Adultez emergente: nem adolescente, nem adulto
O início da vida adulta não está mais necessariamente relacionado ao aniversário de 18 anos. Além deste, alguns ritos de passagem já serviram de marco, como: serviço militar, carteira de habilitação, chegada aos 21 anos, surgimento dos dentes do siso, casamento, dentre outros.
Atualmente a transição entre a fase adolescente e a adulta está ocorrendo de modo menos previsível, com contornos mais indefinidos e em um período de tempo mais alargado. Portanto, cada um tende a considerar um marcador simbólico particular do ingresso na vida adulta, sendo estes os mais frequentes:
- Fim dos estudos;
- Saída do lar familiar;
- Autonomia financeira;
- Casamento ou união estável com coabitação;
- Nascimento do primeiro filho;
Mas por que os jovens estão demorando mais para se tornar adultos?
Antigamente a maioria dos rapazes começava a trabalhar em tempo integral no final da adolescência, enquanto poucas moças trabalhavam fora. Ambos geralmente tinham o casamento e a formação de família como principais objetivos de vida, ocorrendo próximo aos 20 anos. As relações sexuais fora do matrimônio eram mal vistas e os meios para prevenir filhos eram menos disponíveis. A liberdade sexual feminina, associada ao acesso a métodos anticoncepcionais e à reprodução assistida levou muitas ao adiamento da gravidez. Ao mesmo tempo, ter autonomia financeira e construir uma carreira passou a ter mais prioridade para elas.
No passado, muitas vezes, apenas um integrante do casal trabalhando era suficiente para manter uma vida relativamente confortável para todos. A realidade atual demonstra uma diminuição do trabalho na adolescência, escassez de empregos para iniciantes e prolongamento da escolarização. Num mundo profissional mais concorrido, os jovens passaram a buscar níveis mais altos de qualificação para competir por condições de trabalho melhores.
Outras transformações que vieram com o tempo, como a expectativa de vida aumentando paulatinamente, a valorização da juventude eterna e a migração do senso de coletividade para a individualização, também podem ajudar a explicar este prolongamento da entrada na vida adulta.
A “adultez emergente”
Observando as mudanças ocorridas na virada para o século XXI, o psicólogo Jeffrey Arnett propôs um novo estágio do desenvolvimento humano, chamado de “adultez emergente”, o qual contempla a faixa etária aproximada entre 18 e 29 anos. São jovens em transição para a vida adulta, que têm levado mais tempo para assumir papéis adultos tradicionais como o casamento, paternidade/maternidade e trabalho estável. É distinta da adolescência porque os adultos emergentes já passaram pela puberdade e chegaram à maioridade legal.
Esta fase é marcada por:
- Exploração de Identidades: no campo do amor, do trabalho e das visões de mundo;
- Sentimento Intermediário: de não ser nem adolescente e nem adulto;
- Auto Foco: concentração em si mesmo, sem ter dependentes ainda;
- Senso de Possibilidades: vislumbram as opções para o futuro de forma otimista;
- Instabilidades: no amor, no trabalho, na residência e nas emoções.
Durante esse período, os adultos emergentes desenvolvem as qualidades necessárias para se tornarem autossuficientes, assumir relacionamentos maduros e comprometidos e alcançar um trabalho sólido e satisfatório.
Esse estágio não se trata de um fenômeno universal, é culturalmente variável, estando presente em contextos urbanos de países desenvolvidos e em camadas mais favorecidas socioeconomicamente.
Os riscos da fase da adultez emergente
As mudanças simultâneas nas relações familiares, nos relacionamentos amorosos, na área profissional, educacional e moradia são potencialmente estressoras e podem ajudar a explicar a grande incidência de várias psicopatologias, como a ansiedade, depressão, transtornos por uso de substâncias, transtornos alimentares, TDAH e transtornos de controle de impulsos.
Numa fase de vida exploratória, com mais liberdade e menos supervisão dos pais, alguns comportamentos de risco relacionados à sexualidade também são frequentes, elevando os índices de gravidez não planejada e infecção por doenças sexualmente transmissíveis.
Esta faixa etária pertence ao modelo de trabalho contemporâneo, no qual há maior flexibilidade e menos direitos trabalhistas. Isto exige de cada trabalhador a gestão de sua própria carreira, o autogerenciamento do tempo e constantes atualizações, expondo-os ao estresse e burnout.
O otimismo desta fase impulsiona os adultos emergentes à exploração das possibilidades, no intuito de viver melhor do que as gerações passadas. Mas ao esperar muito da vida, podem criar uma idéia não realista do mundo e se decepcionar.
6 dicas para atravessar melhor a fase da adultez emergente
1) Aproveite o momento para explorar e descobrir o que traz sentido à sua vida. Quando uma pessoa tem mais clareza sobre seus valores e propósitos, torna-se mais apta para escolhas mais acertadas.
2) Mantenha hábitos saudáveis que ajudarão a construir o futuro que você imagina. Para atender a todas as demandas desta fase, pode ser um desafio manter a qualidade do sono, da alimentação e a atividade física, mas são essenciais para te ajudar a dar conta de tanta coisa!
3) Procure equilibrar o dinheiro. Com a diminuição do apoio financeiro por parte da família, é importante estabelecer limites de gastos e planejamento das despesas considerando imprevistos.
4) Tenha cautela nos relacionamentos amorosos, entendendo que podem ser fonte de muitas emoções agradáveis, mas podem trazer muito sofrimento. Ter clareza sobre o que se espera de um envolvimento romântico, bem como deixar isto claro para a outra pessoa, pode prevenir alguns desgastes.
5) Evite comparações. Descobrir tantas coisas sobre si mesmo e se estabilizar na vida pode levar um certo tempo e, inclusive, depender de experiências frustradas anteriores. Portanto, é importante não se comparar com os demais, percebendo que cada caminho é único!
6) Busque pessoas como apoio para momentos difíceis. Este é um período vulnerável e se tornar um adulto não significa que você não pode mais pedir ajuda.
Você não está sozinho!
Se precisar de ajuda psicológica para se conhecer e atravessar esta fase, conte comigo! Posso ajudar você!
Psicóloga e psicanalista, especialista em Psicologia Clínica, em Sexualidade e em Neuropsicologia, com experiência no atendimento psicológico online. Desde 2017 atua na plataforma Zenklub, ajudando brasileiros de todas as partes do país e do mundo. CRP: 08/17342