Quando uma empresa vive a experiência de um suicídio, seja de um colaborador, ex-colaborador ou familiar próximo de alguém da equipe, o impacto não se restringe à dor pessoal de quem convivia com a vítima. Ele reverbera no clima organizacional, abala a confiança e pode comprometer seriamente a saúde emocional do time se não houver uma resposta institucional adequada.
Nessas situações, a forma como a organização reage é determinante. Não apenas para acolher quem ficou, mas para demonstrar que a vida com todas as suas fragilidades, continua sendo um valor institucional. O cuidado pós-crise, também chamado de pósvenção, é uma etapa essencial da jornada de saúde mental nas empresas.
Trata-se de um conjunto de estratégias e cuidados direcionados ao acolhimento de pessoas e coletivos impactados por um suicídio. E, no ambiente de trabalho, ela é uma ferramenta essencial para proteger o bem-estar emocional, restaurar a segurança psicológica e reconstruir os vínculos.
A pósvenção não substitui a prevenção, mas a complementa. E quando bem conduzida, pode inclusive fortalecer a cultura de cuidado dentro da empresa. Ignorar a pósvenção pode ampliar o trauma coletivo, gerar estigmas e comprometer a confiança na cultura organizacional.
No contexto corporativo, pósvenção é mais do que um ato de empatia, é responsabilidade. Uma empresa que se cala ou ignora o impacto de uma perda pode intensificar o sofrimento, fragilizar ainda mais o ambiente e até contribuir para o surgimento de novos quadros de adoecimento emocional.
A Vita Alere, referência nacional em prevenção e pósvenção ao suicídio, define a pósvenção como uma prática que busca mitigar os efeitos do luto por suicídio, evitar novos casos e restabelecer o senso de pertencimento e apoio. É, portanto, uma prática de cuidado com a vida.
Muitas organizações evitam falar sobre suicídio com receio de “dar ideias” ou estimular novos episódios. Mas esse é um mito. O que pode, de fato, ampliar o risco é o silêncio. Ele gera desinformação, favorece o surgimento de boatos e reforça o estigma em torno da saúde mental.
Diante de uma perda, a empresa deve se posicionar com sensibilidade e responsabilidade. Algumas orientações:
Por outro lado, empresas que acolhem e cuidam demonstram compromisso com a vida em todas as suas fases, inclusive nas mais difíceis. Agir com responsabilidade nesse momento é uma forma concreta de reforçar os valores institucionais e reconstruir vínculos de confiança.
Lideranças são referências emocionais em momentos de crise. Quando agem com escuta, empatia e presença, ajudam a reduzir o sentimento de abandono e restaurar um senso de segurança emocional.
No entanto, é importante lembrar: líderes também sofrem. Em muitos casos, sentem-se pressionados a manter a produtividade ou não sabem como lidar com os sentimentos da equipe. Por isso, também devem ser apoiados nesse processo.
Liderar nesses momentos é também reconhecer a própria vulnerabilidade. Não se trata de conduzir intervenções psicológicas, mas de estar presente, validar sentimentos e encaminhar quem precisar para suporte profissional.
Cabe às áreas de Recursos Humanos, Saúde Ocupacional e Comunicação Interna liderar a elaboração de protocolos de pósvenção e garantir que esses cuidados estejam alinhados à cultura da empresa.
Essas ações ajudam a evitar a cronificação do sofrimento, além de demonstrar que a empresa está atenta às dores reais das pessoas.
O risco de contágio por suicídio — também chamado de “efeito Werther” — não deve ser ignorado. Ele é maior quando:
Nestes casos, é fundamental intensificar o monitoramento do clima organizacional, ampliar os canais de escuta e oferecer suporte psicológico imediato.
A forma como uma organização reage diante de um suicídio molda a forma como a dor será vivida e elaborada pelos colaboradores. Ignorar ou minimizar o impacto é uma forma de revitimização. Por outro lado, acolher, escutar, apoiar e agir comunica uma mensagem clara: “a sua dor é importante para nós”.
Prevenção e pósvenção andam juntas. A primeira busca evitar que o sofrimento leve a desfechos trágicos. A segunda cuida de quem foi atingido por esse desfecho, evitando novos traumas e adoecimentos.
Tratar um caso de suicídio como algo pontual, sem ações subsequentes, é perder a oportunidade de construir uma cultura de cuidado real.
Por isso, a pósvenção deve ser incluída no plano anual de bem-estar emocional, com ações preparatórias e estratégias reativas:
Enfrentar um suicídio dentro da organização não é fácil — e nunca será. Mas é possível transformar esse momento em um ponto de virada para a cultura organizacional. A dor, quando acolhida com responsabilidade e humanidade, pode abrir caminho para um ambiente mais seguro, empático e atento ao que realmente importa: a vida.
Empresas que acolhem, escutam e cuidam não só diminuem os impactos da tragédia, como fortalecem sua cultura, criam ambientes mais humanos e demonstram que saúde mental é (e sempre será) uma prioridade. Se a sua empresa ainda não sabe como agir, o primeiro passo pode ser buscar ajuda.
No conteúdo da trilha Setembro Amarelo, vamos mostrar o porque é importante abordar o tema do suicídio no ambiente de trabalho, visando principalmente a sua prevenção.
1️⃣ Setembro Amarelo: Por que falar sobre suicídio no ambiente de trabalho
2️⃣ Setembro Amarelo: como prevenir o risco de suicídio no trabalho
3️⃣ Setembro Amarelo: como agir após caso de suicídio no trabalho
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