Sair da Caixa: “Aceitar minhas falhas, acertos e buscar sempre o melhor”
Conversamos com Iury Florindo, especialista do Zenklub em Terapia, Mindfulness e Análise Comportamento. Apaixonado por psicologia, biologia e música, ele contou para a gente um pouco sobre sua paixão de ajudar as pessoas a retomar o controle e o propósito de suas vidas!
Como você entrou em contato com a Psicologia. Foi uma paixão antiga? Uma descoberta repentina?
Acho que foi repentino. Mas logo me vi apaixonado. Lembro que na época de escolher minha faculdade, aos 17 anos, eu tinha um forte interesse – e ainda tenho – por Biologia e por Música. O primeiro ano de faculdade foi uma revolução total na minha mente. Foi nesse momento que conheci os físicos e filósofos Carl Sagan e Thomas Kuhn e me apaixonei pela ciência enquanto realização humana. Ao mesmo tempo, a área de análise do comportamento chamou muito a minha atenção. De lá pra cá, nunca mais abandonei meu interesse pela análise do comportamento e pela Biologia e Filosofia. E sigo com meu violão sempre ao meu lado.
Conta um pouco como você conheceu o Mindfulness e como você acredita que ele possa beneficiar as pessoas.
Entrei em contato com o mindfulness ainda na faculdade e, com o passar dos anos, tive a chance de trabalhar com pessoas que são referência em Mindfulness e me aprofundar nessa prática cada vez mais. Em meus clientes, percebo que, depois de praticar o Mindfulness, eles adquirem uma capacidade maior de agir em direção de seus próprios valores pessoais, e o quanto isso tem um impacto positivo em suas vidas. Eles param de remoer o passado e sofrer com o futuro e passam a agir de maneira verdadeiramente presente.
Considerando seus anos de experiência em “tratar” a procrastinação, como é o comportamento da pessoa que tem essa característica e como ajudá-la?
Minha experiência em procrastinação começa comigo mesmo. Eu sofri demais com procrastinação no passado. Procrastinar pode ser simplesmente o ato de adiar algo. Precisamos olhar a situação como um todo e entender como isso pode ser prejudicial pra gente. Gosto de dizer que nossas ações não se limitam a preguiça ou vontade. Acredito muito nisso. Uma pessoa pode procrastinar por muitas razões. Muitas vezes, a procrastinação é um efeito de outras coisas, como um caso de depressão ou transtorno obsessivo compulsivo. Outras vezes, simplesmente evitamos entrar em contato com situações que nos deixam ansiosos – assim, por um pequeno momento, nos sentimos aliviados. Mas logo depois vem a culpa e a frustração.
Você tem alguma história marcante de alguém que evoluiu muito durante o processo terapêutico?
Tenho muitas! Sempre me marcam muito quando um cliente passa a lidar com seus medos e toma controle de sua vida. Sempre que aprendem a aceitar seus sentimentos e a mudar o que está ao seu alcance. Gosto de dizer que uma vida saudável é quando atingimos um estado de calmaria, na maior parte do tempo; quando algo legal acontece, temos um pico de felicidade e aos poucos, voltamos à calmaria. Quando temos uma perda, sentimos tristeza e dor, mas logo voltamos à calmaria. Essa flexibilidade, de viver a vida com o que realmente acontece nela, e não com pensamentos e preocupações, tem sido um objetivo terapêutico alcançado em muitos casos.
Tive um cliente que morava em outro país e não conseguia se adaptar à falta de rotina e de propósito, gerando muita tristeza e sofrimento. As redes sociais acabaram funcionando como uma fuga dos problemas e a procrastinação tomou conta, junto à sensação de estar sendo deixado de lado. Foi muito emocionante ver essa pessoa aprender a lidar com seus sentimentos e, aos poucos, reconquistar sua autoestima, aceitação e autoconfiança. Quando o nosso trabalho chegou ao fim, ela já estava com um emprego, fluente na língua, muito mais forte e o mais importante: em paz.
Como você sente a postura dos clientes no começo do processo de terapia? São resistentes, abertos, desconfiados..? E porque você acha que isso acontece?
Acho que o estigma da terapia tem diminuído nos últimos anos. Mesmo assim, ainda é grande a quantidade de pessoas com depressão que não chegam a ter tratamento. Normalmente, pessoas que apresentam comportamentos de TOC, demoram muito tempo para procurar ajuda. Existe um medo muito forte de ser julgado pela família e amigos. Acho que o Zenklub tem ajudado muito as pessoas. Vários de meus clientes nunca haviam passado por um processo de orientação psicológica ou terapia, e os resultados têm sido muito animadores. Eu diria que as pessoas estão se abrindo para a terapia. É o papel de nós, psicólogos, quebrar a imagem de doença que o processo psicológico tem para as pessoas, mostrando a terapia também como um serviço de saúde, bem estar e prevenção, que qualquer pessoa pode experimentar.
Você faz algum exercício de bem-estar emocional? Como isso te ajuda?
Faço terapia, supervisão e técnicas de Mindfulness. Acredito que sejam práticas muito positivas para todo psicólogo. A terapia me ajuda a sempre perseguir meus valores, sonhos e propósitos; entender o meu momento e meus sentimentos, aceitar minhas falhas, acertos e buscar sempre o melhor. A supervisão me mostra caminhos por vezes nublados, além de treinar o raciocínio clínico. O Mindfulness me ajuda a estar presente, com atenção, em cada um desses momentos, para que eu tome decisões melhores e aceite meus próprios sentimentos.
E a terapia? Te ajudou a superar alguma dificuldade específica?
A terapia me ajudou em diversos aspectos: profissionais e pessoais. Acho que, ultimamente, consegui perceber o que eu realmente quero fazer da minha vida, e tenho entrado em contato com meus valores. Foi na terapia que eu descobri que gostaria de ser psicólogo clínico. Me ajudou a superar o medo de ter um consultório próprio e mergulhar de cabeça na profissão. Foram as decisões mais acertadas da minha vida: fazer terapia e ser terapeuta.
Para terminar, você tem alguma dica fácil de bem-estar para quem está lendo?
A minha dica chama “A estratégia dos strikes”. Pegue uma agenda, física ou eletrônica, como preferir.
Passo 1: Comece a escrever seus compromissos e tarefas na sua agenda.
Passo 2: Ao final do dia, para cada tarefa feita, marque um C; para cada tarefa perdida, marque um S de Strike!
Passo 3: No dia seguinte, olhe para suas atividades do dia anterior marcadas com strike e as realize com prioridade. Se mesmo, assim, ao final do dia você não conseguir, marque o segundo S de Strike. O objetivo é não chegar à três Strikes!
Sempre revise os últimos três dias de sua agenda e evite o acúmulo de strikes. Com isso, sua agenda fica menos poluída com anotações repetidas e você estabelece um controle mais efetivo de suas atividades.