Psicologia do envelhecimento
O envelhecimento da população tem se tornado cada vez mais uma preocupação mundial. Cada sociedade tem se voltado para os problemas sociais motivados pelo aumento gradativo da população idosa e das soluções direcionadas a esta por quem passou bastante tempo se preocupando apenas em criar estruturas voltadas para uma população jovem.
Esta grande preocupação atual em relação ao aumento da longevidade da população e suas consequências sociais, voltam-se muito para a capacidade de manutenção financeira destes mas não pode se esquecer de também pensar no que se pode valorizar em termos do conhecimento e experiência destes indivíduos e o que isto poderia ser revertido e oferecido à sociedade e a estas pessoas como também em benefício das mesmas.
Num sentido mais amplo, velhice é o período que se inicia após o indivíduo ter atingido e vivenciado um nível de realizações pessoais que podemos chamar de maturidade. Mas o que há algum pouco tempo atrás acontecia para os que atingiam a década dos cinquenta anos, hoje com a evolução da tecnologia, dos meios de comunicação, da possibilidade de obter novas formações e praticá-las, tudo associado à possibilidade de uma alimentação controlada e saudável, práticas esportivas e novos recursos da medicina, devemos acrescentar mais algumas décadas a este patamar de maturidade.
A idéia popular era de que o envelhecimento seria um retorno à infância, quando ocorreria um declínio geral das funções físicas, intelectuais e emocionais. De forma geral, o indivíduo a partir daí entraria em decadência. Mas será que este conceito ainda persiste? O mundo não para e será que os indivíduos que envelhecem continuarão se vendo em dificuldade diante das diferenças e exigências cada vez mais complexas para serem atendidas? É certo que grande parte dos indivíduos idosos, principalmente da geração atual de considerados idosos, ainda podem se ver em diminuídas condições de competição e se sentirem derrotados pela ação do tempo. Entretanto, estas novas gerações que estão em processo de envelhecimento já irão encarar seu futuro de uma outra perspectiva.
Aqueles indivíduos que tiverem um saldo positivo em cada fase de seu desenvolvimento de personalidade, conseguirão mais a frente em seu tempo, uma integridade de seu ego necessária para adaptar-se às mudanças pessoais e sociais. Estes poderão ver o mundo com a simplicidade necessária para se ter tolerância para as ocorrências da vida e como resultado da experiência vivida e acumulada, o que denominamos sabedoria.
Mas como não existe perfeição ainda mais em se tratando de seres humanos, encontraremos indivíduos cujo desenvolvimento da personalidade não realizou-se de forma satisfatória, cujas situações internas e externas os conduzirá a uma maior dependência, reativando conflitos que se apresentaram no início do ciclo vital permanecidos de alguma forma reprimidos.
Envelhecer não é uma tragédia. Quando aceitamos com tranquilidade o fato de que isto é parte de nossa condição de estar vivo e produtivo, reformulamos nossas maneiras de continuar sendo úteis, acompanhando a evolução do mundo com olhos mais experientes. O passado faz parte de nós, mas não devemos nos amarrar a este e lutar contra o que se afigura de novo. Devemos ter consciência das transformações pelas quais nosso mundo passa e tentarmos sermos capazes de utilizar e aproveitar nossas capacidades e nossa experiência vivida. A felicidade pode e deve ser preservada através de novas realizações.
Em nosso mundo tecnicista, acompanhar e participar destas transformações minimiza o choque entre a pessoa e o meio, melhorando e ampliando a capacidade de adaptação, colocando de lado um isolamento antes muito comum ao indivíduo que envelhece.
Não podemos dar as costas ou ignorar as limitações principalmente físicas que uma idade mais avançada pode nos trazer, porém, como já comentado, atualmente muitos novos recursos estão à disposição assim como medidas psicoterápicas que permitem um vasto campo de auxilio ao
indivíduo que alcança idade mais avançada. Isto não significa querer ignorar que alterações funcionais que conduzem à morte podem ser totalmente evitadas, que se descobriu finalmente a fonte da juventude e imortalidade. Apenas entendermos que a morte inevitavelmente faz parte do ciclo vital, e que podemos ter qualidade, produtividade, e prazer em todos os níveis deste ciclo.
Para a OMS (Organização Mundial da Saúde), saúde é um estado de completo bem-estar físico, mental, social e não apenas a ausência de doença. Obviamente devemos considerar os distúrbios orgânicos, os transtornos psicológicos e as possíveis dificuldades sociais, familiares e ambientais. Sabemos que os principais problemas psicológicos em indivíduos na velhice são a consequência de sua interação com um meio que o rejeita, hostil ou de alguma forma inadequado, que leva o indivíduo a sentimentos de baixa autoestima, ao isolamento, desorientação, regressão e desagregação. Atividades ocupacionais e recreativas são bastante eficazes, tanto em ambientes especializados para lidar com idosos, como também no meio familiar, livre de tensões. Mantendo-se ocupadas, as pessoas se distraem, exercitam-se fisicamente, descarregam emoções e ligam-se mais às transformações a que o mundo atravessa.
As mais diversas formas de grupoterapias, a tecnologia que permite uma nova inclusão social, aproximando e mantendo contatos, fazendo novas amizades pessoais, o encontro com pessoas que partilham dos mesmos gostos, das mesmas necessidades e curiosidades, tudo isto leva o indivíduo a se sentir mais em comunidade e integrado a esta.
Também a psicoterapia individual mostra-se bastante útil, pois em geral os profissionais são tranquilos, afetuosos e capazes de ouvir suas necessidades e auxiliar no seu melhor conhecimento como indivíduo.