De todas as constatações da condição humana, envelhecer e a perspectiva real da morte são as que costumam causar mais angústia. Na busca pelo autoconhecimento e pelo propósito individual, aceitar o ciclo da vida e saber viver plenamente cada fase é uma das etapas mais importantes e fundamentais para se ter uma vida com menos ansiedade, mais presença e felicidade.

Uma das mais recentes produções da Netflix, o sitcom Grace and Frankie, estrelado pelas talentosíssimas e septuagenárias Jane Fonda e Lily Tomlin, retrata a terceira idade sem os clichês e lugares-comuns que costumam surgir quando falamos de envelhecimento. Na série, dois casais se separam após passarem a vida toda juntos e, para a surpresa geral, os dois homens das relações – amigos de longa data – revelam que passaram os últimos 20 anos apaixonados, em um romance secreto e que, já próximos à aposentadoria, decidem viver plenamente.

A partir daí, a rotina e o processo de redescobrimento de suas ex-mulheres, assim como do novo casal, é apresentado de forma às vezes leve e cômica e outras vezes melancólica e cheia de conflitos, como a vida. O interessante, porém, é olhar para a terceira idade com o mesmo entusiasmo e frio na barriga de quem está experimentando algo pela primeira vez. De maneira geral (e sem spoilers!), a rotina dos quatro protagonistas não tem nada de tediosa ou solitária e é permeada por questões como empreendedorismo, uso de drogas – lícitas e ilícitas – sexo aos setenta anos, amizades e muitas mudanças.

Esse olhar para a velhice como um momento ativo e proveitoso da vida é gerador de momentos de felicidade. Em artigo publicado no blog do Zenklub, o psicólogo Alexandre Abreu Valle ressalta a importância de mudarmos a perspectiva quando encaramos o envelhecimento. “Envelhecer não é uma tragédia. Quando aceitamos com tranquilidade o fato de que isto é parte de nossa condição de estar vivo e produtivo, reformulamos nossas maneiras de continuar sendo úteis, acompanhando a evolução do mundo com olhos mais experientes.

O passado faz parte de nós, mas não devemos nos amarrar a este e lutar contra o que se afigura de novo. Devemos ter consciência das transformações pelas quais nosso mundo passa e tentarmos sermos capazes de utilizar e aproveitar nossas capacidades e nossa experiência vivida. A felicidade pode e deve ser preservada através de novas realizações”,  afirma o psicólogo do Zenklub.

Conhecendo iniciativas

Uma iniciativa desenvolvida na cidade de Lisboa, em Portugal, reúne mulheres com mais de 65 anos para produzirem juntas objetos de design. O projeto A Avó veio Trabalhar foi criado pelo casal Susana António e Ângelo Campota. Ela designer e ele psicólogo, voltaram de uma temporada em Milão inspirados em fazer algo novo pelo design português. Em vez de buscarem novos designers, criaram um espaço criativo onde idosos pudessem passar o tempo com qualidade e se reintegrarem à sociedade, produzindo objetos úteis e artísticos.

Terapia é para quem quer se desenvolver

Outra iniciativa de inclusão aconteceu no Brasil recentemente. O site Reclame Aqui recrutou em suas redes sociais mulheres mais velhas, para trabalharem como recepcionistas. No anúncio, em vez das exigências comuns de nível superior de ensino e conhecimento de idiomas, os atributos procurados pela empresa eram “boa comunicação, amor e alegria”.

Reconhecer a felicidade é um exercício comum a qualquer fase da vida, seja a velhice ou a juventude. Como bem pontuou em artigo a psicóloga do Zenklub Andrea Cunha, a felicidade não é o ponto final. “Muito se fala da busca pela felicidade e que, no fundo, todos nós, do bom mocinho ao bandido, estamos em busca de sermos felizes. Mas a felicidade não é o destino e nem o ponto final, mas sim momentos presentes no percurso, na estrada da vida. Você consegue perceber esses momentos no seu cotidiano? Tem autoconhecimento suficiente para isso?”