365 dias de histórias | A terapia durante o tratamento de doenças
Bom, minha história começa lá em 2014, quando eu vivi um relacionamento abusivo que só não terminou em tragédia porque eu, felizmente, e diferente das muitas vítimas de feminicídio, soube me retirar da situação antes do pior – mas não antes de uma tentativa de homicídio acontecer.
Porém, mesmo conseguindo me retirar daquela situação, todo o horror vivido me acompanhava e era tão presente em minha mente que, após 1 ano de sofrimento psíquico, de constantes crises de ansiedade, pânico e depressão, meu corpo finalmente cedeu.
Em 2015, descobri um câncer agressivo, um Linfoma Não-Hodgkin que em 1 ano havia se tornado grau IV (os graus são de 1 a 4, e depois é o câncer terminal). Nessa época eu já era uma aspirante a psicologia, já havia começado o curso em 2009, mas por razões da vida tive de trancar. Entretanto, nesse momento, após a descoberta do câncer, minha vontade de me entender foi maior que tudo. Eu sabia que aquele câncer, de alguma forma foi potencializado pelas minhas vivências ruins, pela forma que eu não sabia lidar com o que havia acontecido na minha vida.
Então primeiramente eu fui me tratar e passei o ano de 2016 todo fazendo quimioterapias no Hospital de Amor de Barretos e iniciei também a psicoterapia, que posso dizer que foi parte fundamental do meu tratamento e da minha batalha contra o câncer.
Os meses de quimioterapia não foram fáceis nem tranquilos, houve muitos dias que a vontade de desistir era imensa, mas (ainda bem) a vontade de entender todo aquele processo era maior. Eu queria entender porque aquilo havia me afetado tanto, porque eu havia desenvolvido um câncer.
Então, quase ao final do tratamento, eu iniciei a faculdade de psicologia, pois eu entendia que eu precisava daquilo naquele momento, precisava de um estímulo e de algo para me agarrar. No início não foi fácil, pois haviam dias que eu recebia a quimioterapia e ainda precisava ir a faculdade estudar. Mas eu ia, e ia feliz.
Em setembro de 2016, terminei meu tratamento com a quimioterapia, foram sessões de 21 em 21 dias por quase todo o ano de 2016. Eu estava exausta, mas estava feliz! Naquele momento, a única coisa que eu podia fazer era agradecer por ter passado, e esperar os resultados finais, para saber se o câncer havia regredido, pois como disse, eu estava com grau 4, e isso significava que além o linfoma em si, eu tinha acometimento no fígado, no pulmão e na medula óssea.
Então dezembro de 2016 chegou, dia 24, e eu fui na minha consulta para saber os resultados, e como um presente de Natal, descobri que 100% dos tumores haviam saído do meu corpo. Eu estava em remissão.
Foi uma notícia maravilhosa, incrível, uma sensação que eu nunca havia sentido. Porém, eu ainda precisava fazer exames de acompanhamento durante 5 anos, e a cada exame, a cada ano, eu ficava com aquele medo do câncer voltar, de tudo voltar.
A faculdade foi passando, os anos foram passando, e em 2021 eu me formei, mais feliz do que nunca, mas o que realmente fez a diferença no meu 2021 (em meio a pandemia), é que meus 5 anos chegaram. E em uma consulta, recebi a tão esperada notícia: eu estava curada do câncer.
Comecei esse 2022 com as energias renovadas, com um peso a menos no coração, e com um espaço a ser preenchido por coisas boas, pois o medo e angústia da possibilidade de que nesses 5 anos o câncer pudesse voltar não existem mais. Claro que tudo isso que escrevi foi somente sobre o câncer e minha superação a esse momento que com certeza foram um dos piores da minha vida, mas isso não significa que tudo girou em torno dele.
Após tudo isso, eu também me casei com o amor da minha vida, tenho 6 gatos, que são meus amores, passei com minha família pela pandemia sem nenhuma perda e estou mais feliz do que nunca.
Adorei o espaço para compartilharmos nossas histórias e espero que a minha ajude alguém. E ressalto aqui, que além da ciência e da medicina, o que me ajudou a passar por tudo isso e a sobreviver a todo esse processo que não foi nada fácil foi a psicologia.
Tanto os profissionais que me atenderam e me ajudaram, quanto a faculdade que me deu ferramentas para agora ajudar os outros também.
Daiane Ferreira Polizel.