A (in)finitude da vida.

A vida humana

O ser humano é questionado desde o princípio, é como se existisse uma força na própria vida que nos coloca questões. Todos os dias novas perguntas surgem, e se as anteriores não forem adequadamente respondidas poderá surgir uma poderosa angústia diante do mundo, diante de todos e, principalmente, diante de quem somos.

Compreender as questões impostas por outras pessoas, pela vida e por nós mesmos não é simples, porém é muito importante entendermos como as ler, como as escutar, e então darmos respostas que, provavelmente, mudarão ao longo do tempo.

Logo, nós estamos diante de mais uma realidade. A primeira realidade é que existimos, seja com base no famoso “penso, logo existo”, do filósofo René Descartes, ou no “sou onde não penso, penso onde não sou”, do psicanalista Lacan.

A realidade se impõe, ela vem e molda o mundo ao nosso entorno e nos coloca em posições que nem sempre sabemos o que fazer ou como lidar, até mesmo gerenciar, tantos elementos e tantas forças.

Apesar do pesar, por mais que não pareça, nós temos que tomar decisões, nós temos que fazer escolhas – pois até mesmo decidir não escolher é uma escolha – e tudo que decidirmos primeiramente parte de nós.

A vida humana impõe escolher. Escolhemos consciente ou inconscientemente, seja o prazer da satisfação ou o desprazer que nos satisfaz. Ainda são escolhas.

O narcisismo

Somos realmente capazes de sentir o que está além de nós? Qual o limite da empatia? Qual o limite da simpatia?

Segundo a psicanálise, o ser humano parte de algo muito particular para fazer as suas escolhas, e cada sujeito deseja algo. Cada sujeito é um sujeito desejante.

Mesmo que o desejo do Eu seja desejar satisfazer o desejo do Outro.

Desejar parece ser algo genuinamente humano. E é a partir do Eu, que vive a realidade material e impositiva da vida, assim como as suas fantasias e ilusões, é que entendemos que para mais ou para menos, todos nós somos centrados em nós mesmos, cada sujeito em si. Somos narcisistas.

Ser humano e a Vida

Diante da Natureza da Vida somos obrigados a aceitar, a vida material humana é finita e mortal.

Então, como lidar e deglutir todos os dias que somos mortais ? 

A finitude da vida é imposta, assim como fazer escolhas. Entretanto, ironicamente não podemos escolher sermos imortais – materialmente falando -.

E nisso há algo que é importante pensarmos e refletirmos. A nossa finitude.

Existe uma obra da literatura russa que nos auxilia nessa compreensão, a obra é O Demônio, de Lermontov. E, nesta obra, existe um Demônio, que se angustia como nós, que vive dores como nós e que sente o amor como nós. Mas ele é condenado. Ele é imortal e viu, vê e verá as montanhas virarem areias de estepes. 

A real experiência de vida mortal se depara com a imortalidade de personagens na literatura. Para o Demônio, da obra supracitada, a imortalidade não parece lhe ser um benefício, e ironicamente essa é uma das suas condenações – não viver o fim da própria vida.

E esse é um dos pontos mais interessantes da obra, pois se compararmos o sofrimento do ser imortal com os nossos, que são de diferentes fontes, poderemos entender que as angústias para o ser humano podem ter outros sentidos e resoluções, e que não necessariamente são como os tormentos eternos e devastantes que o Demônio sofreu, sofre e sofrerá.

Conclusão 

O ser humano não necessariamente está fadado a sofrer por ser mortal, e não necessariamente está destinado ao desejo alheio, como é o caso do Demônio. Nós podemos fazer escolhas, e podemos elaborar novas formas e significados perante a vida e perante o seu fim, de forma que o desamparo que a mortalidade pode gerar não seja, obrigatoriamente, o que nos motiva a viver. 

Pois negar o fim da vida não traz uma resolução sobre a mortalidade, e o oposto de viver em prol do fim também não significa que deixamos de ser sujeitos ao desejo dos outros. E, parece que é possível encontrar um terceiro caminho, que tenha mais contato com a realidade material da vida e que não perca o encanto de expectativas – mas sem cairmos em ilusões e grandes frustrações.

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