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Como agir após caso de suicídio impactar o trabalho

Escrito por Zenklub | 15/08/2025

Quando uma empresa vive a experiência de um suicídio, seja de um colaborador, ex-colaborador ou familiar próximo de alguém da equipe, o impacto não se restringe à dor pessoal de quem convivia com a vítima. Ele reverbera no clima organizacional, abala a confiança e pode comprometer seriamente a saúde emocional do time se não houver uma resposta institucional adequada.

Nessas situações, a forma como a organização reage é determinante. Não apenas para acolher quem ficou, mas para demonstrar que a vida com todas as suas fragilidades, continua sendo um valor institucional. O cuidado pós-crise, também chamado de pósvenção, é uma etapa essencial da jornada de saúde mental nas empresas. 

O que é pósvenção?

Trata-se de um conjunto de estratégias e cuidados direcionados ao acolhimento de pessoas e coletivos impactados por um suicídio. E, no ambiente de trabalho, ela é uma ferramenta essencial para proteger o bem-estar emocional, restaurar a segurança psicológica e reconstruir os vínculos. 

A pósvenção não substitui a prevenção, mas a complementa. E quando bem conduzida, pode inclusive fortalecer a cultura de cuidado dentro da empresa. Ignorar a pósvenção pode ampliar o trauma coletivo, gerar estigmas e comprometer a confiança na cultura organizacional.

Pósvenção é cuidado institucional

No contexto corporativo, pósvenção é mais do que um ato de empatia, é responsabilidade. Uma empresa que se cala ou ignora o impacto de uma perda pode intensificar o sofrimento, fragilizar ainda mais o ambiente e até contribuir para o surgimento de novos quadros de adoecimento emocional.

A Vita Alere, referência nacional em prevenção e pósvenção ao suicídio, define a pósvenção como uma prática que busca mitigar os efeitos do luto por suicídio, evitar novos casos e restabelecer o senso de pertencimento e apoio. É, portanto, uma prática de cuidado com a vida.

O silêncio não protege: como se comunicar com responsabilidade

Muitas organizações evitam falar sobre suicídio com receio de “dar ideias” ou estimular novos episódios. Mas esse é um mito. O que pode, de fato, ampliar o risco é o silêncio. Ele gera desinformação, favorece o surgimento de boatos e reforça o estigma em torno da saúde mental.

Diante de uma perda, a empresa deve se posicionar com sensibilidade e responsabilidade. Algumas orientações:

  • Não ignore o ocorrido. A ausência de manifestação institucional pode ser percebida como negligência.
  • Evite romantização ou culpabilização. Frases como “foi fraqueza” ou “tinha tudo e mesmo assim…” são desrespeitosas.
  • Evite detalhar o método ou circunstâncias do suicídio. Isso pode causar gatilhos ou contribuir para a romantização da morte.
  • Adote uma linguagem acolhedora. Evite termos como “cometeu suicídio” e prefira “morreu por suicídio” ou “morte por suicídio”.
  • Reconheça a dor da equipe. Demonstre solidariedade, reafirme o compromisso com o cuidado emocional e informe os canais de suporte disponíveis.
  • Compartilhe recursos de apoio. O CVV (188), plataformas de saúde mental e serviços internos devem ser amplamente divulgados.

Por outro lado, empresas que acolhem e cuidam demonstram compromisso com a vida em todas as suas fases, inclusive nas mais difíceis. Agir com responsabilidade nesse momento é uma forma concreta de reforçar os valores institucionais e reconstruir vínculos de confiança.

O papel da liderança no cuidado após o luto

Lideranças são referências emocionais em momentos de crise. Quando agem com escuta, empatia e presença, ajudam a reduzir o sentimento de abandono e restaurar um senso de segurança emocional.

No entanto, é importante lembrar: líderes também sofrem. Em muitos casos, sentem-se pressionados a manter a produtividade ou não sabem como lidar com os sentimentos da equipe. Por isso, também devem ser apoiados nesse processo.

Atitudes que fazem a diferença:

  • Abrir espaço para conversas sobre o luto, respeitando o tempo e os limites de cada um.
  • Validar as emoções da equipe, sem julgamento ou tentativas de “resolver rápido”.
  • Garantir que os rituais de despedida e memória sejam respeitados — como liberar pessoas para o velório ou criar homenagens simbólicas, quando apropriado.
  • Buscar apoio junto ao RH ou especialistas para conduzir momentos delicados.

Liderar nesses momentos é também reconhecer a própria vulnerabilidade. Não se trata de conduzir intervenções psicológicas, mas de estar presente, validar sentimentos e encaminhar quem precisar para suporte profissional.

RH e equipes de cuidado: estrutura, presença e continuidade

Cabe às áreas de Recursos Humanos, Saúde Ocupacional e Comunicação Interna liderar a elaboração de protocolos de pósvenção e garantir que esses cuidados estejam alinhados à cultura da empresa.

Um plano bem estruturado de pósvenção pode incluir:

  • Comunicação oficial padronizada e aprovada por especialistas.
  • Indicação clara dos canais de suporte psicológico disponíveis.
  • Ações coletivas de escuta (como rodas de conversa com mediação técnica).
  • Apoio individualizado para pessoas diretamente impactadas.
  • Acompanhamento psicológico ao longo das semanas seguintes ao caso.
  • Reforço da política de saúde mental no retorno às atividades.

Essas ações ajudam a evitar a cronificação do sofrimento, além de demonstrar que a empresa está atenta às dores reais das pessoas. 

Risco de contágio: quando o cuidado precisa ser intensificado

O risco de contágio por suicídio — também chamado de “efeito Werther” — não deve ser ignorado. Ele é maior quando:

  • Há uma morte por suicídio recente no ambiente de trabalho.
  • O caso envolveu alguém com posição de liderança ou grande influência.
  • Outros membros da equipe também apresentam sinais de sofrimento não acolhido.
  • O evento foi tratado com sensacionalismo, descaso ou silêncio absoluto.

Nestes casos, é fundamental intensificar o monitoramento do clima organizacional, ampliar os canais de escuta e oferecer suporte psicológico imediato.

A empresa diante da dor: como reagir faz toda a diferença

A forma como uma organização reage diante de um suicídio molda a forma como a dor será vivida e elaborada pelos colaboradores. Ignorar ou minimizar o impacto é uma forma de revitimização. Por outro lado, acolher, escutar, apoiar e agir comunica uma mensagem clara: “a sua dor é importante para nós”.

Empresas que cuidam mesmo nos momentos difíceis:

  • Estabelecem protocolos para agir com agilidade e sensibilidade.
  • Preparam líderes e equipes de RH para enfrentar situações delicadas.
  • Sustentam ações contínuas de escuta e apoio psicológico.
  • Transformam dor em aprendizado institucional e evolução cultural.

Pósvenção é parte da estratégia de saúde mental

Prevenção e pósvenção andam juntas. A primeira busca evitar que o sofrimento leve a desfechos trágicos. A segunda cuida de quem foi atingido por esse desfecho, evitando novos traumas e adoecimentos.

Tratar um caso de suicídio como algo pontual, sem ações subsequentes, é perder a oportunidade de construir uma cultura de cuidado real.

Por isso, a pósvenção deve ser incluída no plano anual de bem-estar emocional, com ações preparatórias e estratégias reativas:

  • Treinamento de lideranças e equipes para identificar sinais de risco.
  • Criação de canais permanentes de escuta segura.
  • Desenvolvimento de protocolos claros para situações de crise.
  • Parcerias com especialistas e instituições de referência em saúde mental.

Para continuar cuidando, mesmo diante da perda

Enfrentar um suicídio dentro da organização não é fácil — e nunca será. Mas é possível transformar esse momento em um ponto de virada para a cultura organizacional. A dor, quando acolhida com responsabilidade e humanidade, pode abrir caminho para um ambiente mais seguro, empático e atento ao que realmente importa: a vida.

Empresas que acolhem, escutam e cuidam não só diminuem os impactos da tragédia, como fortalecem sua cultura, criam ambientes mais humanos e demonstram que saúde mental é (e sempre será) uma prioridade. Se a sua empresa ainda não sabe como agir, o primeiro passo pode ser buscar ajuda.

No conteúdo da trilha Setembro Amarelo, vamos mostrar o porque é importante abordar o tema do suicídio no ambiente de trabalho, visando principalmente a sua prevenção.

1️⃣ Setembro Amarelo: Por que falar sobre suicídio no ambiente de trabalho

2️⃣ Setembro Amarelo: como prevenir o risco de suicídio no trabalho

3️⃣ Setembro Amarelo: como agir após caso de suicídio no trabalho

Onde encontrar ajuda

🧠 No Zenklub, sua empresa pode estruturar uma jornada real de cuidado: com apoio psicológico, trilhas educativas, dados analíticos e acompanhamento contínuo. Fale com a nossa equipe e descubra como transformar saúde mental em valor estratégico.

📞 O CVV (Centro de Valorização da Vida) oferece escuta 24h, com sigilo e acolhimento. Ligue 188 ou acesse cvv.org.br.