E quando um não quer, mas o outro insiste?
Outro dia uma prima leu para mim a manchete de uma matéria no Facebook: “Pesquisas apontam que o sucesso de um casamento depende da mulher manter-se calma”. Rimos do anúncio (concordando, em parte com ele), trocamos algumas opiniões, mas não fomos atrás do tal estudo.
Mas a conversa me fez pensar naquele monte de clichês que ouvimos por aí sobre discussões entre casais, do tipo “quando um não quer, dois não brigam”, “você quer ser feliz ou ter razão?”, “tome um copo d’água e conte até dez”. Uma série de frases prontas e ditos populares, nos ensinam a como não colocar mais lenha na fogueira diante de uma discussão acalorada. Quando a discussão é com o chefe ou envolve qualquer relação de hierarquia, outra sabedoria popular costuma entrar em cena: “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Mas e quando se trata de um relacionamento conjugal, no qual pressupõe-se que a relação é horizontalizada? Será que o melhor caminho é um “se anular” para que a briga se dissipe, abdicando da sua opinião e posicionamento? Ou é importante esgotar todos os argumentos até que haja um “vencedor” ou, na melhor das hipóteses, um consenso?
Já se sabe que cada um de nós traz consigo uma complexa bagagem individual, adquirida ao longo da vida através das diversas interações com os outros e com o mundo, com múltiplas influências ambientais (sociais, históricas e culturais), familiares, genéticas e emocionais. Quando esse universo particular de vivências, experiências, códigos, valores e regras passam a conviver com outro universo particular igualmente vasto e complexo, é natural que haja divergências de opiniões, posturas, decisões, a despeito das afinidades que tenham unido (e que mantêm) duas pessoas num relacionamento.
No entanto, o grande desafio de saber gerir os interesses (muitas vezes divergentes) de duas pessoas que escolheram estar num relacionamento, é se perguntar constantemente como cada um defende seus pontos de vista e se observar nesse papel de debatedor ou adversário. Já explico.
Na hora da cabeça quente, dos ânimos aflorados, é difícil se enxergar no papel de adversário, afinal cada um de nós tem suas razões que justificam o próprio ponto de vista. Mas passado o momento de ira, tente se olhar naquele papel combativo. Você perde a linha e acaba trazendo assuntos antigos à tona? Você se sente acuado (a) e cai no choro? Você diz coisas generalistas como “sempre, nunca, jamais”? Você tende a usar verbos que rotulam a pessoa como “você é”, “você faz”? Você se torna agressiva (o)? Você se exalta de maneira desproporcional ao gatilho que iniciou a discussão? Quando a discussão acaba bem pro seu lado, você vibra com aquela sensação de soberania e quando sente que não foi beneficiado (a) fica engendrando futuros ataques verbais?
A reflexão sobre que tipo de “adversário” você é (e a palavra adversário aqui se refere tão somente a alguém que está numa posição divergente), é importante para que possamos crescer na relação e nos posicionar de maneira mais assertiva, sem que necessariamente precisemos abrir mão da nossa opinião.
Para toda e qualquer forma de comunicação, onde haja divergência de posicionamentos, a teoria da Comunicação Não-Violenta (CNV) ou Comunicação Empática, descrita pelo psicólogo Marshall Rosenberg, nos convida à uma nova forma de aprimorar nossos relacionamentos pessoais e profissionais.
O primeiro passo, segundo a CNV, é observar o que se passa naquele momento, de maneira descritiva e não julgadora. “Você não se importa comigo” é diferente de dizer “Quando você diz que vai num compromisso comigo e não aparece, eu me sinto desvalorizado (a)”.
Quando caímos na tendência de julgar o outro e imputar-lhe um sentimento de culpa, a probabilidade é que ele reaja defensivamente. A grande sacada, e que é o segundo passo para uma comunicação mais empática, é sermos responsáveis pelos nossos próprios sentimentos: reconhecer o que o comportamento do outro, causa em nós. Por exemplo, dizer “quando eu me envolvo nas tarefas domésticas mais do que você, me sinto sobrecarregada (o) ” é diferente de acusar o outro usando de frases “eu tenho sempre que dar conta de tudo sozinha (o) ” ou “você nunca faz nada em casa”.
Em seguida, é importante associar esse sentimento a alguma necessidade em nós. Com meu companheiro, costumo pedir para que converse comigo me olhando nos olhos. No começo, ele torcia o nariz, mas hoje já consegue fazer com mais naturalidade por que sabe que isso é importante pra mim. Mesmo ele afirmando que está me ouvindo, mas com os olhos na tela do celular, do computador ou da tevê, explico que a necessidade do olho-no-olho é minha. Mesmo que ele consiga ter uma excelente atenção dividida, eu só me sinto ouvida, se ele me dá mostras claras de que está conectado e atento a mim.
Por fim, não adianta nada esperarmos que o outro adivinhe o que queremos se nós não falarmos de maneira clara e direta como satisfazer a nossa necessidade. Ficar com cara emburrada e dizendo “não foi nada”, não vai ajudar seu/sua companheiro (a) a satisfazer suas necessidades. Diga de maneira positiva, o que deseja que seu parceiro ou parceira faça, e não aquilo que você não quer que ele faça. Um ótimo exemplo é o da mulher cujo marido sempre chegava tarde do trabalho e ela esperava que ele tivesse mais tempo para ela. Ao invés de comunicar de maneira clara seu desejo, ela repetia frases do tipo: “não sei por que você faz tanta hora extra” ou “você não deveria trabalhar tanto”. Algum tempo depois, ele comunicou a ela que havia ouvido seus conselhos e que passaria a jogar futebol com os amigos após o expediente. Ou seja, a esposa continuou sem ter sua necessidade de presença atendida.
Então, recapitulando os 4 passos da CNV: observar sem julgar, comunicar seu sentimento, associar a uma necessidade, formular um pedido claro em linguagem positiva. Vamos praticar? Nesse quesito, a lógica de que “a prática leva à perfeição” pode ser um tanto pretensioso, mas com certeza levará a mais autenticidade na comunicação e, como consequência, a mais harmonia e respeito na relação.
Uma vez ouvi de um padre (amigo da familia): “Inteligente é você poder chegar no contexto do outro”! Glória Maria, jornalista experiente e viajada, recebeu a informação de que uma jovem da periferia era sua fã e desejava conhecê-la e se desse fazerem uma matéria juntas sobre a situação da rua em que morava. Glória aceitou e indo ao encontro da jovem, deu spolier de como a jovem faria a matéria e agradeceu o carinho! Nos relacionamentos conjugais, se verifica a “verticalização” ainda, do quem é provedor e “do lar”, mesmo quando ambos são inseridos no mercado de trabalho, ai surge o contexto líder e liderado, ou seleção machista de funções domésticas de não lavar louças e roupas ou seleção feminista de tais funções como lavar banheiro ou carregar as sacolas de compras é obrigação do homem (quem nunca ouviu de feminista que homem só supera mulher na “força bruta”)! Nesse contexto ideológico ouvem os médicos de problemas com ereção ou orgasmo, como se mente e corpo Não se interagissem!