Entre reuniões e prazos, elas ainda precisam encontrar tempo para cuidar dos filhos, administrar a casa e, muitas vezes, lidar com a pressão de serem perfeitas em todos os papéis que desempenham.
As mães brasileiras estão constantemente equilibrando uma jornada dupla (ou tripla!), e essa sobrecarga tem um impacto profundo em sua saúde mental e bem-estar.
O bem-estar das mães não deve ser uma preocupação secundária. É hora de trazer essa discussão para o centro e buscar soluções efetivas.
As mães brasileiras enfrentam uma sobrecarga de responsabilidades que parece não ter fim. Segundo dados da PNAD do IBGE, as mulheres dedicam, em média, 21,3 horas semanais às tarefas domésticas, enquanto os homens gastam apenas 11,7 horas.
“Bebê demanda muito de uma mãe, exige muita atenção e atenção cem por cento […] Existe uma sobrecarga mental muito grande para que a gente tenha que dar conta de tudo.” Vivian Moreira, mãe da Cecília.
Essa desigualdade na divisão das tarefas domésticas coloca uma pressão adicional sobre as mães. O relatório “Esgotadas” da ONG Think Olga aponta que Muitas mães sentem-se constantemente exaustas e desamparadas, lutando para cumprir todas as suas responsabilidades sem o apoio necessário.
“Sempre fui muito do trabalho, eu tinha recém-assumido uma responsabilidade muito grande, inclusive de mudança de cidade. A primeira sensação foi de muito medo, medo de não conseguir lidar e de continuar no mercado de trabalho da forma que atuava antes.” Maria Barreto, mãe da Duda.
Impacto na saúde mental
Essa sobrecarga tem consequências diretas e profundas na saúde mental das mães. A Universidade de São Paulo (USP) conduziu uma pesquisa que revelou que 97% das mães se sentem sobrecarregadas e 94% se dizem desgastadas.
“Existe pouca compreensão do que realmente é vivido, assim, sabe, como mãe, além do que você tem de responsabilidade […] Eu tive uma experiência profissional positiva, mas sei que a maioria das mães não teve.” Gabi Santos, mãe do Noah.
A pesquisa da USP também mostra que 75% das mães entrevistadas revelaram que já tiveram um comportamento explosivo e sentiram culpa.
“Mas aí eu deixei de cuidar um pouquinho de mim para cuidar dela. Naquele momento senti que era a necessidade, mas também tive que voltar a cuidar do trabalho, então conciliar essa rotina de ser mãe e ao mesmo tempo a profissional, e aí fica aquela culpa: nossa, quem prioriza?” Renata Tozzi, mãe da Isabela.
A necessidade de falar sobre a saúde mental das mães foi uma das razões para o surgimento da campanha Maio Furta-Cor, que visa chamar a atenção da sociedade e empresas para os desafios de ser mãe, mulher e profissional a um só tempo.
“Eu teria procurado uma terapia. Cara, teria ajudado muito, foi muito difícil passar por isso. Foi muito difícil pensar que às vezes eu preferia estar fora de casa, trabalhando, passeando, do que estar lá dentro de casa”, Samantha Albuquerque, mãe do Matheus e da Bethina.
Desafios profissionais na carreira
Além da sobrecarga de atividades, as mães trabalhadoras enfrentam uma série de desafios no ambiente de trabalho. A falta de políticas de flexibilidade, o preconceito e a falta de compreensão por parte dos gestores e colegas muitas vezes agravam a situação.
“A empresa em que eu trabalhava não tinha apoio psicológico, não era o foco da empresa na época. Tenho certeza que seria bem importante, com certeza faria toda a diferença. Seria a base para tudo. Seria muito mais fácil se tivesse tido uma rede de apoio”, Renata Tozzi.
Em um estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), foi identificado que cerca de 50% das mães que estão no mercado de trabalho são demitidas até dois anos após o término da licença.
“A preocupação era como eu ia conciliar o trabalho, tendo em vista como o mercado de trabalho trata mulheres e mães. Tive o Noah com quase trinta e cinco anos por conta disso e me perguntava: Será que vai acabar com a carreira?”, Gabi Santos.
O relatório anual State of Motherhood Report aponta que 70% das mães tiveram que fazer sacrifícios em suas carreiras para atender às necessidades de suas famílias, com 50% citando o cuidado dos filhos como o principal motivo.
“Como é que eu vou dar conta de ser a Maria que sempre entregou, que sempre priorizou o trabalho, que sempre viajou, que estava disponível para o trabalho e, ao mesmo tempo, ser mãe?” Maria Barreto.
A importância de cuidar das mães colaboradoras
Para apoiar as mães trabalhadoras, é fundamental que as empresas criem um ambiente acolhedor e compreensivo. Uma maneira eficaz de fazer isso é aproveitando a rica experiência que a maternidade traz para o ambiente de trabalho.
“Eu acho que a grande questão é que quando você tem filhos, você aprende a se conectar de uma maneira muito diferente com outro ser humano. Eu tento trazer esse meu olhar de conexão para as pessoas que trabalham comigo”, Samantha Albuquerque.
Uma das maiores falhas nas empresas é a falta de preparo da liderança para lidar com situações específicas. A forma como uma equipe apoia e acolhe a colaboradora que é mãe pode refletir diretamente na sua produtividade e bem-estar.
“Eu tive muitas mentoras que fizeram toda a diferença sobre como encarar a maternidade de uma maneira mais saudável dentro do ambiente de trabalho”, Samantha Albuquerque.
Oferecer horários flexíveis para mães e gestantes possibilita que elas realizem consultas e exames, além de se dedicar à maternidade, sem a preocupação exaustiva de cumprir uma carga horária rígida.
Muita inteligência emocional e saber que alguns dias você vai ter que focar mais na profissão, outros, você vai precisar se dedicar mais à maternidade”, Renata Tozzi.
Implementar programas de apoio psicológico é outra medida importante. Oferecer acesso a terapeutas e conselheiras pode ajudar as mães a gerenciar o estresse e a ansiedade. Além disso, criar uma rede de apoio entre colegas de trabalho pode fornecer um espaço seguro para compartilhar experiências e buscar aconselhamento.
“Seria muito mais fácil se tivesse tido uma rede de apoio. Seria a base para tudo”, Renata Tozzi.
Promover políticas de licença parental equitativa também é importante. Garantir que ambos os pais possam usufruir de licença remunerada ajuda a distribuir melhor as responsabilidades familiares, reduzindo a sobrecarga sobre as mães.
“Eu não gosto de falar de ajuda porque eu acho que é papel do companheiro. É papel do marido também fazer as coisas dentro de casa”, Vivian Moreira.
Empresas que implementam essas políticas demonstram um compromisso com a igualdade de gênero e o bem-estar de todas as pessoas colaboradoras.
Assista ao vídeo Quando damos lugar, voz, vez a uma mãe, o mundo ganha uma nova cor.