possui múltiplas identidades que se manifestam sobretudo em momentos de estresse intenso.

Diferente do que é retratado no filme “Split” (em português “Fragmentado”), a pessoa com essa condição pode viver uma vida feliz, equilibrada e repleta de sentido.

Para isso, é importante buscar auxílio profissional, principalmente por meio da terapia consistente e frequente.

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Referências:

MYRICK, et al. Six-year follow-up of the treatment of patients with dissociative disorders study. Euro Journal of Psychotraumatology. 2017.

Disponível em:

https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5492082/

Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014.

KAPLAN, H. B.; SADOCK, B. J.; GREBB, J. A. Compêndio de psiquiatria: Ciências do comportamento e psiquiatria clínica. Porto Alegre: Artes Médicas, 2003.