Rede de apoio é essencial para quem vive no exterior
Toda mudança requer dois tipos de esforços: os de ordem prática e os de ordem emocional. Mudar de opinião, de trabalho ou de casa exige que se arrume tempo, que se examine as condições para que isso aconteça (esforço prático) e disposição para lidar com as sensações e desconfortos inerentes a essas situações (esforço emocional).
Quem já precisou mudar de país sabe bem o que isso significa. Mais do que a correria passaporte-visto-moradia-trabalho, a carga emocional de quem deixa o lugar onde passou a maior parte da vida é muito alta. “Quando a pessoa muda de país ela tem a oportunidade de vivenciar experiências completamente novas. Mas pode ser emocionalmente custoso se adaptar a uma nova língua, numa comunidade com costumes, hábitos e comportamentos diferentes dos nossos”, escreve a psicóloga Tatiana Festi em artigo para o blog do Zenklub, uma plataforma digital na qual é possível ter atendimento psicológico por vídeochamada.
Aos 30 anos, a jornalista Fernanda Martello, que vive na Espanha há pouco mais de um ano, conta como foi o período de transição. “A adaptação a uma nova cultura não é fácil e o fato de ter que se expressar em outro idioma, mesmo sendo fluente, também não ajuda muito. É difícil expressar seus sentimentos e pensamentos, ser você mesma em um idioma que não é o seu idioma nativo” diz ela.
Tatiana Festi, que é especialista em psicologia Junguiana pela Faculdade de Ciências da Saúde e atende pelo Zenklub, fala sobre esse momento de transição “Pode levar meses ou até mesmo anos para a pessoa se adaptar a um novo país. Tudo dependerá da sua personalidade, das condições que precederam essa mudança, assim como das condições em que viverá no novo país.”, afirma. A psicóloga listou alguns dos problemas mais recorrentes em pacientes que precisaram viver fora do Brasil. De acordo com ela, solidão e crise existencial estão entre eles.
Para Fernanda, porém, o maior desafio foi a sensação de pertencimento. “Posso dizer que essa mudança foi menos difícil porque tenho o apoio do meu marido e de sua família, então não me senti sozinha em nenhum momento. Acredito que essa nova realidade pode ser muito mais dura para uma pessoa que não tem essa rede de apoio. (…) Trabalho fora de casa desde que me mudei para cá, mas mesmo tendo uma rotina minha e colegas de trabalho foi difícil criar um novo círculo social à parte da família e amigos do meu marido. Por mais que você goste e se identifique com a cultura do seu novo país é difícil criar um sentimento pertencimento, uma questão muito importante para mim. Poderia dizer que esse foi um dos pontos mais difíceis nessa transição”, diz ela. “Eu estava fazendo terapia antes de mudar de país e senti muita falta desse apoio no meu processo de adaptação”, finaliza.