O transtorno de personalidade antissocial é uma condição que muitas vezes é confundida com a psicopatia.
A pessoa com o transtorno de personalidade antissocial tem maior predisposição à prática de atos ilícitos e se envolver em organizações criminosas.
Estima-se que a prevalência do transtorno de personalidade antissocial seja de 0,5 a 3% na população em geral, aumentando para 45 a 66% no caso das pessoas que estão na cadeia.
Diferente de outras condições, esse transtorno de personalidade é mais comum entre os homens. Assim, a cada 7 pessoas com o transtorno de personalidade antissocial, sugere-se que 6 são homens.
Além disso, o transtorno de personalidade antissocial é chamado, pelo Código Internacional de Doenças – CID10 – de transtorno de personalidade dissocial (Código: F60.2).
Os sintomas de transtorno de personalidade antissocial são bem variados e podem se confundir com outras condições, como por exemplo o transtorno de personalidade narcisista.
Mas o que é marcante do transtorno de personalidade antissocial é a prática de:
Além disso, um dos sintomas mais marcantes do transtorno de personalidade antissocial é a ausência de culpa. Isto é, quem possui esta condição não sofre de remorso por atos ilícitos e por prejudicar terceiros.
Esses sintomas ocorrem por uma consciência extremamente centrada em si (muito diferente de sintomas de condições em que há a dependência do outro, como no transtorno de personalidade dependente).
Apesar de na maioria dos casos de transtorno de personalidade antissocial apresentarem entre os sintomas os atos ilícitos, nem todos aqueles que apresentam essa condição são criminosos.
O transtorno de personalidade antissocial é muitas vezes confundido com a psicopatia.
Mas as condições não são sinônimos.
Pense assim: o transtorno de personalidade antissocial é uma grande caixa na qual está guardada a psicopatia e outras condições (como por exemplo a sociopatia).
Ou seja, a diferença entre psicopatia e transtorno de personalidade antissocial é que todo psicopata possui o transtorno, mas nem todos com o transtorno são psicopatas.
Para que você compreende bem a diferença entre psicopatia e transtorno de personalidade antissocial, preparamos uma tabela:
Psicopatia | Transtorno de personalidade antissocial | |
Causas | Sofre forte influência de herança genética, embora tenha correlação com traumas e vivências do passado. | Possuem relação com o meio socioeconômico, acesso à educação e outros fatores de vulnerabilidade social. |
Relações interpessoais | Aparentemente muito boas. O psicopata tem grande habilidade de convencer as pessoas. Por isso, ele é extremamente agradável e, em alguns casos, pode seduzir as pessoas a fim de manipulá-las ao seu favor. Possuem trabalhos de alto escalão, constroem negócios multimilionários e tem uma ampla rede de contatos. |
Tem dificuldades para lidar com as outras pessoas. Uma característica marcante de quem tem o transtorno de personalidade antissocial e não é psicopata é a impulsividade e a agressividade. Por isso, raramente essas pessoas se mantêm em um emprego e conseguem desenvolver relações amorosas com outras pessoas. |
Atitudes | São frios e calculistas. Sabem exatamente o que querem antes de tomar uma ação. Não se importam com a moralidade dos atos, embora possam ter senso de ética. |
Diferente do caso dos psicopatas, eles muitas vezes agem por impulso e não pensam nas reações das pessoas antes de fazer algo. Muitas vezes desconhecem nenhum norte moral, o que favorece atitudes hostis. |
Colocar-se no lugar do outro | Não nutrem nenhuma empatia pelas pessoas ao seu redor, independente do grau de proximidade. | Em casos de familiares mais próximos, cônjuges e filhos podem ter algum nível de empatia e carinho genuínos. |
Atos ilícitos | São complexos e envolvem muitas pessoas, o que dificulta a ação da polícia para descobrir participação criminosa. Por vezes, conseguem acobertar por anos seus crimes. | São crimes pouco arquitetados e deixam muitas brechas, o que facilita o trabalho dos policiais. A maioria deles acaba indo para a prisão, devido a isso. |
Prevalência | 0,5% a 1% da população possui a condição | 1 a 3 % da população |
A médica psiquiatra e escritora do livro best-seller “Mentes perigosas: O psicopata mora ao lado” Dra Ana Beatriz Barbosa, uma das maiores especialistas no tema, afirma que existem vários graus de transtorno de personalidade antissocial.
Assim, essa condição funciona como um espectro, isto é, uma linha em que em uma ponta estão os casos leves do transtorno e na outra os casos mais graves.
Além disso, Ana Beatriz comenta que os casos de psicopatia também são diferentes entre si, ao passo que podem ser divididos em vários graus.
Por exemplo, o caso do serial killer Hannibal Lecter, retratado pela primeira vez no livro “O dragão vermelho”, é o grau mais elevado do transtorno de personalidade antissocial.
O tratamento do transtorno de personalidade antissocial é difícil, pois envolve a adesão consistente e por um longo tempo à terapia.
Em alguns casos, a pessoa com a condição não possui o desejo de mudar, de se tornar alguém melhor e que não volte a cometer crimes.
No entanto, algumas das abordagens que pode ser eficazes no tratamento são:
Vale destacar que os medicamentos devem ser prescritos somente por um médico psiquiatra.
A família muitas vezes é a primeira a perceber que algo está estranho com a pessoa com transtorno de personalidade antissocial.
Afinal, existem alguns sinais que podem apontar para essa condição.
Por vezes, a pessoa com o transtorno de personalidade antissocial (principalmente nos casos de psicopatia) tem um quê manipulador.
Assim, diferente de condições que causam afastamento social – como o caso de transtorno de personalidade esquiva -, quem sofre do transtorno antissocial de personalidade pode ludibriar os familiares a fim de obter benefícios como valores monetários ou até mesmo proteção.
Na maior parte dos casos de transtornos de personalidade antissocial ocorre em crianças que tinham o chamado transtorno de conduta (cujo diagnóstico persiste até os 15 anos de idade). Os sintomas deste podem incluir:
De certa forma, o transtorno de conduta é um prenúncio manifestado da infância do desenvolvimento do transtorno de personalidade antissocial.
Sentir culpa em excesso não é nada bom.
No entanto, um dos maiores sintomas do transtorno de personalidade antissocial é a ausência completa de culpa (em alguns casos da condição há empatia pelas pessoas mais próximas).
Ao notar este ou os outros sinais em alguém, é importante procurar um especialista para uma avaliação aprofundada.
O transtorno de personalidade antissocial possui uma série de nuances e os sintomas nem sempre são os da psicopatia.
No caso, é preciso lembrar que existem vários graus de transtorno antissocial de personalidade. Ou seja, a menor parte dessa condição reflete os comportamentos dos chamados “serial killers”, o nível mais grave do transtorno.
De qualquer forma, em caso de suspeitas sobre o diagnóstico, o ideal é procurar um dos especialistas em transtorno da personalidade antissocial.
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Referências:
1) SOARES, Marcos Hirata. Estudos sobre transtornos de personalidade Antissocial e Borderline. Acta Paul Enferm 2010; Disponível em: https://www.scielo.br/j/ape/a/dhwbXqWpbLRwCfTPyrt8hMy/?lang=pt&format=pdf
2) KAPLAN, H. B.; SADOCK, B. J.; GREBB, J. A. Compêndio de psiquiatria: Ciências do comportamento e psiquiatria clínica. Porto Alegre: Artes Médicas, 2003.