A reflexão escolhida para hoje é sobre um tema que abre várias possibilidades de olhares e entrelaçamentos, porém como o próprio nome sugere, existe uma diferença entre relacionamento amoroso e encontro amoroso. A possibilidade de diferenciarmos o relacionamento do encontro nos permite uma reflexão ampla sobre as nossas escolhas, escolhas essas que “facilitam” o indivíduo a viver de uma forma criativa ou destrutiva o seu lado pessoal/afetivo que amplia para o lado profissional.
Um encontro criativo, permite ao indivíduo se destacar também no profissional, já um encontro destrutivo leva o indivíduo a estabelecer profissionalmente uma estagnação. Carl Gustav Jung, analista, fazia menção ao indivíduo como um ser único e total, pois para Jung, o indivíduo é um todo, dessa forma, este individuo libera o mesmo campo energético tanto no aspecto pessoal/afetivo como no profissional. A nossa primeira escolha afetiva deveria ser a escolha por nós mesmos, pois, quando o indivíduo se conhece, ele tem ou deveria ter a condição de escolher o que almeja de melhor para si, nesta condição, este mesmo indivíduo, teria a oportunidade de fazer ou escolher parceiro(s)- parceira(s) mais criativos, com uma dinâmica mais saudável de vida.
Entendemos ou compreendemos por relacionamento amoroso o envolvimento de dois indivíduos que resolveram em comum acordo viver um envolvimento, uma aventura, ou até mesmo um caso. Quando, os dois indivíduos estão envolvidos, a priori é estabelecido um acordo no inconsciente e depois conscientemente; ou seja, como que a relação vai acontecer enquanto eles permanecem juntos. Como por exemplo, se a relação é aberta (é de comum acordo que o casal se relacione com outros indivíduos), se é fechada (o casal só se relaciona entre si, não existem outros parceiros), ou se é mista (o casal se permite a viver as duas opções acima, comunicando ao parceiro a entrada de uma outra pessoa).
O Encontro traz consigo a leveza da relação, pois, segundo Jung, quando os dois indivíduos se respeitam e respeitam as suas individualidades, não é necessário, ativar de uma forma destrutiva conteúdos que se encontram na sombra, como por exemplo, os ciúmes. No encontro, os indivíduos podem estabelecer uma comunicação sincera, trazendo aspectos ou situações que causam ou causaram algum incomodo, alguma inconveniência.
Desta forma, cada indivíduo é responsável por escolher aquela situação que melhor se adapte para ele (a) naquele momento, sem projetar no outro a responsabilidade destas escolhas que dizem respeito a sua vida como um todo. Uma das grandes diferenças entre Relacionamento Amoroso x Encontro Amoroso é o fato que o relacionamento traz a insegurança, a possessividade, o ciúme, a submissão, brigas, discussões e no extremo, agressões que quase sempre são relacionadas a violência física associada a violência psicológica. Podemos citar outra diferença entre as duas relações: no Relacionamento, cada indivíduo vive a vida do outro, é como se essas relações simbolicamente fossem traduzidas por relações simbióticas, pois, muitas vezes o indivíduo abre mão da sua vida, das suas escolhas para viver a vida do seu parceiro (a).
Um exemplo dessa relação: o indivíduo só irá ao cinema se o seu parceiro (a) o acompanhar, caso contrário ele (a) só poderá sair acompanhado pelos seus familiares. Esse tipo de relacionamento é acompanhado por manipulações, medos e receio de “ter ou fazer” algo de errado. Hoje em dia, o que acaba prevalecendo é o relacionamento, que ao meu ver é uma pena, pois com o relacionamento, ativamos também um outro aspecto tão sério que são as relações descartáveis.Essas relações permitem uma rotatividade muito grande da troca de parceiros, o que implica na falta de vínculo, de amadurecimento e respeito. Esses indivíduos muitas vezes não conseguem estabelecer para si-mesmos e para os outros a questão da maturidade, do quanto é necessário respeitar um tempo para que esta relação possa crescer, amadurecer e evoluir para o encontro amoroso.
Muitas vezes, esses indivíduos acreditam que todo esse processo de saber esperar, esperar esse tempo, acaba sendo uma perda de tempo, então é mais “fácil e rápido” trocar de parceiro(a). Quando esta situação acontece de alguma forma é como se o indivíduo fosse boicotando para si mesmo e para o outro o que existe de mais sagrado que é a possibilidade de viver a paixão, o amor dentro do encontro amoroso. Assim como Jung acreditava, também acredito que esta seja a única possibilidade de acontecer o encontro de duas almas dentro do encontro amoroso.
Texto por Alessandra Wainstein, terapeuta clínica junguiana. Encontre especialistas em terapia junguiana no Zenklub.