O fato de muitas mulheres ganharem mais do que o parceiro não deveria gerar desconforto no relacionamento. Mas, apesar de o número de lares brasileiros chefiados por mulheres ter subido (dados do Ipea mostram que em 1995, 23% das casas tinham mulheres como pessoas de referência. Em 20 anos, o índice saltou para 40%), quando elas ganham mais do que eles, a diferença ainda é foco de discussão.
Isso porque, mesmo com os avanços em relação aos direitos da mulher e à igualdade entre os gêneros, muitas pessoas ainda preservam o conceito de que o homem é quem deve ser o provedor da casa. Corrobora com essa ideia o fato de as mulheres ganharem menos do que os homens no mercado de trabalho. Dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgados no final do ano passado revelam que os homens ganham em média R$490 a mais do que as mulheres no mercado de trabalho.
Quando a realidade é diferente disso, muitos relacionamentos costumam passar por momentos difíceis. O blog do Zenklub convidou a psicóloga Luciana Taguti para comentar o assunto e falar sobre o que é possível fazer para manter o relacionamento saudável diante do desequilíbrio financeiro entre os parceiros.
Quando são as mulheres que ganham mais do que os homens podem surgir problemas no relacionamento porque, mesmo hoje, muitos homens se sentem constrangidos e sentem seu orgulho e virilidade atingidos por esta situação. Muitos homens não estão preparados ou não foram educados, para ter uma relação profissional e de poder igualitária em relação à mulher. A mulher com uma renda maior ou na situação de arrimo da família, foge dos padrões tradicionais que estabelecem socialmente o homem como o principal provedor.
Há ainda a diferença de conceitos, valores e crenças que fazem com que muitos homens terminem seus relacionamentos, por não aceitarem e não saberem lidar com a independência das mulheres, pois elas passam a não serem mais submissas e dependentes deles. É como se a proteção e o sustento da família, no passado vistos como as principais funções sociais do homem, deixassem de existir.
As formas de diminuir os riscos de um problema decorrente da diferença de renda são: em primeiro lugar, dialogar para saber como o parceiro se sente frente a essa situação e depois apoiá-lo e incentivá-lo no seu desenvolvimento e crescimento na carreira ou mesmo a sua dedicação a uma nova atividade profissional que ele demonstre vocação ou realmente goste. Mostrar também que o trabalho e a renda dele são tão importantes quanto a da mulher, também pode amenizar o mal estar. Manter um padrão de vida que seja condizente com a renda mensal de ambos, não apenas com a da mulher, é mais uma atitude que evita situações de saia justa.
Um dos indícios de que a mulher possa estar se diminuindo para não constranger o parceiro é se sentir culpada por ganhar melhor, inconscientemente, pode estar passando na cabeça da mulher que ganhar salários maiores não é um direito feminino diante do homem. As mulheres sempre deveriam se sentir orgulhosas pelas suas conquistas, pois em sua grande maioria, chegaram na posição que ocupam por méritos.
Se o parceiro não obteve o mesmo resultado, a culpa não é dela. Na verdade, em um relacionamento saudável, independente do sexo do parceiro, ele deveria ficar feliz pelas conquistas do outro. Uma relação, seja de amizade, um namoro ou um casamento, passa pelo companheirismo, pelo apoio e pela felicidade verdadeira nas conquistas de quem gostamos.
Para evitar possíveis consequências negativas da mulher ganhar mais do que o homem, procure analisar o que realmente está incomodando e converse com seu parceiro sobre o assunto. Não se sinta culpada por ganhar mais, isso não está certo. A solução mais prática é o homem se reciclar, merecer e pedir um aumento ou até mesmo procurar um trabalho onde consiga ganhar mais. O parceiro incomodado por ganhar menos deve se motivar a melhorar e não o que ganha mais se diminuir para que o outro não se sinta mal.
Em qualquer problema no relacionamento, não existe ferramenta mais poderosa que o diálogo e a falta dele é o principal problema de casais hoje. O erro das pessoas é supor que o que o incomoda está claro para o outro e, a não ser que você diga, saiba que provavelmente não está.
Desta forma, todo assunto pode ser elaborado, estressado, argumentado e questionado. Dialogar não deve se confundir com brigar, não é tirar satisfações, não é cobrar o outro, é principalmente ouvir. Verificar o ponto de vista da outra pessoa e buscar uma solução, independentemente de qual seja o problema.
Terapia para casais pode ajudar, e muito. Mas você também pode fazer terapia individual. Caso busque por uma psicóloga online, temos especialistas prontas para atender.