A esquizofrenia é um dos transtornos mentais mais conhecidos e hoje afeta 1% da população mundial. Mas, ainda hoje é um assunto com muitos tabus e sobre o qual pouco se fala.
A desinformação a respeito dos transtornos mentais é uma das grandes causas do preconceito que ainda existe hoje. A falta ou demora de um diagnóstico correto afeta a qualidade de vida de pessoas que sofrem com os sintomas.
Por isso, vamos entender melhor o que é esquizofrenia, como ocorre, quais os principais sintomas, os tipos e como acontece o tratamento. Dessa maneira, com mais informação podemos aprender a lidar melhor e ajudar pessoas que sofrem com esse transtorno.
A esquizofrenia é um transtorno mental grave que muda o modo como a pessoa pensa, sente e se comporta socialmente. Ou seja, essa desestruturação psíquica tem sintomas como alucinações, delírios, dificuldades no raciocínio e alterações no comportamento como indiferença afetiva e isolamento social.
Além disso, a pessoa com esse transtorno perde a noção da realidade e tem dificuldades de entender a diferença entre o imaginário e o que é real (isso é chamado de psicose). Por isso, as principais características desse transtorno é quando a pessoa ouve e vê coisas que, na verdade, não existem para mais ninguém.
Por ser um transtorno mental que afeta a percepção de realidade de uma pessoa, a esquizofrenia pode afetar diversas áreas da vida, como a pessoal, profissional e social.
Então, a esquizofrenia é um distúrbio psiquiátrico que envolve psicose crônica ou recorrente. Essa doença influencia no aspecto social e ocupacional. Nesse sentido, ela está entre as doenças médicas mais incapacitantes.
Aliás, ela é classificada pela OMS como uma das dez principais doenças que mais interferem na mortalidade e capacidade laboral do ser humano. Mas, vale lembrar também que a esquizofrenia tem tratamento e nada tem a ver com dupla personalidade.
Com o diagnóstico feito e um tratamento certo, a pessoa pode viver com uma boa qualidade de vida.
A esquizofrenia foi descoberta e primeiro nomeada como demência precoce pelo psiquiatra alemão Emil Kraepelin. Já no século XX, recebeu o nome que conhecemos hoje graças ao psiquiatra suíço Eugen Bleuler.
O termo “esquizofrenia” (que significa mente dividida ou fragmentada), busca representar os sintomas apresentados por quem sofre com essa doença mental, onde a pessoa passa a não conseguir diferenciar os alucinações e psicoses do que é realidade.
Segundo dados da OMS, a doença atinge homens e mulheres a partir do começo da vida adulta. Mais especificamente até o começo dos 20 anos em homens, e entre os 20 e 30 anos entre as mulheres. Os diagnósticos com menos de 10 anos e mais de 60 anos são muito raros.
A esquizofrenia também é considerada a terceira causa entre doenças que atrapalham a qualidade de vida de pessoas entre 15 e 44 anos. Isso porque, entre os mais jovens, essa doença é facilmente confundida com problemas mais comuns.
O problema da esquizofrenia é muito mais sério do que se pensa, pois não só degrada a saúde mental do indivíduo acometido, mas também é preciso lembrar que 50% dos pacientes com esquizofrenia tentam suicídio ao menos uma vez, 10-15% concretizam o ato.
Para entender melhor, assista esse vídeo que fala um pouco sobre esse transtorno que atinge tantos jovens:
Os sintomas da esquizofrenia podem variar muito de pessoa para pessoa, muitas vezes tornando mais difícil o diagnóstico ou tratamento. Por isso, foram feitas subclassificações de tipos dentro da doença.
De acordo com o Código Internacional de Doenças (CID-10), os tipos de esquizofrenia descritas são: a esquizofrenia paranóide, hebefrênica, catatônica, indiferenciada, residual, simples, não especificada e outras esquizofrenias.
Vamos entender um pouco mais a fundo sobre esses tipos de esquizofrenia:
A esquizofrenia simples geralmente está relacionada com transtornos de personalidade. Nesta condição sintomas de isolamento social, apatia e tristeza costumam ser mais frequentes do que as alucinações e delírios.
Durante o período “prodromal” (antes dos sintomas positivos se manifestarem), os adolescentes com esquizofrenia simples podem ser diagnosticados com depressão, uma vez que os sintomas negativos imitam frequentemente a depressão tradicional.
A paranoide é o subtipo mais comum de esquizofrenia. Os sintomas que geralmente acontecem nesses casos são as alucinações e delírios.
As alucinações envolvem uma percepção sensorial de algo que não é real. Por exemplo, ver ou ouvir algo que não existe. Já os delírios, que são comumente confundidos com alucinações, são crenças fixas em algo, apesar das evidências de que elas não são verdadeiras.
Por exemplo, ter uma crença irredutível de que há alguém fazendo uma perseguição contra você, apesar de não haver nenhum indício concreto disso.
Na Hebefrênica ou esquizofrenia desorganizada tem como característica um comportamento mais infantil e comportamentos fora de contexto. O diagnóstico da esquizofrenia desorganizada geralmente é feito antes dos 25 anos.
Assim, neste subtipo, problemas ligados à cognição são mais frequentes. Os sintomas mais comuns apresentados são:
A Esquizofrenia Catatônica é o tipo mais raro e é um quadro de paralisação do corpo físico.
Ou seja, nesta condição de esquizofrenia o portador da doença pode ficar por horas em uma mesma posição sem falar ou se movimentar.
Às vezes, os casos de Esquizofrenia catatônica são tão severos que é preciso realizar a alimentação/hidratação por sondas.
A esquizofrenia residual é mais comum em pessoas com histórico de outros transtornos mentais. Ela pode manifestar mudanças no comportamento, emoções e na interação social, mas de forma mais branda que nos outros subtipos.
Além disso, delírios e alucinações são mais raros na esquizofrenia residual.
A esquizofrenia indiferenciada apresenta traços dos outros subtipos, mas não se encaixa em nenhum deles.
Isto é, a pessoa pode ter qualquer um dos sintomas citados antes, mas sem de fato ser possível que o profissional da saúde faça um diagnóstico concreto com alguns dos outros subtipos.
Como muitos transtornos mentais, as causas específicas da esquizofrenia ainda são incertas.
Identificar causas exatas de transtornos mentais não é uma tarefa fácil porque geralmente não está relacionado apenas com um fator. Assim, costuma-se atribuir como causa “geral” para o Transtornos Mentais os fatores biopsicossociais (biológicos, psicológicos e sociais).
Nesse contexto, pesquisas feitas ao longo dos anos concluíram que a genética e outros fatores ambientais têm influência na esquizofrenia.
Por exemplo, pessoas com parentes de primeiro grau (especialmente uma mãe, pai ou irmão) que têm essa doença têm maior chance de desenvolvê-la do que outros.
Ter algumas doenças e condições de saúde também são fatores de risco para desenvolver esquizofrenia. Algumas delas são:
Além disso, quanto aos fatores ambientais, alguns estudos conseguiram relacionar momentos que podem ser um sinal de alerta e risco para o desenvolvimento dessa doença. Para explicar melhor, separamos em alguns tópicos para explicar melhor o por quê eles são um risco:
O período pré-natal na vida de uma mulher já é por si só cheia de mudanças, descobertas, desafios e adaptações. Além disso, existem diversos fatores biológicos acontecendo ao mesmo tempo, como por exemplo a grande variação hormonal.
Tudo isso, somado a outros fatores como por exemplo fatores genéticos, podem ser fatores de risco para o desenvolvimento de doenças mentais como a esquizofrenia.
As principais situações de risco durante o período pré-natal que podem ser um fator de risco para a esquizofrenia são:
Bem similar ao período pré-natal, o período neonatal também é marcado por diversas mudanças na vida, corpo, dia a dia e no psicológico das mulheres. Justamente por isso também é uma fase delicada que pode ser a causa para o desenvolvimento da esquizofrenia.
Algumas das principais situações que podem desencadear a esquizofrenia durante o período neonatal são:
Os sinais e sintomas da esquizofrenia podem começar a se manifestar já na primeira infância, onde estudos indicam que eles podem ser causados por problemas de saúde sofridos pela criança e até mesmo grandes traumas.
Na primeira infância os principais fatores de risco para a esquizofrenia são:
Na adolescência e começo da vida adulta, além dos fatores de risco já mencionados acima, ainda existe o fator que o uso de drogas, principalmente as psicoativas que podem causar alterações no cérebro como a maconha e o LSD, pode causar ou intensificar os sintomas apresentados pela esquizofrenia.
Ser capaz de perceber ou identificar os principais sintomas de esquizofrenia ajuda e é fundamental para buscar ajuda e obter um diagnóstico mais rápido. Pessoas que sofrem com esquizofrenia podem ter uma vida normal e um dia a dia saudável com o acompanhamento e tratamentos corretos
Os sintomas se manifestam de maneira diferente em cada pessoa, por isso a esquizofrenia tem seus sintomas separados em categorias, e são eles os sintomas positivos, negativos, cognitivos, neurológicos e comportamentais.
Vale lembrar que o diagnóstico de doenças mentais apenas pode ser realizado por um médico psiquiatra. Separamos os principais sintomas de pessoas com esquizofrenia para te ajudar a identificar sinais e procurar ajuda.
Os sintomas positivos da esquizofrenia recebem esse nome pois estão ligados a comportamentos com mais aceleração ou agitação. Esses também são os sintomas que possuem uma resposta melhor e mais efetiva à medicação.
Esse tipo de sintoma também é caracterizado por reações ligadas à perda de contato com a realidade. São eles:
Os sintomas negativos são aqueles que demoram mais tempo para se manifestar ou para serem percebidos. Também estão ligados a comportamentos mais apáticos ou com falta de emoções.
Esse tipo de sintoma também é mais difícil de apresentar uma resposta positiva mais rápida diante da medicação. São eles:
Os sintomas cognitivos são mais facilmente percebidos durante a fase escolar, já que estão diretamente ligados com o desempenho e capacidade intelectual. Os principais sintomas cognitivos da esquizofrenia são:
Os sintomas neurológicos da esquizofrenia tem um reflexo físico direto e aparente, por isso quando eles se manifestam percebe-se com mais facilidade que algo está errado. São eles:
Os sintomas comportamentais geralmente se fazem muito presentes em diagnósticos de esquizofrenia. Os principais e mais severos deles são:
Assim como as causas e fatores de risco ainda são incertos, ainda não existe uma cura definida para esse transtorno mental. No entanto, quando há um diagnóstico, acompanhamento e tratamentos corretos, a pessoa com esquizofrenia pode viver uma vida normal.
O tratamento e controle da doença podem variar de pessoa para pessoa, e existem diversos fatores para um resultado satisfatório ou não às medidas e tratamentos. Há fatores que indicam bom ou mau prognóstico, ou seja, chance de boa ou má reação ao tratamento. Vamos entender melhor quais são eles:
Fatores de bom prognóstico:
Fatores de mau prognóstico:
Não existe um exame específico que diga se a pessoa sofre ou não de esquizofrenia. Mas, psicólogos e psiquiatras podem dar o diagnóstico a partir da observação comportamental.
Por isso, exames clínicos como de sangue e estudo de imagens são usados apenas para descartar outros tipos de doenças (sejam transtornos mentais ou doenças orgânicas).
Além disso, os fatores observados pelos especialistas para diagnosticar a doença são:
O tratamento da esquizofrenia é baseado em um conjunto de ações para amenizar os sintomas dessa doença, incluindo medicamentos, acompanhamento com um psiquiatra e um psicólogo em terapia:
Os antipsicóticos devem ser tomados apenas sob orientação médica. Eles ajudam a reduzir os desequilíbrios bioquímicos que causam a esquizofrenia e diminuem a probabilidade de recaída.
Há dois grupos de medicamentos antipsicóticos:
No entanto, esses remédios podem ter efeitos colaterais como boca seca, sonolência, vertigens, visão borrada ou até mesmo síndromes que sem tratamento rápido podem ser fatais. Por isso, o tratamento só deve ser feito com acompanhamento médico.
Por fim, é importante destacar que os efeitos de tais remédios demoram de 3 a 8 semanas para ter início.
Algumas vezes referido como terapia de eletrochoque, a ECT é um procedimento médico no qual um paciente é colocado sob anestesia geral e tem correntes elétricas passando pelo cérebro para causar breves convulsões.
Normalmente, os pacientes esquizofrênicos podem receber este tratamento quando sofrem de catatonia e quando outros métodos de tratamento falharam.
A ECT tem uma reputação bastante ruim, devido à forma irresponsável como era administrada no passado (sem anestesia, causando perda de memória e lesões físicas devido às convulsões).
Entretanto, é um procedimento muito mais humano agora e pode oferecer alívio quando combinado com medicamentos.
Um estudo relatou que a terapia eletroconvulsiva pode ajudar a reduzir os sintomas da esquizofrenia mais rapidamente do que apenas a medicação, ou para aqueles cujos sintomas não melhoram tão rapidamente quanto a média.
Uma alternativa menos invasiva à ECT é a estimulação magnética transcraniana (TMS), que utiliza campos magnéticos e estimula os nervos cerebrais. É geralmente utilizada para a depressão, mas uma revisão de ensaios clínicos aleatórios e controlados descobriu que é eficaz na redução das taxas de alucinações.
Vários suplementos dietéticos foram estudados em conjunto com a esquizofrenia e mostraram resultados positivos.
Enquanto alguns deles são tipicamente testados para a redução dos efeitos colaterais de medicamentos ou outros problemas secundários, a maioria deles ajuda a reduzir os sintomas reais.
Exemplo de suplementos para a esquizofrenia que podem ser prescritos por seu médico, são (lembre-se de seguir sempre as orientações de um profissional de saúde especializado em saúde mental):
Fazer terapia é extremamente importante para o tratamento da esquizofrenia.
Isso porque, o acompanhamento com um psicólogo ajuda a pessoa a enfrentar os desafios do dia a dia da doença e a buscar seus objetivos de vida, como ir para a faculdade ou trabalho.
Conheça alguns tipos de terapia que podem ser muito benéficas no tratamento:
A hospitalização não deve ser um tabu e é um tratamento que ajuda em momentos de crise ou casos da doença onde a pessoa precisa de assistência médica de forma mais integral e completa.
Por isso, tenha sempre por perto o contato do psicólogo ou psiquiatra que acompanha o caso. Não deixe de buscar ajuda principalmente em casos de ideação ou tentativa de suicídio.