Não raro, quando um prato se demonstra prazeroso ao paladar, mesmo depois de satisfeitos, muitos são os que se permitem ceder e comer um pouco mais, afinal de contas há uma sensação agradável ao fazê-lo, a comida está saborosa.

Saindo da seara daquilo que é esperado como a conduta culturalmente normal temos outras formas de expressão. É o que acontece na compulsão alimentar. A ingestão de grandes quantidades de alimentos ocorre em um curto período de tempo. Tais episódios duram em média duas horas.

Há ainda aqueles que apresentam episódios em que, mesmo após uma boa refeição e de se sentirem plenamente saciados, o apetite parece inesgotável. Isso leva a pessoa a comer novamente dali a pouco, mas ao contrário do exemplo anterior, não em grandes quantidades: antes, são “pequenas” porções que nem são por eles consideradas refeições. É comum nesses casos ouvir o termo “beliscar”, quase como uma negação do “comer”. E a despeito da dor e do desconforto já terem dado sinais de que era preciso parar com a ingestão, o sujeito persiste e torna a comer mais alguma coisa. Geralmente, uma das consequências a médio e longo prazo é o aumento significativo de peso, o que pode levar à obesidade.

Com o ganho de peso, se esse for indesejado, é possível que advenha um sentimento de culpa que, longe de ajudar, torna o sujeito ainda mais refém de seu sintoma. Em outros casos não há culpa, mas uma insatisfação permanente com a autoimagem e um sentimento de impotência diante da realidade instalada. A ansiedade e a depressão muitas vezes acompanham esses quadros.

Geralmente os pacientes obesos chegam à terapia por outros motivos que não a obesidade, exceto quando se trata de elaboração de laudo e acompanhamento para cirurgia bariátrica. Um dos motivos pode estar relacionado ao fato de parte da população considerar a obesidade quase como um desvio de caráter, e associa o corpo obeso ao desleixo, à preguiça, à indisciplina, à falta de vontade de mudar; contudo, quando examinamos os quadros clínicos, observamos que a obesidade vai além do que os olhos são capazes de julgar ou os exames médicos capazes de demonstrar. A obesidade tem origem multifatorial, tais como: fatores genéticos, estilo de vida, doenças associadas e o fator psíquico, ou seja, a mente, que não pode ser ignorada.

CRESCE NÚMERO DE PESSOAS COM OBESIDADE

De acordo com dados apresentados pelo Ministério da Saúde, nos últimos 10 anos, entre 2006 e 2016, a obesidade aumentou em 60% e o excesso de peso avançou de 11,8% para 18,9% no mesmo período. A diferença entre excesso de peso e a obesidade reside no Índice de Massa Corporal (IMC), trata-se de uma avaliação utilizada pela Organização Mundial de Saúde que correlaciona peso-altura, podendo as pessoas ser subdivididas em seis categorias:

Mesmo diante de toda informação disponível, dos avanços da medicina e da farmacologia já disponíveis, os índices de obesidade estão aumentando.

O atendimento psicológico pretende compreender o sujeito para além de seu sintoma. Isso ocorre através do encontro do paciente com o terapeuta, que o compreende enquanto um ser humano incluído em seu próprio ambiente, com uma história de vida única, que será considerada a base para o seu tratamento. Desse modo, o alimento que hoje o controla e oprime passará a ser uma fonte de vitalidade e saúde.