Sulpirida: o que você precisa saber sobre esse medicamento
A sulpirida é um medicamento antipsicótico da classe das benzamidas. Seu uso serve para tratar não só questões psicóticas (sobretudo a esquizofrenia), mas também depressão e quadros vertiginosos.
Tal medicamento está disponível em cápsulas (50 mg), comprimidos (200 mg) ou gotas (20 mg/mL) e é vendido no Brasil através das seguintes marcas:
- Referência da sulpirida – Equilid® (Sanofi-Aventis) – cápsulas e comprimidos;
- Similar – Dogmatil® (Sanofi-Aventis) – gotas.
Além disso, há opções de medicamentos que combinam outros fármacos com a sulpirida, entre eles:
- Bromopirin® – antidepressivo; ansiolítico – depressão; ansiedade – cápsula (Sulpirida 25 mg + bromazepam 1 mg). Sigma Pharma;
- Sulpan® – antidepressivo; ansiolítico – ansiedade; depressão – cápsula (Sulpirida 25 mg + bromazepam 1 mg). Sanofi-Aventis.
Para saber o que é mais importante sobre as informações da bula da sulpirida, continue com a gente até o final.
Tenha uma excelente leitura!
Para que serve a sulpirida?
Por seus efeitos dopaminérgico diferente da maior parte dos antipsicóticos, a sulpirida serve para tratar não só a esquizofrenia e outros problemas neurolépticos, mas também:
- Estados neuróticos depressivos;
- Síndromes vertiginosas, e esquizofrenia.
Embora não tenham um efeito sedativo tão pujante como outros fármacos do mesmo grupo, a sulpirida também serve para tratar, sobretudo com doses mais altas, quadros de agitação e agressividade.
Como a sulpirida funciona e age no organismo?
De acordo com a bula da sulpirida, trata-se de um neuroléptico do grupo das benzamidas, antagonista farmacológico da dopamina, mas com mecanismo de ação um tanto diferente dos outros remédios do mesmo grupo.
Afinal, a sulpirida atua de duas formas específicas:
- Bloqueando os receptores dopaminérgicos pós-sinápticos – de forma diferente dos como neurolépticos convencionais, uma vez que se liga de forma seletiva aos receptores D2;
- Bloqueando os receptores dopaminérgico pré-sinápticos – ação dominante em baixas concentrações teciduais do fármaco, o que pode explicar seu efeito antidepressivo em baixa posologia.
Tudo isso faz com que as quantidades do neurotransmissor dopamina aumentem no espaço entre dois neurônios (denominado fenda sináptica), causando os efeitos terapêuticos.
Para que a sulpirida é indicada?
Vejamos as principais indicações da sulpirida:
Esquizofrenia
Quando administrada em altas doses, a sulpirida apresenta efeitos neurolépticos como um antipsicótico atípico (por exemplo, olanzapina), com ação nos sintomas:
- Negativos (embotamento afetivo, confusão mental, problemas de comunicação e linguagem);
- Positivos (alucinações, delírios e ilusões).
Em geral, em pacientes esquizofrênicos, observa-se uma melhor socialização após alguns dias de tratamento e controle dos sintomas.
Geralmente utiliza-se doses maiores – de 400 a 800 mg ao dia, em duas ingestões. A posologia pode ser aumentada, se necessário, até o máximo de 1200 mg ao dia.
Não há estudos dos efeitos de Sulpirida administrado por vias não recomendadas. Portanto, por segurança e para garantir a eficácia deste medicamento, a administração deve ser somente por via oral.
Em pacientes com comportamento agressivo ou agitação com impulsividade, a Sulpirida pode ser administrada com um sedativo.
Depressão
Quando dada em baixas doses a sulpirida tem uma ação antidepressiva.
Os efeitos da sulpirida para tratar a depressão são comparáveis com os de antidepressivos tricíclicos como, por exemplo, a imipramina.
As doses preconizadas são menores que 800 mg por dia. Na verdade, costuma-se prescrever de, para tratar a depressão com sulpirida, de 100 a 200 mg (2 a 4 cápsulas de 50 mg) ao dia, administrados em 2 ingestões diárias (manhã e noite).
Síndromes vertiginosas
A sulpirida apresenta efetividade no tratamento da vertigem, sendo que seus efeitos geralmente são notados em 3 a 4 dias de tratamento. Contudo, o aparecimento de resposta terapêutica em 48 horas também tem sido relatado.
A eficácia da sulpirida foi constatada para o tratamento de vertigens de origens diversas, entre elas:
- Pós-traumáticas;
- Menière;
- Cervical;
- Pós-operatórias;
- Vasculares;
- Neurológicas;
- Psicossomáticas;
- Iatrogênicas.
A dose de sulpirida que se costuma prescrever para síndromes vertiginosas é de 150 a 300 mg ao dia, em duas ingestões.
Existem contraindicações? Quais?
São contraindicações absolutas (não se deve utilizar nesses casos):
- Hipersensibilidade à sulpirida ou a qualquer componente da fórmula;
- Pacientes com tumor dependente de prolactina (ex. prolactinomas da glândula pituitária e câncer de mama);
- Pacientes com diagnóstico ou suspeita de feocromocitoma – tumor na glândula adrenal que produz catecolaminas, substâncias que aumentam a pressão sanguínea;
- Lactação;
- Utilização concomitante com levodopa ou medicamentos antiparkinsonianos (incluindo ropinirol);
- Porfiria aguda – defeito na produção da hemoglobina.
Além disso, o uso da sulpirida deve ser cauteloso nos seguintes quadros:
- Glaucoma;
- Íleo paralítico;
- Estenose digestiva congênita;
- Retenção urinária;
- Hiperplasia da próstata;
- Hipertensos, especialmente em pacientes idosos, devido ao risco de crise hipertensiva;
- Gravidez e em mulheres com potencial para engravidar que não utilizam métodos contraceptivos eficazes;
- Crianças – segurança e eficácia de sulpirida não foram completamente investigadas nesse grupo.
Quais os efeitos esperados?
Em geral, os efeitos esperados no tratamento das síndromes vertiginosas demoram alguns dias para surgirem.
Por outro lado, nos casos de uso da sulpirida para tratar depressão, pode-se demorar algumas semanas para atingir o efeito terapêutico desejado.
A biodisponibilidade da sulpirida é baixa – cerca de 25 a 35%, com variações individuais significativas. Isso faz com que por volta de boa parte da substância ativa seja excretada sem exercer seu potencial terapêutico.
Além disso, sua meia vida (tempo em que metade da dose do remédio é metabolizada) relativamente pequena (7 horas), faz com que seja interessante o uso de mais de uma dose por dia para obter os resultados esperados de forma sustentada.
Quais os efeitos colaterais causados pela sulpirida?
De acordo com a bula da sulpirida, os efeitos colaterais são classificados de acordo com os índices de incidência:
- Comum: ≥ 1 e < 10%;
- Incomum: ≥ 0,1 e < 1%;
- Raro: ≥ 0,01 e < 0,1%
- Desconhecido (não pode ser estimado a partir dos dados disponíveis).
Vejamos um a um:
Comuns
- Hiperprolactinemia;
- Insônia;
- Sedação ou sonolência, distúrbios extrapiramidais (estes sintomas geralmente são reversíveis após administração de medicamentos antiparkinsonianos);
- Parkinsonismo;
- Tremor;
- Inquietação;
- Constipação;
- Aumento das enzimas do fígado;
- Rash máculo-papular;
- Dor nas mamas;
- Galactorreia;
- Aumento de peso.
Incomuns
- Leucopenia;
- Hipertonia;
- Discinesia;
- Distonia;
- Hipotensão ortostática;
- Hipersecreção salivar;
- Aumento das mamas;
- Amenorreia;
- Orgasmo anormal;
- Disfunção erétil.
Raros
- Crises oculógiras;
- Arritmia ventricular;
- Fibrilação ventricular;
- Taquicardia ventricular.
Desconhecidos
- Metabólicos – hiponatremia, síndrome de secreção inapropriada do hormônio antidiurético (SIADH);
- Cardíacos – prolongamento do intervalo QT, parada cardíaca, torsades de pointes, morte súbita;
- Vasculares – tromboembolismo venoso, embolismo pulmonar, algumas vezes fatal, trombose venosa profunda e aumento da pressão arterial;
- Pulmonares – pneumonia aspirativa (principalmente em associação com outros depressores do Sistema Nervoso Central);
- Fígado e vias biliares – são hepatocelular, lesão colestática ou lesão mista;
- Musculares – torcicolo, trismo, rabdomiólise;
- Gravidez e puerpério – sintomas extrapiramidais, síndrome de abstinência neonatal;
- Mamas – ginecomastia;
- Local de administração – hipertermia;
- Laboratoriais – creatina fosfoquinase sanguínea aumentada.
Quais os efeitos de tomar sulpirida com outros remédios?
A sulpirida pode interagir com outros fármacos, fazendo com que certas associações devam ser total ou parcialmente evitadas.
Vejamos alguns efeitos que algumas interações podem ocasionar:
Depressores do sistema nervoso central
Associar sulpirida com esses fármacos aumenta o risco de pneumonia aspirativa, ou seja, infecções causadas por partículas alimentares que entram no pulmão.
Exemplos de fármacos depressores do SNC são:
- Narcóticos;
- Analgésicos;
- Anti-histamínicos H1;
- Sedativos;
- Barbitúricos;
- Benzodiazepínicos e outros ansiolíticos (uma associação relativamente comum);
- Clonidina e derivados.
Medicamentos que tenham álcool ou bebidas alcoólicas
Com o risco de aumentar o efeito sedativo dos neurolépticos, tais substâncias devem ser evitadas durante o uso de sulpirida.
Tal risco é ainda maior em idosos, uma vez que os deixa mais suscetíveis às quedas e, por tabela, fraturas incapacitantes.
Remédios com riscos cardíacos
Deve-se evitar o uso da sulpirida com os fármacos que podem causar prolongamento do intervalo QT ou induzir torsades de pointes (condições cardíacas potencialmente fatais).
Entre os exemplos de fármacos que devem ser evitados e algumas reações causadas por eles estão:
- Bradicardia – betabloqueadores, bloqueadores de canal de cálcio (diltiazem, verapamil), clonidina, guanfacina e digitálicos;
- Hipocalemia: diuréticos hipocalêmicos, laxativos, anfotericina B, glicocorticóides e tetracosactídeos;
- Antiarrítmicos classe Ia – quinidina e disopiramida;
- Antiarrítmicos classe III – amiodarona e sotalol;
- Outros medicamentos – pimozida, sultoprida, haloperidol, tioridazina, metadona, antidepressivos imipramínicos, bepridil, cisaprida, eritromicina IV, vincamina IV, halofantrina, pentamidina, esparfloxacino, lítio – aumenta o risco de reações adversas extrapiramidais.
O que corta o efeito da sulpirida?
Medicamentos antiparkinsonianos e sulpirida inibem-se mutuamente. Exemplos daqueles são:
- Prolopa® (levodopa e benserazida);
- Pramipexol;
- Biperideno.
Essa associação é totalmente proscrita.
Além disso, antiácidos e sucralfato, quando coadministrados, levam a diminuição da absorção da sulpirida (que já é baixa).
Portanto, a sulpirida deve ser administrada no mínimo duas horas antes de tais fármacos.
A sulpirida pode gerar dependência?
Sulpirida não gera dependência química. Ou seja, não são observados:
- Sintomas de abstinência – conjunto característico de sinais e sintomas que ocorrem após algumas horas sem o uso da substância;
- Tolerância – resposta medicamentosa reduzida, que ocorre quando o medicamento é usado repetidamente e o corpo se adapta a sua presença constante.
Por outro lado, medicações de receita amarela (estimulantes e opióides) e receita azul (benzodiazepínicos) podem causar dependência química.
Quais cuidados devo ter ao usar sulpirida?
- Não ingerir bebida alcoólica durante o tratamento;
- Cuidado ao dirigir ou executar tarefas que exijam atenção;
- Fator de risco para diabetes ou doença já estabelecida – fazer o controle da glicemia (riscos de hiperglicemia);
- Se houver histórico de convulsões ou epilepsia, monitorar possíveis complicações nesse sentido;
- Ao sinal de febre, procurar um médico o quanto antes – possível discrasia sanguínea (problema na coagulação do sangue, predispondo a sangramentos);
- Monitorar a pressão sanguínea no caso de predisposição à hipertensão ou em quadro já instalado.
Quando interromper o tratamento da sulpirida?
O tratamento com sulpirida deve ser interrompido somente com a indicação médica.
Parar abruptamente da medicação pode causar uma série de efeitos colaterais como, por exemplo, náuseas e vômitos.
Assim, em alguns casos, será necessário fazer a retirada gradual da medicação (desmame).
Dúvidas Frequentes
- Esqueci de tomar a dose de sulpirida. O que fazer?
Caso esqueça de administrar uma dose, administre-a assim que possível. No entanto, se estiver próximo do horário da dose seguinte, espere por este horário, respeitando sempre o intervalo determinado pela posologia. Nunca devem ser administradas duas doses ao mesmo tempo. Em caso de dúvidas, procure orientação do farmacêutico ou de seu médico.
- Quais são populações de risco para uso da sulpirida?
Crianças, idosos e pacientes com insuficiência renal devem ter cuidados especiais com o uso da sulpirida.
- O que deve ser feito em casos de superdosagem?
Deve-se buscar auxílio médico para realização de tratamento sintomático, uma vez que não existe um antídoto específico. Além disso, medidas de suporte serão instituídas bem como supervisão das funções vitais e monitorização cardíaca (risco do prolongamento do intervalo QT e consequente arritmia ventricular).
- Sulpirida engorda ou emagrece?
A bula da sulpirida apresenta o efeito colateral comum de ganho de peso. Ou seja, de ≥ 1 e < 10% dos pacientes que fazem o uso do antipsicótico engordam. Não há relatos na bula de que tal fármaco emagrece.
- Sulpirida serve para ansiedade?
Embora a sulpirida sirva para tratar quadros depressivos, não há indicação em bula para tratar transtornos de ansiedade. Há, no entanto, indicação terapêutica para casos de agitação e agressividade (que podem ter alguma ligação com ansiedade). Isso se deve por sua ação seletiva ao neurotransmissor de dopamina.
- Pode-se usar sulpirida durante a amamentação?
O uso durante a aumentação é contraindicado, uma vez que a sulpirida passa pelo leite da mãe para o bebê, podendo causar efeitos colaterais neurológicos, por exemplo. Deve-se conversar com o médico e avaliar se é a melhor opção parar de amamentar a fim de fazer o uso do remédio.
Resumo
Portanto, a sulpirida é um remédio neuroléptico da classe das benzamidas cujo uso serve para tratar:
- Esquizofrenia (em altas doses);
- Depressão (em baixas doses);
- Vertigem e outros transtornos correlatos.
Associado ao tratamento medicamentoso, é imprescindível realizar terapia com profissionais especializados.
Afinal, a maior parte das doenças e transtornos não são só de natureza física, mas também têm causas mentais.
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Referências
1) https://consultaremedios.com.br/sulpirida/bula
2) https://www.medicinanet.com.br/conteudos/medicamentos/966/sulpirida.htm