Conheci o puerpério quando a Manu tinha uns 5 dias, provavelmente ele chegou um pouquinho antes disso. Mas foi no dia 7 de agosto que ele veio, apertou minha mão me deu aquele abraço e demorou para soltar. Lembro muito desse dia, porque eu não consegui comer, tomar banho, amamentar e tínhamos que levar a Manu para o pediatra. O carro parava ela chorava, eu não conseguia fazer ela parar. Eu chorava, o trânsito parava mais, a cicatriz da cesárea doía e o peito também.

33 dias depois do nascimento da Manu acordei de madrugada para amamentar, arrotar, trocar e quando a Manu voltou a adormecer, não consegui dormir. Comecei a chorar muito e resolvi escrever, aí saiu o texto abaixo, que relata exatamente o que foi o puerpério para mim.

Lembro como se fosse hoje de pensar: “O que eu fui inventar!!”

Ser mãe é a coisa mais difícil que existe no mundo. Ser astronauta ou neurocirurgião não chega aos pés de ser mãe, porque nas duas profissões existem as folgas. Quando engravidamos ninguém fala isso, tem uma amiga que fala que é porque a experiência não é difícil para todas. Besteira! É complicado pra caramba. Eu hoje completo 33 dias sem dormir direito, minha cabeça dói, meu humor está péssimo, choro constantemente e me pergunto pelo menos uma vez por dia “onde fui me enfiar?”.

Hoje, atendendo mulheres que estão passando por esta fase escuto muito cada uma dessas palavras que eu disse há pouco mais de 2 anos e cada dia tenho mais certeza de que nós realmente não fazemos ideia de como será conviver com esse tal de puerpério.

Antes havia uma rede de acolhimento para mãe no puerpério, hoje ela é autossuficiente não precisa mais. Precisa lidar com todas as mudanças e frustrações sozinha, ouvir as críticas sorrindo, ver o marido dormir tranquilamente (ele trabalhou o dia todo coitado!), voltar ao trabalho em 4 meses (o que fazer com o bebê?!?), se olhar no espelho e se achar horrível, passar o dia todo vomitada e o mais importante, rezar para que ninguém tenha o poder de ler seu pensamento naquela hora que o bebê chora sem parar e você não sabe o que fazer.

O que acontece no puerpério?

O puerpério, assim como a gravidez, é um período bastante sujeito à ocorrência de crises, isto se deve às profundas mudanças desencadeadas pelo parto (Ah, o puerpério são as 6 a 8 semanas após o parto). As 24 horas após o parto são muito confusas para a puérpera. Há sensação de desconforto físico por conta do sangramento, náuseas, dores e isso ocorre concomitantemente com a ansiedade pela chegada do bebê. Na primeira semana após o parto há muita labilidade emocional, com uma há alternância constante de euforia e depressão, esta última podendo ocorrer em grande intensidade e se tornar uma depressão pós-parto.

Alguns autores acreditam que isto ocorre por fatores hormonais e também por conta da conscientização da nova realidade combinada com a exaustão e a limitação de algumas atividades. Para outras mães é difícil aceitar o bebê real que na maioria das vezes é diferente do bebê idealizado na gravidez. O amor incondicional materno preconizado socialmente pode também não se fazer presente e isto gera culpa.

Há também a questão paterna, por mais que os homens estejam mais participativos, ainda tem um ranço daquela versão de família, o homem sustenta e a mulher cuida da casa. O grande problema é que a mulher também sustenta e aí? Como faz?

A terapia online pode ajudá-la a superar esse desafio

Como passar ilesa a tudo isso? Não faço ideia, se você conseguiu conte-me como! O que me ajudou muito a lidar com esse momento desafiador e crescer com ele foi a terapia.

Costumo dizer às mulheres para que elas tentem, nos momentos de crise, resgatar pequenas conquistas diárias. Algo que você fez que deu prazer e sensação de completude. Pense aí – tenho certeza que hoje mesmo você fez algo, mesmo no puerpério, que te deu o maior orgulho. Pode ser até escovar os dentes e tomar banho!

O mais incrível de tudo isso é sempre ter em mente que certamente você é a melhor mãe que seu filho poderia ter. O puerpério pode deixar a gente meio confusa, achando que não vai dar conta e que nunca mais vamos voltar a ser como antes. E quer saber, é verdade nada vai ser como era, afinal renascemos e assim nos tornamos mães. Incríveis, reais e perfeitamente imperfeitas.

Obrigada a todas as experiências perfeitamente imperfeitas que me fizeram ser quem sou hoje. Incluindo até o “querido” puerpério.