Sobre o valor das coisas que não duram
Somos tão marcados pelo tempo que acreditamos prontamente quando nos foi dito que o melhor era aquilo que durava mais. Que aquilo que não se altera com o tempo vale mais do que aquilo que passa. Que um bom casamento é aquele que só se finda na morte, assim como uma boa personalidade é aquela que resiste à mudança e se mantém sempre idêntica a si mesma.
É preciso cogitar, no entanto, que tenhamos sido enganados.
A duração não nos garante nenhuma qualidade, porque a duração é puramente a experiência que temos do tempo e, do tempo, só podemos dizer que é. Nem bom, nem ruim. A qualidade de um casamento não se mede, justamente, pela intensidade e qualidade das alegrias e tristezas que são produzidas nessa união? Assim, também, uma boa personalidade não se reconhece pela capacidade que uma pessoa tem de experienciar bons momentos?
Perceba, a duração não pode ser um objetivo em si mesma. Desejamos que dure aquilo que é bom enquanto é bom. Exaltar a duração acima do valor daquilo que dura nos seduz à armadilha de temer a mudança. Quantas relações insatisfatórias não foram mantidas simplesmente para que durassem? Quantos erros não são reafirmados pelo medo das mudanças que possam vir de novas escolhas?
Se a certeza da morte alimenta em nós certo desejo à eternidade, talvez, seja isso também que nos cativa na ideia de duração: amamos o que dura em recusa à certeza de que não duraremos. Dizendo isso, parece que trocamos a esperança que se havia depositado na ideia de duração pelo vazio contido na mesma ideia. Não nos entristeçamos com isso. A esperança só nos interessa quando as alegrias que ela promete têm a capacidade de se deslocar do futuro para o presente.
Deixemos a duração de lado. Aproveitemos também aquilo que passa. E aquilo que durar, que dure pela força das alegrias com que nos amarra.