Você já parou para pensar no que lhe falta? Talvez muitos já o tenham feito, mas e as possibilidades que esse mesmo sentimento pode proporcionar, você já pensou nisso também? Quando a falta é necessária? O que é possível fazer quando se adoece, devido a esse sentimento insuportável?

É justamente pensando neste vazio tão poderoso e capaz de mudar o curso da existência de qualquer sujeito que convido, você leitor, à uma reflexão sobre o assunto. Refletir sobre o vazio que todos sentimos dentro de nós é necessariamente se permitir a um mergulho em questionamentos que poucos costumam fazer.

O vazio ou “falta”, como uma sensação de incompletude, pode gerar sofrimento e ao mesmo tempo servir como uma mola propulsora em busca do desconhecido e da satisfação de seus desejos que, guardadas as devidas proporções e também as características de suas escolhas, pode levar ao sucesso e satisfação antes impensados, já que a prevalência de sentimento era o próprio vazio. Vejamos como isso é possível.

Nas primeiras décadas do século XX, o psicanalista Sigmund Freud postulou a Teoria das Pulsões que, resumidamente, a partir do referencial psíquico, é o que nos diferencia dos animais e de todos os seres vivos existentes, já que estes seres agem, exclusivamente, guiados por um instinto de sobrevivência (ou você já viu algum animal cometendo suicídio?). Para tanto, adotou-se a idéia de escolha individual como ponto central dessa teoria, sendo algo possível de forma consciente ou inconsciente, apesar das interferências do mundo (social).

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Porém, não se trata de qualquer escolha, mas de possibilidades e investimentos em função da vida ou da morte. Esse referencial também (pulsão de vida/ pulsão de morte) tem em seu cerne a escolha como algo individual e de responsabilidade do próprio sujeito quando o mesmo escolhe ou opta por investir sua energia (libido) em função da vida ou em função da morte.

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Neste ponto, entenda vida e morte como construções de responsabilidade do sujeito que vão além do significado, propriamente dito, da palavra, mas a sua representação (simbólica ou não) que está impressa em todas as relações que o sujeito estabelece, a partir dele mesmo, com o mundo, com as pessoas e tudo o que tem nele.

Vejamos o exemplo daquelas pessoas que, por motivos específicos e individuais, escolhem (de forma consciente ou inconsciente) por se colocarem em diversas situações que deixam sua vida exposta a riscos de qualquer ordem ou intensidade, optando assim por uma destruição, desconstrução e geração de sofrimentos diversos (pulsão de morte) em que o único resultado possível é a não continuidade da vida, atentando contra ela mesma.

O oposto disso é justamente a pulsão de vida, como em sujeitos que optam pela não exposição a riscos, e ainda assim investem na construção de si mesmos como algo capaz de sustentar as adversidades do mundo e suas relações, como por exemplo, a prática de atividade física com foco na manutenção da saúde do corpo e da mente, sendo assim algo significativo de sua produção própria voltada para si mesma. Dessa forma, um dos resultados possíveis é a manutenção e continuidade da vida.

A pulsão como algo necessariamente de responsabilidade da escolha do próprio sujeito, seja em função da vida ou em função da morte (busca), tem aqui apenas dois caminhos para serem seguidos, seja de forma continuada ou não, como uma possibilidade de existência do sujeito. Dessa forma, podemos considerar que a diferença na vivencia da falta como algo possível e passível; de construções diversas (vida) ou desconstruções em nível patológico é algo do individuo, que pode imbuí-lo de mudança positivas ou negativas independente da intensidade ou natureza da falta, mas sim do uso que este sujeito pode fazer a partir dela.

Aquele sujeito que, diante das circunstancias da vida, ao se permitir sentir o vazio/ falta como uma oportunidade para a construção de novos caminhos que o levem onde deseja chegar, tem imbuído em si a pulsão de vida, como base de sua escolha e que supera a própria vivência e necessidade da falta, que pode ser utilizada apenas para fatos específicos ou como uma constância em sua existência. Um exemplo disso são aquelas pessoas que dificilmente esmorecem frente às dificuldades, adversidades, perdas, rompimentos, sejam eles passageiros ou não, e ainda assim são capazes de se reinventarem, mesmo que a tristeza e angústia se faça presente em algum momento. Esse exemplo é o que chamei, acima, de mola propulsora frente à vivência do vazio / falta, algo necessário à transformação em função da vida ou escolha por ela.

Já aquele sujeito que tem presente em sua estrutura psíquica a pulsão de morte, não terá a possibilidade de suportar as situações geradoras de sofrimento e até poderá tomar decisões que o coloque em situações que o leve a esse sofrimento e angustia. Assim como na pulsão de vida, a de morte também está para além do vazio vivenciado, ou seja, pouco importa a falta ou vazio que está diante do sujeito, pois ele a usará de forma destruidora do mesmo jeito, podendo até acelerar o processo autodestrutivo.

Então, você consegue perceber a diferença? Qual é sua escolha? Como qualquer coisa na vida, fazer escolhas não é algo tão simples assim, mas um dos pontos de partida para a “melhor” escolha é o autoconhecimento, respeito a si mesmo aos seus próprios limites e possibilidades. Portanto, um bom ponto de partida para dar conta de tanta complexidade é olhar para si.

Sobre o autor: 

Bruno Carneiro de Oliveira é psicólogo e psicanalista com 10 anos de experiência em atendimento clínico e atende por vídeo-chamada no Zenklub