O nome pode parecer estranho, “Borderline”, mas acredite, a Síndrome de Borderline, ou Transtorno de Personalidade Borderline (TPB), ou Estado-limite, atinge hoje aproximadamente 6% das pessoas no mundo e, por isso, precisamos conversar sobre ela. Não só porque você pode estar sentindo variações na sua personalidade que estão te deixando em dúvida ou incomodado, mas também por estar percebendo essas alterações em pessoas próximas a você.
Por conta disso, nada melhor do que a informação e o entendimento do que essa palavra tão diferente pode estar afetando as suas relações pessoais e sociais.
O que é personalidade?
Antes de aprofundar no que é, nas causas e tratamentos para a Síndrome de Personalidade Borderline, vamos entender primeiro o que é personalidade e como ela atua na sua vida.
Personalidade, no dicionário, é um substantivo que refere-se ao conjunto de qualidades ou condição de ser uma pessoa. E outras palavras, é a personalidade que reúne as suas características genéticas, físicas e sociais, e te faz um ser humano único no mundo.
São dois elementos que compõe a personalidade, o temperamento, advindo da sua genética, e o caráter, que é determinado pelo ambiente que você vive. Ou seja, é ela que também o faz ser um ser sociável e atribui limites para isso, determinando o seu comportamento diante do mundo e dos estímulos que você recebe frequentemente.
Transtornos de personalidade
Pessoas com transtorno de personalidade possuem comportamentos e traços emocionais de interação ou individual, que fogem à normalidade da pessoa. Não há uma causa única definida que determine essas alterações, mas sim multifatores genéticos e até ambientais que podem provocar as mudanças.
Há diversos tipos diferentes de transtornos de personalidade, como a bipolaridade, a antissocial, narcisista, paranóide, esquizóide, esquizotípicas, obsessivo-compulsiva, entre outros transtornos, mas aqui vamos nos aprofundar na Síndrome de personalidade limítrofe, também conhecido como Borderline.
O que é a Síndrome de Borderline?
O termo Borderline significa “fronteiriço”, e foi estudado apenas em 1938 por Adolph Stern, um psicanalista americano, mas só na década de 80 que o diagnóstico e a definição da síndrome foi afirmada com precisão, antes disso, médicos e especialistas acreditavam que a personalidade era uma característica imutável nas pessoas.
O Borderline é um dos tipos mais conhecidos de Transtornos de Personalidade, sendo chamado também de Transtorno de Personalidade Limítrofe ou Síndrome de Borderline. Por ser um TP, as pessoas atingidas apresentam um padrão distinto, rígido e duradouro de comportamentos. Podemos caracterizar essa doença em uma palavra: instabilidade.
Pessoas com transtorno de personalidade borderline têm problemas para controlar seus pensamentos e gerenciar seus sentimentos, além de apresentarem comportamentos impulsivos e imprudentes, ou seja, essas pessoas alternam momentos mais estáveis com surtos psicóticos e comportamentos descontrolados. Por terem grande instabilidade emocional, suas relações pessoas são, frequentemente, caóticas, além de viverem constantemente com sentimentos de sofrimento e angústia.
Quais as causas do Borderline?
Apesar das causas da Síndrome de Borderline serem incertas, há determinados fatores que especialistas acreditam estar ligados ao desenvolvimento da doença. Eles podem ser genéticos, neurológicos e ambientais:
Influência da genética
Não existe um gene responsável, mas há algumas evidências de que o desenvolvimento deste distúrbio relaciona-se com a genética. Estudos realizados com gêmeos mostraram que, se um dos gêmeos sofre com o transtorno, há uma grande chance de que o outro também sofra. Além disso, pessoas que tem um ou os dois pais Borderline também têm chances maiores.
Ambiente familiar e traumas na infância
Há uma quantidade significativa de pessoas com Síndrome de Borderline que relataram ter tido uma infância conturbada como consequência de um ambiente familiar instável. Fatores como ter pais de personalidades hostis e o desenvolvimento da criança em um ambiente de muitos conflitos podem estar ligados ao aparecimento de traços da personalidade Borderline. Traumas como abuso emocional, verbal e sexual durante a infância também podem contribuir para o surgimento dos sintomas e também de TEPT (Transtorno do estresse pós-traumático).
Alterações no cérebro
Alterações no cérebro também podem contribuir para o surgimento de traços Borderline. Em estudos, pesquisadores descobriram que a parte do cérebro responsável por regular as emoções da pessoa, são menores e mais ativas do que o normal, o que pode explicar a intensidade dos sentimentos experienciados por pessoas com esse transtorno. Além disso, a parte cerebral responsável pelo autocontrole também é menor do que a de pessoas “saudáveis”, o que pode ser associado à extrema impulsividade da pessoa que sofre do Transtorno Borderline.
Como identificar o Transtorno Borderline e quais os sintomas?
Indivíduos com Transtorno de Personalidade Borderline se caracterizam especialmente por sofrerem grande instabilidade emocional, desregulação afetiva excessiva, sentimentos intensos e extremos (o famoso “8 ou 80”), medo irracional de abandono e sentimentos profundos de vazio e tédio.
Por terem súbitas e profunda de humor, as pessoas costumam ter relações interpessoais muito intensas, instáveis e até caóticas, tornando o convívio com elas extremamente difícil. Eles também podem apresentar comportamentos de auto-sabotagem, como, às vezes, não sabem lidar com o sucesso, é comum abandonem suas metas justo quando a perspectiva de consegui-las está bem próxima.
Os sintomas da Síndrome de Borderline podem começar a aparecer na adolescência ou no início da vida adulta. No entanto, o diagnóstico geralmente não é feito em adolescentes porque, nessa fase, a personalidade ainda está em formação e alguns traços considerados Borderline podem sumir com os anos.
Veja algumas características definidas por especialistas para identificar os sinais de um possível caso de Transtorno de Personalidade Borderline:
- Instabilidade afetiva e alterações intensas de humor – episódios de disforia (mal-estar), irritabilidade ou ansiedade, que podem durar horas a alguns dias;
- Raiva ou ódio inapropriados, intensos e de difícil controle;
- Sentimentos crônicos de vazio e tédio;
- Recorrentes tentativas ou ameaças de suicídio e automutilação;
- Padrão de relacionamentos instáveis e intensos, marcado por extremos de idealização e desvalorização (como o amor ou ódio, bom ou mau);
- Extrema impulsividade e compulsão em pelo menos duas áreas potencialmente prejudiciais, como gastos financeiros, sexo, drogas, álcool, vícios, comida e cleptomania;
- Esforços constantes e intensos para evitar um abandono/rejeição real ou imaginário;
- Crises de identidade: autoimagem, autoestima, preferência sexual, gostos e valores instáveis;
- Comportamentos paranoides temporários, devido ao estresse ou sintomas dissociativos graves.
Os tipos de Transtorno Borderline
Apesar de não existir uma classificação oficial e científica, há alguns autores que, por acreditarem que há diferentes manifestações desse transtorno, criaram subtipos para expressar essas diferenças. Vamos explicar duas das classificações mais conhecidas:
Classificação de Randi Kreger
O autor Randi Kreger classificou o Transtorno de Personalidade em 2 tipos:
Borderline Convencional
Ou também conhecido como Borderline de Funcionamento Baixo é o transtorno em que a pessoa apresenta sintomas mais autodestrutivos, podendo ser frequentemente internado por tentativas de automutilação e comportamento suicida. Esse tipo de borderline busca aliviar a dor emocional em si mesmo.
Borderline Invisível
A pessoa com esse tipo, aparenta levar uma vida normal e, muitas vezes, nem se percebe que ele sofre desse transtorno. Podem levar rotinas normais de trabalho e estudo e não apresentam frequência em comportamentos autodestrutivos. Por outro lado, o transtorno se acaba se manifestando em seus relacionamentos, no abuso verbal, críticas e até mesmo violência física. Esse tipo de borderline “desconta” sua raiva nos outros.
Classificação de Theodor Milton
Já o autor Theodor Milton criou 4 subtipos para classificar as diferentes manifestações do Transtorno de Personalidade Borderline:
Borderline Desencorajado: Podem ter características de personalidade esquiva, incluindo isolamento, ser flexível, submisso e leal. Costumam se sentir vulneráveis e em constante perigo.
Borderline Petulante: Comportamento passivo-agressivo, impaciente, inquieto, teimoso, desafiante, pessimista e rancoroso. É rapidamente desiludido.
Borderline Impulsivo: Tendem a ser caprichosos, superficiais, distraídos, indecisos, frenéticos e sedutores. Sob ameaça de abandono ou perda, tornam-se sombrios e irritáveis. São potencialmente suicidas.
Borderline Autodestrutivo: Podem ter comportamentos depressivos ou masoquistas – sua raiva é autopunitiva. Tendem a ser conformistas, tensos e mal-humorados. São possivelmente suicidas.
A Síndrome de Borderline tem cura?
Tecnicamente, a Síndrome não tem cura, mas quando tratado adequadamente, a pessoa pode melhorar sua qualidade de vida e relações pessoais. Além disso, os sintomas costumam melhorar ao longo dos anos e, por volta dos 40 anos de idade, grande parte das pessoas Borderline podem ver seus sintomas sumirem.
Como é feito o diagnóstico?
Não há um exame físico ou clínico, como o de sangue, que identificam os sintomas em pessoas com o Transtorno. Esse diagnóstico poderá ser feito de forma precisa com um especialista em bem-estar emocional, como os psicólogos e médicos psiquiatras.
Neste teste o profissional irá avaliar o histórico médico, tanto da própria pessoa como o familiar, além de exame fisiológico para excluir a possibilidade de doenças mentais com características parecidas com o Borderline, como a esquizofrenia ou até a depressão.
Quais os tratamentos possíveis para esse transtorno?
O tratamento dos sintomas do Transtorno de Personalidade Borderline é em grande parte feito por meio da orientação psicológica, podendo estar associada a medicamentos estabilizadores de humor, antidepressivos e antipsicóticos.
Entenda no detalhe como funcionam esses tipos de tratamento:
Medicamentos: Não existe um medicamento específico para tratar o Transtorno, mas há certos remédios eficazes para controlar alguns sintomas da doença, como os antidepressivos para reduzir a sensação de vazio, os antipsicóticos para diminuir comportamentos impulsivos, os autodestrutivos e sintomas dissociativos e os estabilizadores de humor para diminuir a oscilação emocional. Toda medicação deverá ser acompanhada pela indicação profissional e deve-se evitar o abuso de substâncias.
Terapia:Há três tipos de psicoterapias que auxiliam no tratamento de pessoas com o Transtorno de Borderline, veja.
Terapia Cognitivo Comportamental
A Terapia Cognitivo Comportamental (TCC) ajuda a pessoa a identificar e transformar determinados comportamentos e crenças prejudiciais a si mesma e a outras pessoas. Com esse tipo de a pessoa aprende a lidar melhor com pensamentos paranoicos, a compreender suas emoções e controlá-las e também reduzir a ansiedade e comportamentos autodestrutivos.
Terapia Comportamental Dialética
Essa abordagem de terapia baseia-se no conceito de consciência plena e tem o objetivo de promover a eficácia interpessoal, regulação emocional, tolerância ao estresse e autocontrole.
Terapia familiar ou matrimonial
O alvo desse tipo de ter terapia são as relações interpessoais, que são abaladas pelo transtorno. A terapia familiar ajuda os familiares a entender melhor a condição em que se encontra o Borderline e a desenvolver técnicas para evitar conflitos e melhorar a comunicação.
Pessoas que revelaram ter Borderline
Estima-se que a síndrome de Borderline atinge homens e mulheres, mas desse total, 75% dos casos são em pessoas do sexo feminino. Entre os casos mais conhecidos entre celebridades e pessoas famosas, temos nomes como Britney Spears, Angelina Jolie, Lindsay Lohan, Amy Winehouse, Marilyn Monroe, Lady Day, Kurt Cobain, Woody Allen e Jim Carrey.
A arte imita a vida
Para quem quer buscar mais informações sobre transtornos de personalidade há filmes muito interessantes que abordam essa temática. Veja algumas dicas:
Transtorno Borderline:
Gia – Fama e destruição (1998);
Garota interrompida (1999);
Sete dias com Marilyn (2010)
Esquizofrenia:
Uma mente brilhante (2001);
O solista (2009)
Transtorno de personalidade antissocial:
Um estranho no ninho (1975);
Prenda-me se for capaz (2003)
Transtorno de personalidade histriônica:
Jornada da alma (2003)
Transtorno Bipolar:
Amadeus (1984)
Como você pode ajudar uma pessoa com a Síndrome de Borderline?
O Transtorno também pode abalar as pessoas que convivem com pacientes diagnosticados com Borderline, como amigos e familiares, e é normal você se questionar como você pode desempenhar um papel mais proativo e de força e colaboração para a superação desse problema.
Além do apoio emocional e do incentivo a procura de um especialista e da frequência nas sessões de terapia, é importante também ter paciência e acompanhar o tratamento mais de perto para que você consiga captar e aprender melhor como lidar com as situações difíceis e de crise, por exemplo.
Situações de crise e de emergência podem ocorrer e é preciso buscar o especialista responsável pelo tratamento e peça ajuda. Caso a pessoa ainda não esteja em tratamento, poderá ser necessário a ida a um pronto-socorro ou a um ambulatório de psiquiatria para conter a crise e receber as orientações necessárias. O mais importante é: mantenha a calma, mesmo que seja difícil e procure ajuda, nem tudo podemos resolver sozinhos!
Não sei como dar o primeiro passo
Como falamos, a terapia é um item fundamental no tratamento de transtornos mentais. Sabemos que muitas pessoas nunca experimentaram as vantagens da psicologia e da psicoterapia no cuidado e no respeito com o seu próprio bem-estar emocional, muitas tem até certo preconceito e dúvidas sobre a qualidade do tratamento, mas acredite, você só vai descobrir os benefícios e quebrar esse tabu quando experimentar uma sessão.
Aqui no Zenklub, contamos com a parceria de especialistas em bem-estar emocional, que selecionamos a dedo para conectar, através de sessões por videoconsulta, profissionais como psicólogos, terapeutas e coaches, para que você realize as suas sessões onde e quando você quiser. Esses especialistas irão te ajudar a encontrar ferramentas para você superar os seus desafios e inseguranças do dia a dia, e também tratar Transtornos reais como a Síndrome de Borderline e tantos outros como, crise de ansiedade, depressão e angústia. Na dúvida, às vezes é melhor prevenir que remediar e nós podemos te ajudar a encontrar o caminho para as soluções das suas questões emocionais.
O mais importante é ter a consciência e confiança de que é possível fazer um tratamento e que essa luta só depende de você. Para casos mais avançados, com chances de suicídio, não deixe de ter por perto o telefone do Centro de Valorização da Vida (CVV), com o número 141. Lá você encontra profissionais capacitados para ajudar você ou a quem precisar, em um momento de crise. O serviço é disponível a toda a sociedade e as chamadas são confidenciais.