Sair da Caixa: “Aprendi com o tempo a diferenciar o que acredito que os outros pensam de mim, do que eles realmente pensam de mim”
O papo de hoje do Sair da Caixa é com a Taty Leite, jornalista, Youtuber e coordenadora do estúdio de vídeo e áudio do InovaBra Habitat, em São Paulo. Aos 26 anos e nascida em Guarulhos, apesar da pouca idade, já saiu de casa aos 15 anos e vai nos contar os seus desafios como jovem, mulher e produtora de conteúdo.
Taty, você saiu muito cedo de casa, como você fez para continuar estudando e se especializando para o mercado de trabalho?
Comecei vendendo batom em salões de beleza pelas ruas distantes de São Paulo e, em um dos salões que entrei, havia uma mulher que estava a procura de alguém para o seu novo sistema de saúde, e a entrevista acabou acontecendo ali mesmo, no meio de tinturas e cheiro de produtos de beleza.
Essa época foi uma loucura, eu ganhava um bom salário para a época, mas entrava às 7h da manhã e saía às 18h, para dar tempo de atravessar a cidade e ir para a escola onde eu ainda cursava o Ensino Médio.
Pouco tempo depois, como meu foco sempre foi fazer jornalismo, acabei passando no processo seletivo da MTV, que na época tinha acabado de ser vendida (70%) para a Abril, e então aceitei sair do meu emprego no sistema de saúde.
Na MTV fiquei como aprendiz de produção até o final do meu contrato (de 1 ano). Saí e voltei 5 meses depois, ficando mais dois anos na casa. Nessa época, em paralelo, eu já começava a tocar meu blog próprio, o “Vá ler um Livro”, que depois se tornou meu projeto oficial.
De lá decidi entrar no mercado editorial e passei por grandes casas como Universo dos Livros e Editora LeYa, além de fazer freelas para Planeta Livros e Editora Intrínseca. Passei por revistas, como freelancer, como a Capricho, em 2008, Revista TPM, Revista da Cultura e Saraiva Conteúdos, então sempre mantive essa conexão com a literatura e a escrita.
Tempos depois entrei para o YouTube Space SP (Google Brasil) e, com a ida deles para o Rio de Janeiro (quase três anos depois), passei por uma agência e agora estou no Bradesco, coordenando um estúdio de vídeo e áudio (um espaço bacana para produções) no prédio InovaBra Habitat.
Dentro de tantas atividades, o que hoje te motiva e inspira a seguir com a sua carreira?
Acho que não sei ficar quieta. Nunca consegui meditar, fazer yoga ou qualquer coisa do tipo. Um dia vou pifar (se é que já não tive blackouts por alguns períodos). A partir disso, já dá pra imaginar como minha cabeça funciona: cheia do que chamo de “minis tatys”, que correm de um lado para o outro querendo abraçar o mundo.
Apesar disso, eu sempre tive muita convicção do que eu queria “ser quando crescer”, e escolhi jornalismo já aos sete anos. A Literatura já estava enraizada de família, cresci nesse ambiente, e todos tinham os dois pés fincados no mercado dos livros (como minha tia-avó que, apesar de nunca tê-la conhecido, foi uma das poetas marginais mais conhecidas do Brasil: Ana Cristina César).
Já a internet, porque… ah, todo mundo era conectado à internet e queria fazer coisas nela. Então, como não sei ficar parada, acabei colocando tudo isso num cesto, chacoalhei e daí saiu toda a minha carreira. Sempre com um pé na internet, um olho nos livros e as duas mãos no audiovisual.
Nessa trajetória algumas coisas não devem ter dado certo, né? O que você acha que deu errado, mas que a fez evoluir?
São erros que eu não quero cometer, mas acabo convivendo com frequência até hoje. Por me preocupar sempre com a opinião das pessoas, acabo deixando de lado questões pessoais para chegar em objetivos que, às vezes, não fazem parte do que quero pra minha vida.
Acho que, uma coisa essencial, que aprendi com o tempo, foi diferenciar o que acredito que os outros pensam de mim, do que eles realmente pensam de mim (e que eu nunca saberei).
A pergunta que sempre me faço, e me garante bons momentos de tranquilidade pra ser quem eu sou, é: O que é realidade o que é imaginação? “Meu chefe não me deu bom dia porque ontem saí mais cedo”. Imaginação. O chefe não te deu bom dia, só isso aconteceu. Parece bobo, mas ajuda muito no dia a dia e te faz focar no que realmente precisa ser feito.
E como está sua vida hoje?
Acredito que dá para melhorar e que sempre conseguimos aprender mais e mais. Tenho a sorte de trabalhar em um projeto que gosto muito de fazer parte e também de ter meu canal educativo para falar de livros e levar literatura de uma maneira despretensiosa e tranquila, mas o objetivo é chegar ao infinito e além!
Gostaria muito de transformar meu canal na minha maior fonte, conseguir trazer pessoas incríveis para mais perto de mim e também trocar muito: ideias, sabedorias, ensinamentos, aprendizados, negócios…
E, no pessoal, é a mesma linha! Essa troca, essa colaboração, amigos por perto, família, novos lugares, projetos especiais e muito mais! Quero tudo isso e me esforço para chegar sempre lá.
E por ser mulher, alguma barreira nesses projetos?
Qualquer crescimento é sempre vinculado com sexo. Pelo menos é isso que a maioria das pessoas pensam. Ainda piora pelo fato de eu “performar tanta feminilidade”. Cansei de escutar que sou frágil, sensível e/ou que transei com algum dos meus colegas homens para chegar ali.
Além do mais a fragilidade, realmente, é meu ponto fraco (se me permitem o trocadilho). Choro com facilidade e tenho uma imensa dificuldade em separar o pessoal do profissional, talvez pelo fato de eu sempre procurar as coisas que mais gosto nos trabalhos que adentro.
No final, se preencher altos cargos estiver diretamente vinculado com grosseria e voz grossa eu, definitivamente, não nasci pra isso.
Quais hobbies e atividades relacionadas ao cuidado com o seu bem-estar emocional que você faz e considera importante para lidar com tudo isso?
Terapia é fundamental para sobreviver aos tempos atuais. Reservar um período para se entender, para conversar sobre você mesmo não é egocêntrico, é saudável e te transforma numa pessoa melhor.
A gente se preocupa tanto com a saúde física que acaba esquecendo que se o cérebro manda, a gente obedece. Se nossa cabeça manda ansiedade, tristeza ou crise, é isso que a gente vai ter: mesmo comendo uma saladinha, proteínas e na rampa da academia. Então, por que não se preocupar com você em primeiro lugar?
Como você avalia os desafios femininos no mercado de trabalho?
Acredito que a expectativa sobre o outro é sempre maior com as mulheres. A gente precisa trabalhar, cuidar da casa, ser amorosa, mãe de família, dona de si e o psicológico sempre lá em cima! E isso nos dá um peso tão grande que nos tornamos doentes.
Não conheço sequer uma mulher que não queira ser 100% a melhor no que faz! Quer ser matemática? Se não vier um Nobel da área não vale! Professora? Tem que viajar o mundo e palestrar na ONU. Mãe? Estamos à procura da maternidade perfeita desde a pré-história! E assim seguimos, nos mutilando e nos entregando de maneiras quase sobrenaturais a coisas que não devíamos destinar nem 10% da nossa atenção.
Alguma ideia de quais serão os seus próximos passos?
Tenho objetivos muito claros e também muita tranquilidade para mudá-los caso eu necessite. Acredito que minha maior ideia é chegar em mais gente com meus projetos educacionais e literários, o que já me me tomará um tempo razoável para colocar tudo em prática. O resto é aprendizado!
Alguma dica para outras meninas e mulheres se desafiarem na carreira?
Acredito que a maior dificuldade é separar o que a sociedade patriarcal nos colocou na cabeça do que é realidade, e daí entra a ideia de “realidade vs. imaginação” que comentei anteriormente.
Não somos menores que ninguém e, tampouco, merecemos menos, qualquer que seja o objeto. Então, a única dica que consigo pensar, e que também preciso relembrar todos os dias, é: lembre-se que você é incrível. E apoie outras mulheres para que elas também se sintam assim. Só dessa forma alcançaremos qualquer sucesso!