A gestação provavelmente é o maior dos marcos na vida de uma mulher (menarca, gravidez e menopausa) porque implica na ressignificação de seu papel e de sua identidade. É o sonho de muitas mulheres. Além disso, esse momento delicado envolve uma revolução hormonal que dificulta o controle das próprias emoções e do estresse.
O estresse na gravidez é normal até certo ponto. Afinal, há muito o que fazer até a chegada do bebê, sem falar na expectativa quanto ao sexo, as dúvidas relacionadas ao parto e a insegurança sobre a aptidão materna. Especialmente quando se trata de uma gravidez de risco, o estresse tende a ser ainda mais intenso, podendo até se desdobrar em ansiedade na gravidez ou tocofobia.
Estresse na gravidez é algo perfeitamente normal e compreensível. Enquanto não comprometer a normalidade na vida da mulher ou sua saúde, só precisa ser gerenciado para não se agravar e evoluir para algum transtorno de ansiedade.
O estresse é uma resposta física e emocional diante de uma situação. Ou seja, não necessariamente é algo negativo, mas uma forma de manter o organismo em prontidão para encarar os desafios do dia a dia.
Dentro dos níveis normais, o estresse aumenta a energia, melhora o funcionamento cognitivo e mantém a pessoa focada e motivada a solucionar problemas. Então, o que devemos fazer é saber lidar com o estresse, e não eliminá-lo.
Já a ansiedade é uma resposta ao estresse e envolve a antecipação a uma ameaça futura, normalmente marcada pelo medo ou nervosismo. Quando a preocupação e a tensão se tornam constantes e muito intensas, chegando a atrapalhar a vida normal, atinge níveis patológicos.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde, aproximadamente 9% dos brasileiros sofrem de algum transtorno de ansiedade, a maior taxa de ansiedade do mundo.
São três tipos de situações que provocam o estresse em alguém, independente do sexo da pessoa. São os acontecimentos vitais, os eventos diários e as situações de tensão crônica. Conheça cada um a seguir.
São grandes eventos, que nem sempre são resultado de uma determinada ação. Alguns são simplesmente parte inevitável da existência humana. Por exemplo, a gravidez, a morte de um familiar ou pessoa próxima, a saída de um filho ou filha de casa.
Aqui se encaixam as pequenas tensões do cotidiano, como ter que aguardar em uma longa fila, perder coisas ou sofrer com o barulho da festa do vizinho. E vale destacar que mesmo sendo um evento menor, quando muito frequente, tem a capacidade de gerar efeitos biológicos e psicológicos mais intensos que um acontecimento vital. Isso vale especialmente para a mulher, que não deve sofrer muito estresse na gravidez.
Vale para situações de longa duração, que geram estresse intenso e persistente. Estes casos costumam ter efeitos psicopatológicos importantes, que demandam ajuda especializada. A tensão crônica pode ser consequência, por exemplo, de um relacionamento abusivo, com agressões físicas e emocionais.
Conforme a gravidez avança, o bebê começa a desenvolver os sentidos. A partir da 21ª semana, todo o aparato necessário para a audição está suficientemente estruturado. A partir daí, ele começa gradativamente a ouvir.
Ele não compreende as palavras nem sabe interpretar o tom da voz, então não consegue distinguir as emoções que a mãe sente. Mas isso não quer dizer que ele não é afetado por elas. Ao contrário, as emoções da mãe liberam substâncias que circulam pela corrente sanguínea e, inevitavelmente, chegam à placenta – e ao organismo do bebê.
Se a mãe está feliz, manda serotonina para o cordão umbilical e se está estressada, libera cortisol. O bebê reage a essas mensagens químicas principalmente pela movimentação e batimentos cardíacos. A atividade fetal aumenta ou diminui, assim como o sono. Havendo muito estresse na gravidez, o feto fica em constante estado de alerta e entra em sofrimento.
Percebendo-se sob constante ameaça, ele pode disparar prematuramente os mecanismos do parto, em busca de alívio. Ou então, passar a dormir por muito tempo, afetando sua movimentação e gerando prejuízos ao seu tônus muscular.
O que o estresse pode causar na gravidez? Dentro dos níveis normais, o estresse costuma diminuir com a remoção do agente estressor sem prejudicar o bebê. Então, se a situação estressante for rápida, puder ser adiada ou resolvida por outra pessoa, não haverá problema.
Por outro lado, se a presença do estresse é constante na vida da gestante, é importante saber o que o estresse na gravidez pode causar.
No corpo da mulher, o estresse provoca alterações hormonais, no sistema imunológico e na pressão arterial, com potencial para afetar o desenvolvimento do bebê e a evolução saudável da gravidez. A mulher que diz “estou muito estressada na gravidez” aumenta a liberação de citocinas inflamatórias e de cortisol e essas substâncias atravessam a placenta, chegando até o feto.
Os efeitos no bebê vão depender de uma série de fatores. Não há uma regra que determine a forma e a intensidade desta resposta porque cada mulher reage aos estímulos à sua maneira. Algumas possibilidades de implicações do estresse na gravidez para os bebês são:
O sangramento na gestação tem várias causas. Ele afeta entre 20% e 30% de todas as gestações e precisa sempre ser investigado. Sinaliza, entre outras coisas, uma gravidez ectópica, quando o feto não está dentro do útero. Quando a gravidez é ectópica, requer intervenção imediata, porque tem chances de ser fatal para a mulher.
Outro exemplo de sangramento é a implantação saudável do embrião na parede uterina. Neste caso, é bem pequeno e costuma acontecer quando a mulher deveria estar menstruando. Ou seja, ela ainda nem sabe que está grávida e acaba confundindo com uma menstruação leve.
Quando é muito intenso, o estresse na gravidez pode causar cólica, bem como o estresse na gravidez pode causar sangramento. É uma situação de risco e deve ser avaliada por um médico, porque também indica uma ameaça de aborto ou aborto completo.
Algumas estratégias ajudam a diminuir o estresse e a normalizar as alterações fisiológicas e emocionais que ele provoca. Especialmente no caso das gestantes, esse cuidado é importante e deve ser conhecido pelas pessoas mais próximas a elas.
O estresse é inevitável, já que é uma reação aos acontecimentos da vida cotidiana. O que faz a diferença entre o natural e o patológico é a forma como lidamos com ele. Isso porque a reação e o enfrentamento são formas de impedir que ele ganhe força e passe a dominar nossas ações e emoções.
Meditação, atividade física e apoio são ótimas maneiras de reduzir os impactos do estresse, talvez até diminuir a sua ocorrência. São pilares que viabilizam a execução das estratégias mais adequadas e eficientes para cada pessoa.
A meditação é um caminho para o autoconhecimento e, consequentemente, para a gestão dos pensamentos e sensações. Quem medita regularmente desenvolve a habilidade de colocar as coisas em perspectiva, fortalecendo o autocontrole. Algumas sugestões de técnicas de meditação são a atenção plena (também conhecida como mindfulness), tai chi chuan, tibetana e zen.
Exercício físico estimula a produção de endorfinas, essenciais para o bem-estar. Se antes da gestação a mulher não praticava alguma atividade física, tem uma boa oportunidade para começar.
Com a devida orientação do obstetra, exercícios beneficiam não apenas a mente, mas também o corpo. A redução de dores, o fortalecimento muscular e melhor preparação para o parto são apenas alguns dos benefícios. Boas opções são o pilates e a yoga.
Para enfrentar os desafios da gestação, buscar apoio é fundamental. Seja de familiares ou amigos, seja de um terapeuta ou psicólogo, esse suporte reduz a pressão e ajuda a mulher a lidar melhor com os eventos estressantes que podem surgir.
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Referências
THOMASON, Moriah E. et al. Interactive relations between maternal prenatal stress, fetal brain connectivity, and gestational age at delivery. Neuropsychopharmacol. 46, 1839–1847 (2021). Disponível em: https://doi.org/10.1038/s41386-021-01066-7
DANTAS, Mariane. Ansiedade e estresse. Projeto de Prevenção aos Riscos Psicossociais, Instituto Federal do Rio Grande do Norte. Disponível em: https://portal.ifrn.edu.br/ifrn/servidores/saude-do-servidor/lateral/projeto-de-riscos-psicossociais/ansiedade-e-estresse