Setembro Amarelo não é apenas uma campanha de conscientização. É um convite para que empresas repensem sua forma de cuidar e deixem de tratar a saúde mental como algo periférico ou simbólico.
O suicídio é uma realidade complexa, multifatorial, e com profundas raízes sociais, econômicas e institucionais. No Brasil, são aproximadamente 14 mil mortes por ano. No mundo, mais de 800 mil. E a maior parte dos casos está ligada a transtornos como depressão, ansiedade e uso problemático de substâncias — condições frequentemente associadas ao sofrimento crônico no trabalho.
Falar sobre isso no ambiente corporativo não é simples. Mas é necessário. Porque o silêncio custa caro em vidas, em adoecimentos evitáveis, em afastamentos, em rupturas. E, acima de tudo, porque o trabalho pode ser tanto fator de risco quanto espaço de proteção.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a OMS reconhecem o suicídio como um possível desfecho de exposições prolongadas a riscos psicossociais no ambiente de trabalho. Isso inclui sobrecarga, assédio moral, ausência de reconhecimento, falta de clareza nas funções, insegurança psicológica e relações interpessoais tóxicas.
Esses riscos são reais. E foram formalmente incorporados à legislação brasileira: a atualização da NR-1, que passou a vigorar em 26 de maio de 2025, exige que todas as empresas adotem medidas para identificar e mitigar riscos psicossociais no Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR). Essa mudança estabelece um novo patamar de responsabilidade para os empregadores.
A negligência com o tema custa caro: em 2024, mais de 470 mil trabalhadores brasileiros foram afastados por transtornos mentais, com impacto superior a R$ 3 bilhões na economia, segundo levantamento da Fiocruz e do Ministério da Saúde.
Falar sobre suicídio e saúde mental, portanto, não é mais um gesto voluntário. É uma parte necessária da estratégia de gestão de pessoas e conformidade legal.
A campanha Setembro Amarelo surgiu em 1994, nos Estados Unidos, após o suicídio de Mike Emme, um jovem de 17 anos. Seus amigos distribuíram fitas amarelas com mensagens de apoio para quem estivesse em sofrimento. A fita virou símbolo da vida. Da escuta. Do cuidado.
No Brasil, a campanha foi instaurada oficialmente em 2015 pelo CVV (Centro de Valorização da Vida), CFM (Conselho Federal de Medicina) e ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria). Desde então, milhares de empresas têm se engajado na campanha, promovendo palestras, ações educativas, vídeos institucionais e espaços de acolhimento.
Mas há um desafio: a maioria dessas ações se concentra apenas em setembro. O impacto real vem quando a campanha se converte em política interna, em rotina, em cultura organizacional. É isso que torna o cuidado uma prática e não apenas um gesto simbólico.
Um ambiente de trabalho que evita falar sobre sofrimento psíquico contribui, ainda que involuntariamente, para o agravamento do problema. O silêncio institucional gera desinformação, solidão e medo.
Os impactos são amplos:
"Se o ambiente de trabalho fragiliza a escuta, normaliza a exaustão e silencia o sofrimento, ele se torna parte do problema." Daniele Nazari, psicóloga clínica e especialista em saúde mental corporativa do Zenklub
A OMS e a OIT são claras em suas recomendações: capacitar lideranças para escutar, acolher e agir diante de situações de sofrimento é uma das formas mais eficazes de prevenção. Não se trata de transformar líderes em psicólogos, mas em agentes ativos de escuta e cuidado.
Um dos mitos mais perigosos sobre suicídio é o de que falar sobre o tema incentiva a prática. Estudos mostram o contrário. Falar com responsabilidade, sensibilidade e embasamento ajuda a salvar vidas.
Divulgar o CVV (188) ou outras redes de apoio deve ser prática padrão em todas as comunicações que envolvam saúde mental.
Imagine um cenário real: um colaborador começa a se isolar. Não participa mais de reuniões, entrega suas tarefas sem energia e começa a faltar. Ninguém fala sobre isso. Ele volta do recesso de fim de ano com sinais ainda mais claros de sofrimento, mas não há espaço para conversar. No final de janeiro, a notícia de uma tentativa de suicídio abala o time.
Esse tipo de situação, infelizmente, não é incomum. E se repete com mais frequência do que se imagina. Por isso, é fundamental que empresas tenham protocolos claros de prevenção e pósvenção. Cuidar não é interferir no íntimo do colaborador. É oferecer estrutura para que ele não precise sofrer sozinho.
Setembro pode ser um bom começo. Mas não pode ser o fim do esforço. As empresas que desejam realmente proteger seus talentos precisam integrar a saúde mental à cultura organizacional de forma estruturada.
Ter uma estratégia clara e sustentada ao longo do tempo é o que diferencia empresas que apenas “falam sobre saúde mental” daquelas que realmente cuidam.
Empresas não são consultórios. Mas são ambientes onde decisões, ritmos e lideranças influenciam diretamente a saúde mental das pessoas. Cuidar não é responsabilidade exclusiva do RH ou do psicólogo do plano de saúde. É um valor institucional.
O que a empresa comunica com palavras, atitudes e políticas, pode fortalecer ou enfraquecer a rede de proteção de um colaborador. E, diante de um caso de suicídio ou tentativa, o modo como a organização reage define como essa dor será elaborada coletivamente.
Falar sobre suicídio nas empresas é, acima de tudo, um gesto de humanidade. É dizer: “aqui, a sua vida importa”. É preparar líderes para agir, construir canais de apoio e criar condições reais para o cuidado.
No conteúdo da trilha Setembro Amarelo, vamos mostrar como transformar esse cuidado em ações concretas: desde os primeiros sinais até programas contínuos de suporte.
1️⃣ Setembro Amarelo: Por que falar sobre suicídio no ambiente de trabalho
2️⃣ Setembro Amarelo: como prevenir o risco de suicídio no trabalho
3️⃣ Setembro Amarelo: como agir após caso de suicídio no trabalho
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📞 O CVV (Centro de Valorização da Vida) oferece escuta 24h, com sigilo e acolhimento. Ligue 188 ou acesse cvv.org.br.