Ao mesmo tempo em que é um tema delicado, o aleitamento materno parece estar cercado de lugares-comuns. Já é de amplo conhecimento, por exemplo, que o leite materno deve ser a única fonte de nutrição do bebê até os seis meses de idade e que a complementação desse alimento deve acontecer apenas após esse período.

Também é sabido que esse é um momento muito importante na criação do vínculo afetivo entre mãe e bebê. “Durante esta fase, a criança ingere o leite e também o carinho materno e se nutre disso”, diz Claudia Livingston Ades. Renata Green acrescenta: “A primeira relação significativa que o bebê tem com o mundo exterior é através do seio da mãe, durante a alimentação”.

Apesar das vantagens, apenas 9,3% das mães brasileiras respeitam a recomendação da Organização Mundial da Saúde sobre aleitamento exclusivo e isso se dá por vários motivos. Muitas vezes a mãe acha que o leite está ralo ou não é suficiente. Para outras mulheres, ainda, a experiência não é prazerosa e propicia momentos de dor física e culpa.

“As primeiras mamadas do bebê podem causar alguma dor nos seios devido à grande quantidade de leite”, diz Claudia. “Também podem haver cólicas, causadas pelas contrações do útero, que volta ao seu tamanho original”. Quando a dor e a ansiedade ficam maiores que o prazer de aproveitar momentos com os filhos, deve-se repensar algumas questões.

“Este é o momento em que a ansiedade aumenta consideravelmente. As mães se sentem culpadas em relação ao não cumprimento daquilo que é visto como uma de suas principais funções” completa Renata. Então, um ciclo de estresse se inicia. Além isso, fatores externos anteriores à gestação podem interferir na atividade do hipotálamo e da hipófise, glândula responsável por controlar os hormônios prolactina e oxitocina, necessários para a produção e ejeção do leite.

Claudia completa: “É essencial que este momento seja prazeroso para a mãe, portanto, se ela perceber que se sente incomodada com a amamentação e que o desconforto não passa após algumas semanas, mesmo tomando-se as medidas possíveis, é preferível que alimente seu filho com mamadeira, seguindo, sempre, as orientações médicas, e aproveite esse momento a dois. É melhor do que se sentir obrigada a amamentar e perder a oportunidade de aproveitar esse momento de tanta intimidade com seu filho”.

A literatura acadêmica enfatiza as vantagens da amamentação exclusiva no que diz respeito à nutrição da criança – protetor de  diversas infecções e modulador do crescimento –  e aponta seus benefícios a longo prazo. No entanto, esta continua sendo uma decisão que cabe tão somente à mãe.

“Nosso papel é dar suporte para as mães, independente de qual seja a decisão em relação ao aleitamento – a prioridade é propiciar bem estar para ela e seu bebê, e trabalhar nas ansiedades, buscando outras formas de satisfação”, completa Renata.

A amamentação é um momento importante para todas as partes envolvidas. Uma fase em que se consolidam vínculos importantes entre mãe e filho e que exige cuidados especiais. Sendo assim, é imprescindível que não haja desconforto para nenhum dos lados. Se a mãe sente dor ou desconforto demasiado ao dar o peito, é a hora de procurar o médico da família ou um psicólogo. Seja qual for o método acordado, o mais importante é assegurar-se de que a fase da amamentação seja agradável e construtiva.