Vergonha e baixa autoestima na terapia do esquema
Introdução
Se você é muito sensível a críticas, está sempre checando se tem algo de errado com você e se sente muitas vezes envergonhado ou enojado consigo mesmo, provavelmente está lidando com vergonha e baixa autoestima. A terapia do esquema pode ser uma abordagem eficaz para tratar esses sentimentos.
Reconhecendo seu esquema de Vergonha e Defectividade
Pessoas com esse esquema experimentam um sentimento generalizado de inadequação e inferioridade. Elas se consideram fundamentalmente falhas e defeituosas, levando a uma vergonha e indignidade profundas. A investigação sugere que é um dos esquemas mais pronunciados entre perturbações psicológicas. Essas pessoas sentem que sua deficiência está dentro de si, não sendo imediatamente observável, mas sentida na essência do ser, levando a um sentimento de total indignidade de amor.
Pensamentos relacionados com esse esquema:
- “Não há nada de bom em mim.”
- “Eu não mereço amor pois não tenho nada a oferecer.”
- “Há algo de errado em mim.”
- “Ninguém gostaria de estar com alguém como eu.”
- “Tenho que esconder quem eu realmente sou dos outros.”
- “Sou inadequado como pessoa.”
Como o esquema afeta sua vida
Temos, como seres humanos, necessidades básicas de segurança, aceitação, liberdade e limites razoáveis. Se essas necessidades básicas não forem atendidas durante a infância, as pessoas desenvolvem esquemas psicológicos. Esquemas são temas ou padrões negativos que definem a sua vida, moldando a forma como você vê e responde às experiências de maneiras inúteis e até mesmo prejudiciais.
As pessoas com um esquema de vergonha e defectividade consideram-se fundamentalmente defeituosas: demasiado más, feias, inferiores ou sem valor para serem amadas e aceitas. Isso pode acontecer em quase qualquer aspecto de si mesmos, incluindo características privadas (por exemplo, eles se consideram muito ruins, carentes, estúpidos, etc.) ou atributos públicos (por exemplo, eles são muito feios, estranhos, etc.). Como resultado, são muitas vezes vigilantes em busca de evidências das suas falhas e intensamente autocríticos, repetindo as difamações ou mensagens implícitas que receberam na infância. Isso pode levar a intensa vergonha, autocrítica e sensibilidade à rejeição e crítica.
Dificuldades associadas:
A vergonha e a defectividade estão associadas a muitas dificuldades como vícios, problemas de imagem corporal, esgotamento, dor crônica, depressão, distúrbios alimentares, síndrome do intestino irritável, TOC, transtornos de personalidade, problemas de relacionamento, ansiedade social, automutilação, pensamentos suicidas e trauma.
Como lidar com a Vergonha
Esquemas de defectividade podem ser dolorosos. As pessoas aprendem a lidar de diferentes maneiras: aceitando-a (‘rendição’), evitando-a (‘fuga’) ou agindo como se o oposto fosse verdadeiro (‘contra-ataque’). No entanto, esses estilos de enfrentamento tendem a fortalecer os esquemas ao longo do tempo.
Estilos de enfrentamento:
Você pode escapar desse esquema:
- Manter outras pessoas à distância.
- Não compartilhar coisas sobre você.
- Perder-se em coisas (por exemplo, trabalho, vídeo-game, redes sociais, drogas).
Você pode se render a este esquema:
- Escolher amigos ou parceiros abusivos.
- Se rebaixar.
- Falta de confiança ou desejo de garantias.
Você pode lidar com isso de outras maneiras, como:
- Arranjar desculpas para os seus erros.
- Participar quando as pessoas ridicularizam você.
- Esforçar-se demais para parecer desejável.
Você pode contra-atacar esse esquema:
- Esforçar-se para ser perfeito.
- Agir de forma superior e rebaixar os outros.
- Selecionar parceiros que você acha que estão abaixo de você.
Outros esquemas associados
Frequentemente ocorre simultaneamente com outros esquemas que às vezes estão associados a vergonha e defectividade como:
- Abandono: acredita que outras pessoas irão abandoná-lo se/quando descobrirem suas falhas.
- Busca de aprovação/admiração: o reconhecimento e a admiração ajudam a se sentir mais valioso.
- Dependência/Incompetência: se vê como inadequado ou inferior aos outros devido à sua dependência e/ou incompetência.
- Privação emocional: atribui a falta de conexão, carinho e compreensão às suas deficiências inerentes.
- Inibição emocional: acredita que as pessoas descobrirão o quanto são más ou inúteis se se expressarem.
- Arrogo: compensa a deficiência auto-engrandecendo-se e apresentando-se como superior aos outros.
- Fracasso: acredita que é defeituoso por falhar ou falha em algo porque é fundamentalmente defeituoso ou inferior aos outros.
- Desconfiança/Abuso: se considera mau, indigno ou sujo por causa do abuso ou críticas recorrentes.
- Pessimismo: atribui resultados negativos em parte às suas falhas inerentes.
- Punitividade: muitas vezes se pune por suas falhas e deficiências percebidas.
- Auto-sacrifício: é levado a cuidar dos outros porque se sente inútil, indigno ou mau.
- Isolamento social: sentimento global de falta de amor dentro de sua família ou de inferioridade percebida em relação aos outros se generaliza para todas as suas interações sociais.
- Padrões críticos exagerados e perfeccionismo: acredita que a perfeição o tornará mais digno de amor.
Origens do desenvolvimento
As pessoas desenvolvem um esquema de vergonha quando a sua necessidade de amor e aceitação incondicional não é satisfeita. Por exemplo, seus pais ou familiares podem tê-lo ferido com palavras duras, depreciado, magoado, rejeitado ou humilhado, ou compará-lo desfavoravelmente com um irmão. Estilos parentais depreciativos, controladores, medrosos, punitivos e emocionalmente inibidos/privadores. Traumas de infância (por exemplo, abuso emocional ou sexual). O bullying infantil e adolescente também pode ser causa para esse esquema.
Lidando com a Vergonha
Esquemas de defectividade podem ser dolorosos. As pessoas aprendem a lidar de diferentes maneiras: aceitando-a (‘rendição’), evitando-a (‘fuga’) ou agindo como se o oposto fosse verdadeiro (‘contra-ataque’). No entanto, esses estilos de enfrentamento tendem a fortalecer os esquemas ao longo do tempo.
Curando seu esquema de Vergonha
As técnicas de tratamento na terapia do esquema incluem:
- Automonitoramento: diários de esquema.
- Intervenções cognitivas: revisão histórica, descentralização, flashcards.
- Intervenções focadas na emoção: reformulação de imagens, trabalho de cadeira, redação de cartas.
- Intervenções relacionais: reparação parental limitada, confronto empático.
- Intervenções comportamentais: experimentação, quebra de padrões comportamentais.
A autoaceitação e a autocompaixão são fundamentais para curar esse esquema e o ajudarão a se sentir digno do amor e do respeito que merece. Isso geralmente envolve aprender como domar seu crítico interior, tratar-se com gentileza e reconhecer seus pontos fortes. Encontrar maneiras de lidar com situações que desencadeiam seu esquema, como críticas, e cultivar relacionamentos onde você possa se abrir também são importantes.
Sobre a autora
Dra. Julieta Seixas Moizes, psicóloga, mestre, PhD e Pós-Doutora pela USP. Pós-graduação (doutoramento) na Holanda, Portugal e Itália. Desenvolvo meu trabalho a partir da abordagem cognitiva comportamental, terapia do esquema e tenho experiência em questões como depressão, ansiedade, síndrome do pânico, relacionamento e baixa autoestima. Também trabalho com Mindfulness (atenção plena). Busco trazer a felicidade das pessoas no momento presente.